Semana de 21 a 27 de julho
de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, muitos argumentos foram utilizados nos
últimos anos para justificar o aquecimento do mercado de força de trabalho,
durante o período de crise econômica. O principal deles repousa sobre o
crescimento do setor de serviços, que segundo os analistas, ganha espaço na
economia brasileira e utiliza muita mão de obra.
Outro argumento
está associado à taxa de crescimento populacional, que vem caindo sensivelmente
nos últimos 20 anos. Esta mudança faz com que a População em Idade Ativa (PIA),
composta por indivíduos entre 15 e 60 anos, apresente crescimento lento, o que
reduz a oferta de força de trabalho. Até o surgimento de uma nova geração, a
nem-nem (que nem trabalha, nem estuda principalmente porque caiu no desalento) acabou
contribuindo para explicar o porquê do fenômeno.
Características
atípicas para uma economia em crise perduraram por algum tempo, como por exemplo,
o baixo desemprego e rendimento em alta.
Estes
debates estão sendo substituídos gradativamente. Quando todos continuam à
espera da fase de recuperação econômica, eis que somos chamados à realidade. O
crescimento econômico brasileiro novamente será pífio e desta vez arrastará o
emprego consigo.
As
previsões foram revisadas para baixo. O Ministério do Planejamento, em seu relatório
bimestral de avaliação das receitas e despesas primárias, reduziu a expectativa
de expansão do PIB de 2,5% para 1,8%, neste ano. Além do baixo crescimento, a
arrecadação será menor e a inflação mais alta (sem extrapolar o teto da meta). O
FMI também reviu sua previsão. Segundo o órgão, o Brasil crescerá apenas 1,3%,
este ano, ao invés de 1,8% da previsão anterior. Já o Boletim Focus do Banco
Central apurou um resultado menos otimista e concluiu esta semana, que a
economia crescerá apenas 0,97%.
A todo
o momento surgem notícias desanimadoras. A indústria não apresenta sinais de
recuperação e a projeção de queda da atividade setorial torna-se cada vez mais
real. As previsões dão conta de que o setor cairá entre 1 e 1,5% este ano.
Sob a
chantagem de proteção ao emprego dos trabalhadores, o setor automobilístico
agora quer que o governo, além das várias medidas já implantadas, ajude a
baratear seus custos, com a criação de linhas de financiamento para
modernização de fábricas de autopeças, estímulo à produção nacional de itens
que atualmente são hoje importados, novas desonerações sobre insumos e alíquotas
de importação menores para matérias-primas.
Mesmo
que o governo ceda a mais esta chantagem, na tentativa de salvar a economia,
gostaríamos de lembrar que insiste em matá-la, mantendo os juros altos.
Ao que
parece, o inevitável vai acontecer: o aumento do desemprego.
Alguns
sinais já foram dados. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), houve, no segundo trimestre, um esfriamento das
contratações de trabalhadores com carteira assinada. O salário médio real dos
entrantes no mercado formal aumentou em 1,2%, mas foi metade do observado no
primeiro trimestre.
A
greve do IBGE, entre os funcionários de Salvador e Porto Alegre, apenas permitiu
que dados parciais da PME (Pesquisa Mensal de Emprego), referentes ao mês de
junho, fossem divulgados. A taxa de desemprego ficou estável em São Paulo,
quando comparada ao mês de maio, em 5,1%. Esta é a tendência esperada para a
média do país já que a região representa um peso de 44% da amostra da pesquisa.
Por
trás dos dados parciais, esconde-se o fato de que a ocupação se sustentou por
meio do avanço do emprego precário. Em junho, comparado ao mês anterior, foram
fechados, nas quatro regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro e Recife), 55 mil empregos com carteira assinada. Ao
mesmo tempo foram geradas 28 mil vagas sem carteira assinada e mais 34 mil
vagas na ocupação por conta própria. O trabalho doméstico também cresceu, pois
foram criadas 40 mil vagas em casas de família. A indústria fechou 88 mil
postos de trabalho. O rendimento médio real caiu. A queda foi de 1% no Recife,
de 0,5% no Rio de Janeiro, de 1,6% em São Paulo e de 2,2% em Belo Horizonte.
Diante
destes resultados, embora parciais, só é possível concluir que maus horizontes
desenham-se para o Brasil.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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