Semana de 29 de setembro a 05
de outubro de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
No momento em que país vivencia a euforia de eleger seus
representantes, a economia mundial entra no sexto ano de crise, sem qualquer
perspectiva de recuperação. Os sinais dados pelas estatísticas do segundo
semestre são cada vez piores. O crescimento da produção industrial da zona do
euro desacelerou em setembro. O índice dos gerentes de compras calculado pela
Consultoria Markit caiu em toda a região, inclusive na Alemanha. O fraco
desempenho das vendas está provocando uma queda ainda maior da inflação,
aumentando a preocupação das autoridades com a deflação.
A
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde,
declarou um tom de luto que a recuperação mundial é mais fraca comparada à que se
esperava há um semestre. A lentíssima reanimação associada às baixas taxas de
crescimento caracteriza um período intitulado pela instituição como um “novo
medíocre”.
No Brasil, o cenário acompanha a trajetória mundial. Em
julho, a atividade industrial, segundo a Confederação Nacional da Indústria
(CNI), recuou pela segunda vez consecutiva. Neste mês, a utilização da
capacidade instalada industrial caiu para 79,5% e as vendas recuaram 0,33%.
Embora a massa salarial tenha aumentado 0,34%, os responsáveis pela pesquisa
frisam que isto foi consequência das férias coletivas conferidas por muitas
empresas. A desaceleração é clara quando se observa a evolução dos indicadores
mensais, mas o saldo para o setor ainda é positivo: as vendas cresceram 15,78%,
as horas trabalhadas 3,55%, o pessoal empregado subiu 2% e a massa salarial cresceu
2,93%. Outro indicador da desaceleração industrial foi a queda do consumo de
energia elétrica, já em agosto, segundo a CNI. O recuo foi de 5,1% comparado a
agosto do ano passado. Tais resultados indicam que, se houver um crescimento no
terceiro trimestre do ano, este será muito fraco e insuficiente para suplantar
os maus resultados dos trimestres anteriores.
Para o
governo não resta alternativa a não ser tentar estimular o setor produtivo.
Segundo o Ministério da Fazenda, após as eleições, serão anunciados novos
benefícios para o setor de bens de capital. A estratégia é provocar a renovação
do parque produtivo visando o aumento do nível de investimento interno. A depreciação
acelerada dos bens de capital é uma das medidas que comporão o documento. Ao
comprar máquinas e equipamentos, os empresários poderão abater parte dos custos
e pagar menos tributos vinculados ao lucro. Faltou um pequeno detalhe: combinar
com o empresariado, que, obviamente, não investirá em época de crise.
Além
disso, o Copom já avisou que se o cenário inflacionário piorar, o ciclo de alta
da taxa de juros será retomado. Todos sabem que o aumento dos juros desestimula
os investimentos e comprime o consumo. Como se espera reduzir os impactos da
crise quando se tomam medidas completamente opostas?
Diante
do fraco desempenho econômico, também o Banco Central Europeu (BCE) vem intervindo
na economia, com um pacote de bondades através da compra de títulos em torno de
um trilhão de euros. Mas o “ser supremo” que rege a economia mundial, o
“mercado”, não ficou satisfeito com as declarações do presidente do BCE, Mario
Draghi, que não deixou claro se a cifra será esta mesma. Os “investidores”,
tanto lá como cá, querem saber exatamente o quanto irão ganhar com cada pacote
e quando as autoridades titubeiam em seus discursos ou não deixam as regras tão
claras, o “mercado” logo lança seu pronto discurso de que há entraves na
comunicação.
Por
aqui, é a corrida eleitoral que está “desfavorecendo” os ganhos do mercado
financeiro. A recuperação da candidata à presidência Dilma Roussef, na última
semana antes da eleição, devolveu toda a “marinada” acontecida em agosto. À
medida que as pesquisas mostram um fortalecimento da reeleição de Dilma, as
“incertezas macroeconômicas” que envolvem a sua nova gestão, acabam por
dificultar as previsões de lucro dos “investidores”. Não há como não se indignar
diante das prontas exigências do “honorável mercado”.
Além
dos esforços para driblar a crise os países têm de prestar contas aos vampiros do
capital financeiro. E se os tempos são de crise e eleições, não é difícil
imaginar quem serão os ganhadores e os perdedores.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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