Semana de 26 de maio a 01 de junho de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, a conjuntura econômica brasileira, como há
algum tempo já estamos anunciando, continua em má situação. O Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua reunião da quarta feira da
semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 11% ao ano. A decisão pela
manutenção já era esperada no mercado financeiro, o maior interessado. Continuamos
em primeiro lugar no ranking de maior taxa de juros real do mundo. A taxa, que
em outubro de 2012 era de 7,25%, sofreu desde então, aumentos consecutivos. O ciclo
de alta cessou, segundo o Banco Central, em virtude do fraco cenário
macroeconômico e das perspectivas futuras para a inflação, que, embora
continuem acima do centro da meta, mostraram arrefecimento.
O objetivo do governo é derrubar a inflação e, para isso,
usa o único instrumento de política monetária que parece conhecer. Os técnicos
do governo acreditam que os altos juros altos podem reduzir o crédito e o
dinheiro em circulação. As pessoas físicas e empresas tenderiam a diminuir o
consumo de bens e serviços, e com isto os preços deveriam cair. É, portanto,
objetivo deliberado do governo, diminuir o ritmo da atividade econômica.
Segundo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o ciclo de alta dos juros
ainda não surtiu em sua totalidade, o efeito desejado sobre inflação. Mas, como
era de se esperar, o resultado já foi sentido pela atividade econômica. Juros
altos, somados a uma crise mundial ainda não superada, presentearam-nos com
0,2% de crescimento do PIB, no primeiro trimestre do ano, quando comparado ao
último trimestre do ano passado. Segundo o IBGE, o consumo das famílias caiu
0,1% e os investimentos, 2,1%. A taxa de poupança diminuiu de 13,7% para 12,7%
e a produção industrial recuou 0,8%. Era tudo o que o governo queria! Mas, se
isto já era esperado pelo governo, porque o resultado é tratado com desânimo e surpresa?
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu que o
resultado ficou aquém do esperado, mas o governo pretende reverter o cenário apostando
no consumo, já que a inflação vai cair e as pessoas voltarão a comprar. Comprar
mais, segundo o próprio governo, não gera inflação? Como comprar mais se as
famílias estão endividadas? Segundo o Banco Central, os juros dos empréstimos
para pessoas físicas subiram em abril, pelo quarto mês consecutivo. Além disso,
uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo,
concluiu que a parcela média da renda das famílias correspondente às dívidas foi
de 30,9%, em maio. E 62,7% dos entrevistados afirmaram estar endividados,
frente a 62,3% registrados em abril.
Mas, estamos a sete dias da copa! Agora vai! Pelo menos é
isto que Mantega espera. Mais uma vez, a expectativa será frustrada. O cenário
que se desenha para a atividade econômica enquanto ocorrer o evento, é
desanimador. As operadoras de cartão de crédito e as operadoras de telefonia,
já anunciaram que os impactos produzidos pela Copa serão negativos, por causa
dos feriados decretados. A Electrolux e a Whirpool, produtoras de
eletrodomésticos, darão férias coletivas no período da Copa. O setor
automobilístico certamente não se recuperará, pois a venda de veículos, em maio,
não se recuperou e o setor registrou queda de 11%, quando comparado a abril. Além
dos números do setor automotivo, todos os indicadores de atividade já
divulgados para os meses que compõem o segundo trimestre, são piores do que
aqueles apresentados no primeiro trimestre. A Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp) detectou queda do nível de atividade industrial e o
Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged) também apurou números fracos
para o mercado de trabalho, com queda na taxa de ocupação.
Diante disso, as projeções de crescimento para 2014,
continuam a cair e passaram a oscilar entre 1% e 1,5%. Mantega continua a se
esquivar quanto à sua previsão. No início do ano, o ministro projetava um
crescimento de 2,5% e agora está sendo pressionado a assumir a queda para 2,3%.
Parece que não há saídas para a equipe econômica. Ou assume de fato, o seu
pibinho ou reformula o cálculo do PIB como fez o Reino Unido. Por lá as
atividades “produtivas” das prostitutas e dos traficantes de drogas, integrarão
o novo sistema de contas. Espera-se um impulso de 10 bilhões de libras
esterlinas, cifra que elevará o PIB em até 5%.
Fica a sugestão ao ministro Mantega. Quem sabe assim a
nossa riqueza cresce!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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