Semana de 22 a 28 de setembro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Quem quer que seja o
vencedor do pleito que se aproxima terá de enfrentar grandes dificuldades, pois
a herança a receber não será das melhores diante do agravamento da situação das
economias mundial e nacional.
Internacionalmente, a
única esperança que surge é a recuperação americana, embora isto represente
dificuldades para os emergentes, submersos pela atual enxurrada dos capitais
especulativos. O momento de terror terá início com a elevação das taxas de
juros pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, que vem sendo
prometida para 2015, mas poderá ser iniciada antes. O Fundo Monetário
Internacional (FMI) já alertou o mundo para o perigo de que, a aversão global
ao risco (uma vez restaurada a confiança na recuperação do gigante), poderá
provocar um “aperto nas condições financeiras globais, a reversão nos fluxos do
capital, pressões sobre a taxa de câmbio em mercados emergentes e efeitos
negativos nos preços das ações”.
O temor já levou a
discussão para o G-20 visando criar uma rede de proteção (swapes) de moeda para
garantir a liquidez nos mercados.
O Japão continua a sua
loucura de entupir o mundo de yenes na tentativa de atingir a meta de 2% de
inflação. A continuação da desaceleração na China vem derrubando os preços mundiais
dos metais e particularmente do minério de ferro cuja cotação caiu abaixo de
US$ 80 a tonelada. A situação já se reflete na possibilidade da demissão do
presidente do BC da China, Zhou Xiaochuan.
O agravamento da situação
internacional levou o FMI a declarar que os países emergentes estão sofrendo
“uma desaceleração ampla e sem precedentes” o que representa uma mudança do
padrão e uma ameaça à economia mundial.
Na Índia o premiê Narenda
Modi partiu para o ataque, acompanhado por ricos empresários indianos. Saiu em
campo com uma campanha para atrair os “investidores” oferecendo as vantagens do
país: uma população faminta de 1,2 bilhão de habitantes, uma massa de 13
milhões de jovens que chegam desesperados ao mercado de trabalho anualmente, a
redução da burocracia, facilidades tributárias, investimentos em
infraestrutura, etc. Tudo para tornar a Índia “um país mais amigável aos
investidores”, ou seja, a “próxima grande economia mundial de mão de obra
barata”.
Este é o verdadeiro
capitalismo da atualidade. Cada governo oferece o seu povo à sanha voraz da
acumulação capitalista.
Neste ambiente, por
malícia ou ignorância, a oposição aproveita-se para apontar como bode
expiatório, a presidente Dilma, a grande responsável por todos os males. E no
embalo, pretende fritar na manteiga o ministro Mantega (aliás, já está na
frigideira).
Não resta dúvida que a
situação do Brasil vem se degradando rapidamente e a semana é rica em
acontecimentos. Dados mostram a queda na produção, o aumento da ociosidade da
capacidade instalada, a formação de estoques, o aumento do desemprego, da
inadimplência das famílias, a redução do consumo e, apesar de tudo isto, a
inflação continua a aumentar, coisa que ninguém consegue entender e explicar.
A política econômica anticíclica
do governo parece que atingiu seu ponto de esgotamento, sabotada pela estupidez
do Banco Central com as elevações consecutivas da taxa Selic, até os 11%
atuais. O mais preocupante é que, em relação ao setor industrial, assistimos a
continuação do processo de desindustrialização, herança perversa do plano real
que ninguém lembra nem quer admitir.
A presente situação é
complexa e difícil de ser enfrentada por qualquer candidato vencedor.
Certamente será muito agravada com a vitória da oposição se ela cumprir o que
vem prometendo: entregar o BC aos banqueiros, restaurar o “tripé
macroeconômico”, elevar os juros para combater a inflação, aumentar a austeridade
fiscal, reduzir os programas sociais, deter o crescimento dos salários, etc.
Se temos dúvidas quanto
aos eleitos e se eles cumprirão as promessas feitas, não temos nenhuma dúvida
sobre quem vai cobrar a fatura dos benefícios. O jornal Valor Econômico fez um
estudo sobre os 41 grupos econômicos de capital aberto que contribuíram com R$
325 milhões para as campanhas eleitorais dos vários candidatos. Os 10 maiores
doadores contribuíram com R$ 302 milhões, ou seja, 93% do total. A JBS sozinha
doou R$ 113 milhões. Dos 10 consultados só o banco Itaú respondeu ao
questionário enviado. Os demais se omitiram com diferentes desculpas ou nada
responderam. O segundo maior doador foi a Vale, com o desembolso de R$ 50,3
milhões, seguido pela Ambev, com R$ 44,2 milhões e o Bradesco com R$ 29,06
milhões. Outros doadores foram o BTG Pactual com R$ 16,4 milhões, o Itaú, com
R$ 12,78 milhões, a Odebrecht com R$ 12 milhões, a BRF com R$ 5 milhões, a
Cosan e a MRV Engenharia.
Isto é que é consciência
política! Viva a democracia!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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