Semana de 16 a 22 de março de 2015
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
Em
meio à maior crise política desde que o Partido dos Trabalhadores chegou ao
poder, a reprovação da presidente Dilma Rousseff tem o pior resultado para um
chefe do Executivo federal desde 1992, quando Fernando Collor atingiu a marca
de 68% de reprovação. De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto
Datafolha, 62% dos brasileiros consideram a gestão da presidente ruim ou péssima
e apenas 13% dos entrevistados avaliaram positivamente o governo. Entretanto, a
desconfiança não se restringe apenas ao Executivo. Na mesma pesquisa, apenas 9%
dos consultados consideraram o desempenho do Congresso como ótimo ou bom, e 50%
apontaram a atuação dos deputados e senadores como ruim ou péssima.
E o tormento da comandante não parece que está perto de
acabar. PIB negativo, inflação rondando 8%, alta reprovação do eleitorado, um
corte fiscal impopular que atinge, principalmente, seu eleitorado, um escândalo
na maior estatal brasileira, Petrobrás, e uma falta de habilidade política para
contornar a situação, fazem como que seu futuro seja, no mínimo, sombrio. Para
completar o perverso quadro em que o PT se encontra, empreiteiras envolvidas no
caso do “Petrolão” indicaram que pagamentos realizados a um homem forte do
partido, o ex-ministro José Dirceu, que já havia sido condenado no escândalo do
mensalão, eram propina. O ex-ministro ganhou como consultor R$ 29,2 milhões
entre 2006 e 2013. Vale salientar que cerca de um terço desse valor foi
recebido enquanto ele estava sendo julgado pelo Superior Tribunal Federal.
Ao passo que toda essa confusão se desenrola em Brasília
e Curitiba, os dados econômicos continuam se deteriorando. A Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) rebaixou a estimativa de crescimento do PIB
brasileiro em 2015 para uma contração de 0,5%. A previsão anterior era de
crescimento de 1,5%. Pelo segundo mês consecutivo houve fechamento de vagas de
emprego. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)
foram 2,4 mil demissões líquidas no mês de fevereiro, e no acumulado de doze
meses são 47 mil vagas a menos. O IPCA-15, indicador que é a prévia da inflação
oficial, ficou em 1,24% em março, e no acumulado dos últimos dozes meses bateu
7,9%. O nível de utilização da capacidade instalada caiu para 66% em fevereiro,
seis pontos percentuais abaixo do registrado no mesmo mês do ano passado, de
acordo com sondagem mensal realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Na Europa, manifestações contra a política de austeridade
foram vistas nas cidades de Madrid e Frankfurt. Na Espanha, a “marcha da
dignidade”, assim denominada por seus organizadores, manifestou seu
descontentamento com os cortes financeiros do governo e os altos índices de
desemprego no país. Já na Alemanha, o alvo foi a inauguração da nova sede do
Banco Central Europeu (BCE). “A razão
principal do protesto é o BCE pertencer à troika que é
responsável pelas medidas de austeridade que empurraram tantas pessoas para a
pobreza”, afirma Ulrich Wilken, um dos organizadores do protesto.
Pelo menos um país europeu vem apresentando um ajuste
econômico diferente do resto do continente e bem oposto ao realizado aqui no
Brasil. Aumento do Imposto de Renda para o 1% mais rico, de 25% para 27%, e
aumento de impostos aos bancos, que conta com a seguinte justificativa do
ministro do Tesouro desse país: “Os bancos tiveram nossa ajuda durante a crise;
agora devem apoiar o país enquanto se recupera”. Parece um delírio, mas tais
medidas ocorrem no Reino Unido, que é governado desde 2010 por um partido de
direita, o Partido Conservador, sob a batuta do primeiro-ministro David
Cameron. Nas palavras do jornalista Clóvis Rossi: “O caso do Reino Unido
ilustra também que a mera austeridade – que, diga-se, tornou-se necessária pelo
descalabro anterior – não é a panaceia universal”.
Por aqui, a presidente ao dar um “cavalo de pau” na
política econômica, perde a confiança de seu eleitorado, acentuando ainda mais
a crise política em que se encontra. Agora, depois da abrupta deterioração da
sua popularidade, a chefe do Executivo busca atenuar as medidas que foram
tomadas e já conta com um projeto de tributação das grandes heranças, conforme
afirmou Rui Falcão, presidente do PT. A falta de habilidade de contornar um
momento tão crítico faz com que o “criador” seja chamado, e o ex-presidente
Lula (vale ressaltar, que até ele já está com a imagem desgastada) age para
aparar arestas no Congresso. Ele passa a ter a missão de orientar a bancada
petista e, sabe-se lá como, tirar o país e, consequentemente, o partido, desse
mato sem cachorro.
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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