Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2015
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
O
clima festivo do carnaval trouxe ao governo um pouco de sossego. Pelo menos por
alguns dias as atenções encontram-se voltadas para a folia, enquanto que os
resultados econômicos do ano passado ainda trazem uma melancólica atmosfera de
fim de festa. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que
atua como sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), encerrou o ano de 2014
com queda de 0,15%, em comparação com 2013. Na indústria, os indicadores de
emprego mostram o ano passado como o pior desde 2009. A ocupação cedeu 3,2%, as
horas pagas caíram 3,9% e a folha de pagamento real recuou 1,1%.
Para o presente ano, as estimativas dos analistas estão
se deteriorando rapidamente. O boletim Focus, do Banco Central, que previa, no
fim de dezembro, uma alta de 0,76% do PIB para 2015, atualmente, aponta estagnação
da economia. A previsão de inflação saltou de 6,5% para 7,15%. O
economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, descreve o corrente ano como
o da “trindade impossível”. Para ele, o ajuste fiscal deverá ser mais expansivo
do que o antecipado, o Executivo precisa ter apoio político para realizar os
ajustes necessários na política fiscal e trazer a inflação para o centro da
meta.
Para o economista Caio Megale, o governo precisa que
todas as medidas sejam aprovadas pelo Congresso sem que sofram alteração, e
ainda serão necessários outros impostos. Pelos cálculos do Itaú, os ajustes
feitos garantem um superávit primário de apenas 1%. Não é por acaso que um novo
pacote para economizar mais R$ 10 bilhões virá até março. De acordo com o
ministro do Trabalho, Manoel Dias, serão tomadas medidas na fiscalização nas
empresas, redução do gasto com a saúde do trabalho e a formalização de 500 mil
trabalhadores.
Vale ressaltar a visão do professor de economia da
PUC-SP, Ladislau Dowbor, que, em entrevista à revista Carta Capital, evidenciou o seguinte: “a visão geral que os
desequilíbrios e os entraves ao crescimento se devem a excessivos gastos
públicos constitui postura ideológica sem base técnica coerente”. O professor
continua afirmando que “o desafio está na redução dos juros, que travam tanto a
demanda como os investimentos”. Pelo menos um país, aparentemente, já se
rebelou contra programa de austeridade fiscal que lhe foi imposto.
O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, reafirmou
ao Parlamento suas promessas: fim do programa econômico da Troika (Fundo
Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), refeições
e eletricidade de graça para os que não puderem pagar, recontratação de funcionários
demitidos e aumento gradual do salário mínimo. Essa postura é apoiada por 67%
dos gregos. No entanto, a Alemanha continua feroz opositora. Juntam-se ao coro,
os governos português, espanhol e irlandês, temendo que seus eleitores possam
ser encorajados a copiar o exemplo helênico.
No campo político, a cada dia, novos depoimentos dos
envolvidos na operação Lava-Jato complicam ainda mais a situação do Partido dos
Trabalhadores (PT) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, impõe derrotas
sucessivas ao governo. Entretanto, pelo menos até agora, o impacto não foi
realmente sentido pelo Planalto. A aprovação do orçamento impositivo, obrigação
que o governo execute as emendas individuais de senadores e deputados ao
Orçamento da União, pode sair sem custo extra para os cofres públicos. Na
prática, os valores acrescentados não devem superar a média histórica de
execução orçamentária.
A despeito do péssimo momento econômico que o país
atravessa, o lucro dos cinco maiores bancos brasileiros – Caixa, Banco do
Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – cresceu 20%, em 2014. Não há
reclamação alguma advinda do setor que navega em águas calmas. Quanto à Caixa,
a ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior, assume a presidência, com a
missão de avaliar a abertura de capital da empresa.
Vale lembrar que, durante a campanha eleitoral, a
presidente Dilma Rousseff fez um discurso de “defesa” e “fortalecimento” dos
bancos públicos. Para os eleitores do PT, fica no ar aquela sensação de quem
ganhou, mas não levou.
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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