Semana de 02 a 08 de junho de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Que relação existirá
entre juros e inflação? Que segredos estão escondidos quando se estabelece esta
relação?
A ideologia econômica
oficial, ensinada nas universidades e praticada fanaticamente pelos economistas
e analistas econômicos, concebeu esta espúria relação que passou a ser
considerada como uma verdade eterna e imutável. Qualquer aprendiz de economia
ou de jornalismo econômico sabe que, para controlar a inflação, manipula-se a
taxa de juros. Quando a inflação se acelera deve-se elevar as taxas e quando a
inflação desacelera, deve-se reduzi-las. Este mecanismo opera através da ação
dos bancos centrais (BCs) de todos os países que estabelecem as chamadas taxas
básicas. No caso do Brasil esta taxa é a Selic e quem a manipula é o Conselho
de Política Monetária (Copom), órgão do BC.
Há cerca de duas semanas
o Copom, em sua reunião ordinária resolveu manter a Selic em 11%. Lembremos
que, em reuniões sucessivas, e durante quase um ano, o Copom subiu a Selic em
3,75 pontos até atingir os 11% atuais. A decisão do Copom significa uma pausa
no chamado aperto monetário, que vinha sendo imposto ao país, a pretexto de
combater a inflação. A ata da reunião divulgada esta semana dá as explicações
para a interrupção: a desaceleração da inflação, a queda da produção industrial
e da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o ambiente externo
adverso, ou seja, a situação econômica está se agravando.
Mas, não era exatamente
isto o que se pretendia? Então, por que a surpresa?
O BC e o governo deveriam
estar festejando o sucesso de sua política: a desaceleração da economia e o aumento
do desemprego. No entanto, às vésperas das eleições, ninguém se atreve a
assumir a responsabilidade por estas consequências.
Qual é então o lixo
debaixo do tapete?
Os acadêmicos fazem
bonitos discursos sobre diferentes teorias explicativas da inflação, mas na
política econômica, só conhecem uma: a lei da oferta e da procura. Os preços
sobem porque a demanda é maior do que a oferta, logo, contra a elevação dos
preços é necessário reprimir a demanda e para isto os juros são o único remédio
na farmácia da teoria neoclássica. A elevação dos juros desestimula os
financiamentos ao consumo e aos investimentos e com isso esfria-se a economia.
É o que está ocorrendo.
O desesperador é que,
apesar de estarem sendo praticadas as taxas de juros mais altas do mundo, a inflação
apenas reduziu os seus ritmos, mas continua perto do teto da meta, ou seja,
6.5%.
Os arautos da ideologia
econômica oficial estão desesperados. O emérito professor e ex-ministro Delfim
Netto, depois de afirmar que a desaceleração da economia “não surpreendeu
ninguém, nem ao governo”, admitiu “o que causa estranheza, no entanto, é a
resistência da inflação”. A jornalista do Valor Econômico Claudia Safatle,
depois de citar o ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo, que reconhece que
“já estamos em recessão”, e admitir a estimativa para o crescimento do PIB do
ano abaixo de 1%, afirma: “É difícil entender como a inflação resiste no
patamar de 6% com uma economia tão fraca, assim como as expectativas de
inflação para o futuro também não cedem”.
A teoria econômica
oficial, fiel aos seus dogmas, está mais uma vez encurralada. E o pior é que
tem a memória fraca. Ninguém se lembra do fenômeno da “estagflação” que atingiu
o Brasil no início dos anos 60 e o resto do mundo nos anos 70.
Mas, se o sufoco, por
aqui, é o dragão da inflação, no resto do mundo, é o ogro da deflação. Na União
Europeia, o BCE, embora resistindo em lançar o seu Quantitative Easing (QE),
adotou medidas para elevar a inflação para 2%. O novo pacote do BCE inclui
emissão inicial de €400 bilhões, taxas de juros negativas e punição com taxa de
0,1% aos bancos que depositarem suas reservas no BCE, além de estímulos aos
bancos que ampliarem seus financiamentos.
Mesmo sem qualquer resultado
a teoria se mantém a mesma: cá, aumentam os juros para combater a inflação; lá os
reduzem para aumentá-la.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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