Semana de 16 a 22 de fevereiro de 2015
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O nosso Chicago boy,
conhecido como o “homem da tesoura”, agora candidata-se a um novo posto: o de
homem da banha da cobra. Esta folclórica figura caminhava pelas feiras livres
oferecendo um óleo capaz de curar todos os males do corpo e do espírito: era a
famosa banha da cobra. O ministro Levy e seus parceiros (Nelson Barbosa e
Alexandre Tombini), que, por acaso, constituem o pomposo Conselho Monetário
Nacional (CMN), andam por aí em reuniões, conferências, entrevistas, jantares,
a vender sua receita universal para todos os males da economia: ajuste fiscal e
aperto monetário. Como consequência da política de austeridade proposta
objetiva-se estabilizar a dívida pública e garantir o pagamento dos juros a fim
de acalmar “o mercado” e restaurar a credibilidade do governo.
Em sua mais recente
aventura, uma palestra para “investidores” em Nova York, o ministro
desmanchou-se em promessas. Desculpou o governo Dilma por não ter feito o
superávit primário em 2014 (estima-se um déficit primário de 0,6% do Produto
Interno Bruto – PIB) afirmando que isto foi um pequeno “deslizamento”
(slippage, em inglês, claro) que será corrigido com um pequeno freio de
arrumação. Prometeu manter a meta de 1,2% do PIB para este ano, sem recorrer a cortes
draconianos nem criar novos impostos. Falou na redução de alguns gastos como
consequência de mudanças no seguro-desemprego, abono-salarial e pensão por
morte, ressalvando que elas “não vão atingir a vida dos trabalhadores e
famílias” (Muito bondoso, o senhor!). Não satisfeito ainda apresentou como
argumento para sua austeridade os casos de dois grandes parceiros comerciais do
Brasil, EUA e China, que estão também praticando políticas de restrição
fiscais.
Parece que mentir virou
um atributo dos nossos ministros da Fazenda. O Mantega irritou a todos com as
suas e o Levy, mal começou, e já caminha na mesma direção. Primeiro, porque ele
esqueceu de dizer que os EUA estimam um crescimento do seu PIB de 2,4%, em
2014, e a China, acima de 7%, enquanto o nosso ficará em torno de zero.
Segundo, porque não é verdade que os dois países estão adotando políticas de
austeridade. Nos EUA, por exemplo, o Federal Reserve (Fed), seu banco central,
avisou que manterá as taxas de juros próximas à zero, ainda por um longo
período e a China liberou alguns trilhões de Yuans para estimular sua economia,
não satisfeita com os seus 7% de crescimento previstos.
Qualquer economista sabe que quando uma
economia entra em desaceleração restrições fiscais e monetárias empurram-na para
o fundo do poço. É exatamente isto que o ministro Levy está fazendo e é
revoltante o seu cinismo quando afirma “Todos nós lamentamos que o crescimento
desacelerou”.
Onde está a lógica que
justifica tais posições? Ficaram todos loucos?
O que inspira esta
política econômica é a ideologia econômica dos Chicago boys. Esta foi a teoria
que eles aprenderam e, como fanáticos talibãs, a aplicam por todo o mundo.
Infelizmente esta é a ideologia dominante nos cursos de economia das
universidades brasileiras, fiéis seguidoras das americanas.
Sem nenhuma comprovação
empírica eles acreditam que, equilibrando as contas, garantindo ao capital
financeiro o pagamento dos seus juros, cria-se a “credibilidade” no governo e,
espontaneamente, os “investidores” começam a investir e o país volta a crescer.
Só esquecem-se de dizer em que lugar do mundo isto ocorreu. Está aí a Grécia
para provar o contrário. Após três anos de austeridade os gregos perderam a
paciência e estão virando a mesa revoltados com o desemprego e a estagnação.
O freio de arrumação da
política que estão executando agora não atingirá apenas os assalariados. Desta
vez, a tesoura também vai atingir o setor produtivo, pois o alfaiate Levy já
avisou: acabou o repasse dos recursos do Tesouro para o BNDES e os bancos
públicos.
Mais uma vez alertamos
nossos leitores. O ambiente internacional continua hostil e internamente
aumenta o enceramento de empresas, o desemprego e a desaceleração da atividade
econômica com todas as suas consequências.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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