Semana de 13 a 19 de outubro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Parece que a única pessoa
que acredita que a crise econômica mundial acabou é o Armínio Fraga, candidato
a ministro em uma eventual vitória do Aécio Neves. Aliás, ele perdeu uma ótima
oportunidade de ficar calado na entrevista na TV Globo, quando debateu com o
Guido Mantega e afirmou que a crise, iniciada em 2008, terminou em 2009. E não
foi apenas esta mancada. Ele representou muito bem o papel de saco vazio, ou
seja, não tinha nenhuma proposta para enfrentar a difícil situação que o país
atravessa. Reprisou apenas o chavão da necessidade da “mudança” para lugar
nenhum, ou melhor, para trás, prometendo a restauração do tripé macroeconômico
e a famigerada “independência” do Banco Central (BC), o que significa
entregá-lo aos banqueiros.
Restaurar o tripé macroeconômico
significa aumentar a austeridade fiscal, com elevação do superávit fiscal para
pagar os juros da dívida; permitir a flutuação livre do câmbio e aumentar o
controle da inflação através do aumento das taxas de juros, além de reduzir a
meta para abaixo dos atuais 4,5%. Resumindo, isto significa política de
austeridade que, com exceção da Ângela Merkel, primeira ministra da Alemanha, é
condenada até pelas grandes organizações internacionais consideradas
conservadoras como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial,
Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mesmo os bancos centrais de países como EUA,
União Europeia, Japão, China, Suíça, etc., rejeitam estas políticas.
Todas estas organizações
reconhecem a situação de impasse em que se encontra a economia mundial que é
caracterizada pela desaceleração das economias emergentes e da China, em
particular; pelo pessimismo com a recuperação dos EUA e o temor da
possibilidade da elevação dos juros pelo Fed (BC americano), diante da ameaça
de deflação; pela queda no mercado mundial e nos preços das commodities, até
mesmo o petróleo; pela estagnação da União Europeia com ameaça de deflação na
zona do Euro e no Japão.
Por mais desagradável que
seja esta situação, é assim que se encontra a economia mundial, em uma
“pasmaceira global”, o que é reconhecido por todos menos pelo sábio candidato a
Ministro da Fazenda do Aécio.
Neste quadro se insere a
economia brasileira, pois com o processo de globalização vigente, estamos
indissoluvelmente ligados ao resto do mundo. Serve de agravante o estado de
dependência em que se encontra a nossa economia, reduzida para a condição de um
país primário exportador, situação em que estávamos nos idos dos anos 50, e pela
política de abertura implantada pelo governo FHC, com o seu Plano Real, tão
elogiado por todos, mas que empurrou o país para trás. E não podemos eximir de
culpa os governos do PT por terem continuado as mesmas políticas e impulsionado
o processo de desindustrialização da nossa economia.
Hoje dependemos da meia
dúzia de commodities para amealhar míseros dólares que precisamos guardar para
pagar os juros de uma dívida sem história e que todos sabem que é impagável,
pois os próprios credores não a querem receber. Com o excesso de liquidez
internacional, eles não encontrariam nenhum outro negócio para aplicar o
dinheiro recebido com rendimentos tão elevados como os que nós pagamos.
Como já alertamos em
Análises anteriores, a situação da economia do país é muito crítica e temos
feito nesta coluna duras críticas à política econômica praticada pelos governos
PT. Mas, as nossas críticas são feitas pela esquerda, diante da tosca e
inconsequente política Keynesiana praticada pelo governo para enfrentar a crise
que, apesar de tudo, tem produzido alguns efeitos, principalmente graças aos
programas de distribuição de renda, de elevação do salário mínimo, de aumento
dos financiamentos ao consumo, etc. Estas políticas, sabotadas pela ação do BC,
que teima em combater a inflação com o aumento dos juros (tratamento aspirina),
não têm sido suficientes para reverter a situação atual de aumento do
desemprego, queda da produção industrial, queda nas vendas e no consumo, desaceleração
no setor imobiliário, etc.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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