Semana de 11 a 17 de agosto de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A morte de Eduardo Campos
não foi apenas uma tragédia terrível do ponto de vista familiar, mas
representou um terremoto nos comitês das campanhas para presidente. O assunto
ocupou todas as manchetes dos órgãos de comunicação a partir da quarta-feira da
semana passada.
Não há como não
prestarmos toda a nossa solidariedade aos familiares das vítimas,
independentemente da opinião que possamos ter sobre a posição política que
representavam. Foi uma grande perda para o país.
As consequências não são
apenas ao nível dos sentimentos humanos, pessoais e familiares, mas ao nível
político e econômico. As pesquisas de opinião já mostram um novo panorama na
distribuição das intenções de voto. A possível candidata Marina saltou para a
segunda colocação e, em um segundo turno, ganharia da Dilma. Vamos deixar a
poeira baixar e ver se esta tendência se confirmará.
Na economia, a
inquietação também se manifesta. O “mercado” especula nervoso e comentaristas
transformam esta inquietação em pontos na bolsa de valores. Com Dilma ganhando,
a bolsa cai para 40 mil pontos. A vitória de Aécio elevaria a bolsa para 70 mil
pontos e com Marina, o resultado seria a manutenção do nível atual de 50 a 55
mil pontos. Como os leitores sabem, o famigerado “mercado” é o eufemismo usado
para disfarçar o que há de mais podre no nosso sistema, ou seja, os fundos
abutres, os especuladores, os parasitas que vivem de sugar as riquezas do país
através de atividades financeiras que não criam nenhuma riqueza.
Esta avaliação do
“mercado” é um bom indicador para a recomendação de voto. Se não temos ainda
certeza de quem merece o nosso voto, por oposição, poderemos ter a certeza de
quem não o merece.
O que agrava a situação
da candidata Dilma é o desgaste do poder. A situação do país continua a
deteriorar-se com a queda da produção industrial, do Produto Interno Bruto
(PIB) e das vendas. O Banco Central (BC) publicou o Índice de Atividade
Econômica do Banco Central (IBC-Br) que mostrou uma queda da atividade
econômica, de 1,2% no segundo trimestre, em relação ao primeiro. Entre maio e
junho a queda foi de 1,48%. O Boletim Focus, também do BC, mostrou uma nova
correção para baixo, dos prognósticos de crescimento do PIB, em 2014. As
previsões foram corrigidas de 1,63% para 0,81%, diante de uma produção
industrial em retração, a cadeia automotiva em queda e o comércio em
desaceleração. Com efeito, a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, para junho,
mostrou uma queda de 3,06%, no segundo trimestre, em relação ao primeiro. É o
pior trimestre desde 2008, ano de impacto da crise que abalou a economia
mundial.
Outros indicadores
setoriais apontam na mesma direção. O Instituto Aço Brasil (Iabr) que
representa a indústria siderúrgica, denunciou a ociosidade do setor acima da
média e estimou em 2,5% a queda na produção de aço bruto e em 4,1% a queda no
consumo no país, em relação a 2013. Benjamim Steinbruch, presidente interino da
Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e presidente da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) denunciou a situação “inédita de risco de recessão
econômica” no Brasil. Ele estimou em 25% a 30% o recuo dos negócios na
indústria e a iminência do desemprego. Em São Paulo, a Pesquisa do Nível de
Emprego na Indústria paulista, divulgada pela Fiesp registrou uma queda no
emprego de 0,7%, em julho, em relação a junho, o que representa 15,5 mil postos
de trabalho a menos. O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos
Econômicos da Fiesp afirmou que, até o final do ano “O panorama de emprego ainda
vai se acentuar para pior”.
E não se pode esperar
nenhum impulso externo. A economia mundial continua em dificuldades amargando a
decepção das vendas no varejo nos EUA, a queda de 0,3% na produção industrial
na zona do euro, em junho, o crescimento zero do PIB desta zona, no segundo
trimestre em relação ao primeiro, a queda de 0,2% da economia da Alemanha,
também no segundo trimestre, a entrada na terceira recessão da Itália e a
estagnação da França.
Há outras ameaças de
terremotos para a candidatura Dilma!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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