Semana de 20 a 26 de outubro
de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Após
meses de disputa acirrada, em meio a poucas propostas, alguns debates, muitos escândalos
e autoacusações entre os candidatos à presidência da República, finalmente a
corrida eleitoral acabou. A presidente Dilma foi reeleita para mais um mandato
de quatro anos. O embate deixou claro que é impossível que ela se desvencilhe
do mito “Lula”, pois segundo a opinião da maioria, em meio a todos os
contratempos, foi ele quem, no passado, conseguiu combater a inflação, domou a
“insegurança” dos mercados e enfrentou bem o início da crise.
Lula,
afinal, foi um homem de sorte. Presidiu o país nos tempos das vacas gordas.
Quando a atual presidente
foi eleita para o seu primeiro mandato, revelamos nesta coluna, a herança
“maldita” que o governo anterior deixava: dívida pública elevada e cara, inflação
em alta, desaceleração econômica, ameaça de desindustrialização, redução do
saldo da balança comercial, entre outros. E não é difícil listar agora os
problemas intrínsecos a uma nova herança, que se transfere para o próximo
mandato, ligados às dificuldades econômicas atuais, tanto internas, quanto
externas.
Estes
são os números da reeleição: Dilma Rousseff obteve 51,64% dos votos e Aécio
Neves, 48,36%. Foi uma diferença de 3,4 milhões de votos. Comparada aos
resultados dos pleitos anteriores, esta diferença de votos foi bastante
pequena. Tal fato gerou a impressão de que o país está dividido e a presidente é
coagida a ser mais específica em relação às ações que tomará em seu novo
governo. Embora o cenário econômico pareça não ter sido tão decisivo para o
resultado das eleições (afinal de contas, para a maioria da população, termos
como “independência do Banco Central”, “superávit primário”, “dívida pública”,
“câmbio flexível”, parecem distantes da realidade), obviamente, há uma grande
pressão para que o governo divulgue de imediato, quem comporá a sua nova equipe
econômica.
No
início da manhã do dia 27 de outubro, aproximadamente 15 horas depois do
resultado oficial das eleições ter sido divulgado, um dos noticiários do país constatava:
“Após reeleição de Dilma, Bovespa tem forte queda de 5,94% e dólar vai a R$
2,542. Bolsa de Valores de São Paulo opera com 48.857 pontos. Na abertura dos
negócios, dólar chegou a disparar 4%...” E mais: “Dilma terá que reconquistar
investidores e consumidores, analisa Instituto Internacional de Finanças. Entidade
sugere que o Planalto adote uma política fiscal mais dura. A entidade também
recomenda que o Banco Central do país seja mais independente para conduzir a
política monetária.” A guerra então, está declarada.
Enquanto
o noticiário diário passa a ilusão de que é o setor financeiro quem dita todos
os rumos da economia, a maioria dos economistas partilha da visão de que, para
recuperar o crescimento econômico real (ou seria a credibilidade?), é necessário
adotar medidas muito mais austeras de política fiscal para garantir não apenas
o equilíbrio, mas o pagamento certinho dos nossos credores, garantir o livre
câmbio e manter o combate à inflação de demanda via aumento dos juros, imediatamente!
Quem em sã consciência acredita que estas medidas produzirão o crescimento
econômico no futuro?
Já
respondo. Uma enquete realizada com economistas das melhores universidades do
país mostrava antes da eleição, que 65,5% declararam voto em Aécio e 23,8% em
Dilma. O resultado não surpreende. Afinal de contas, há muito tempo, o
pensamento econômico é quase que totalmente dominado pela crença de que, se
deixada livre, a economia “tende” a recompor o equilíbrio automaticamente, uma
consequência natural do livre mercado. E esta é a visão que predomina na grande
maioria das escolas de Economia. O pensamento econômico é praticamente
monopólio deste grupo, denominado de ortodoxos. Aos heterodoxos cabe à visão
oposta: a de que o sistema econômico não tende naturalmente ao equilíbrio sendo
necessária a participação do governo que ajudaria a alavancar o crescimento
econômico. A condução dos rumos da economia será determinada por uma, ou
provavelmente por um monstrengo formado pela coalizão destas duas visões.
Enquanto
no próximo ano, possivelmente o mundo seguirá na pasmaceira, o governo
continuará a usar as mesmas medidas de política econômica, que, como já nos
referimos em análises anteriores, acertam ora no cravo, ora na ferradura.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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