Semana de 14 a 20 de julho de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
“Estamos numa fase de
baixa do ciclo econômico, mas vamos entrar em outra fase e temos de nos
preparar”. Estas são as declarações da presidente Dilma em uma entrevista
concedida à TV Al Jazeera, na semana passada. Pelo menos desta vez a presidente
demonstrou algum conhecimento de teoria econômica que, infelizmente, se esgotou
na frase seguinte: “Se não surgir pro resto do mundo, eu te asseguro que vai
surgir para o Brasil”.
Parece que o otimismo do
ministro Mantega está contaminando a presidente. Já temos repetido nesta coluna
que, desde que o ciclo tornou-se sincronizado a nível mundial, o que se
consolidou com a globalização, os destinos de todos os países estão ligados
principalmente quando o trem desce a ladeira. Seria mais importante se a
presidente e sua equipe explicassem por que, quando os outros já estão estabilizando
suas economias (lentamente e a duras penas), nós continuamos a caminho do fundo
do poço, embora a ritmos mais moderados.
As notícias da semana
confirmam o quadro pessimista. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central
(IBC-BR), de maio, mostrou que a economia ficou estagnada nos dois primeiros
meses do segundo trimestre, o que aponta para dois trimestres seguidos de queda
no crescimento da economia. Em maio, em relação a abril, a queda foi de 0,18%.
O Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), no seu Boletim Macro, de julho,
calcula que o valor adicionado da indústria de transformação terá uma queda de
1% no ano, o que obriga a uma revisão para o crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) de 1,6% para 1%. O Boletim Focus do BC também revisou suas
projeções, reduzindo para 1,05% o crescimento do PIB, em 2014, enquanto elevou
as estimativas do IPCA (que mede a inflação), de 6,48% para 6,51%.
Não é por acaso que esta
desaceleração já começa a agravar os dados do emprego. Segundo o Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados (Caged), a indústria demitiu 28,5 mil
trabalhadores, no mês de junho, situação semelhante à de maio. Isto era
esperado, pois a produção já acumulava, de janeiro a maio, uma queda de 1,6%.
Empresas de consultoria como a LCA Consultores estimam que foram fechadas 74,5
mil vagas na indústria em todo o ano. No segundo trimestre foram eliminadas
59,6 mil vagas.
Estes dados ainda não
mostram toda a gravidade da situação. Entre janeiro e maio o número de
operários em “layoff” já ultrapassava o total acumulado de 2013, atingindo
7.514. Por esse sistema os trabalhadores ficam sem trabalho de 2 a 5 meses e
recebem uma “bolsa-qualificação” que chega a R$1.304,65, tendo o resto do
salário complementado pela empresa. Só no setor automotivo do ABC paulista há
1.300 metalúrgicos neste sistema. Mas há inúmeros outros exemplos. A Volkswagen
em São José dos Pinhais (PR) afastou 400 operários e em São Carlos mais 70. A
Eletrolux afastou 120 trabalhadores e a Smalte, outros 40. Todos em sistema de
layoff. E o fenômeno se espalha para outras regiões do país.
A queda da produção e as
desonerações dadas pelo governo estão comprometendo a arrecadação que continua
baixa, o que está obrigando a criação de “receitas extraordinárias” para
atingir a meta de R$80,8 bilhões de superávit primário ou recorrer a outras
manobras contábeis, na tentativa de enganar o “mercado”. Este quadro esteve por
trás da decisão do Copom que resolveu manter a taxa Selic em 11% em sua última
reunião, com a desculpa de que, apesar de tudo, a inflação vem apresentando uma
“trajetória de convergência para a meta”.
O pior é que o horizonte
internacional continua nublado com a indústria da União Europeia caindo 1,1%,
entre abril e maio, com a ameaça de estouro do Banco Espírito Santo SA de
Portugal, com o anúncio de demissão de 18.000 empregados da Microsoft, com o
Banco Central Europeu (BCE) preocupado com os ativos podres dos bancos
europeus, etc.
Será que estamos diante
de mais uma marolinha?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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