Semana de 07 a 13 de março
de 2015
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, enquanto os dados econômicos de 2014 e
do início de 2015 são divulgados, o país fervilha inundado com a onda de
corrupção propiciada pela investigação da Operação Lava Jato e pela dificuldade
de articulação política do governo. Há um clima de insatisfação no ar, que se
propaga pelas redes sociais. São diversos, variados e até mesmo esdrúxulos,
alguns dos anseios dos manifestantes. O fato é que o turbilhão político e
econômico encurralou a presidente, que resolveu se pronunciar no dia 08 de março,
Dia Internacional da Mulher. E não foi uma boa ideia. Todos sabem que Dilma
Rousseff cedeu às pressões, e engoliu o pacote fiscal, atualmente adotado.
Mesmo assim, ela continua sendo pressionada, desta vez, a defender a medida,
sob pena, dizem, de não contribuir para o resgate da credibilidade do país.
Assim, a presidente foi valentemente à rede nacional
de televisão defender o ajuste. Em seu pronunciamento, afirmou que: “Estamos
fazendo tudo com equilíbrio, de forma que tenhamos o máximo possível de
correção com o mínimo possível de sacrifício.”
Os
trabalhadores acabam por não identificar isto na realidade, pois o primeiro ato
do ajuste foi o de puni-los, mudando as regras para os benefícios sociais. Mas
a presidente continua: “...não vamos trair nossos compromissos com os
trabalhadores e com a classe média, nem deixar que desapareçam suas conquistas e
seus direitos.Queremos e sabemos como fazer isso, distribuindo os esforços de
maneira justa e suportável para todos.”
A expressão “suportável para todos”, também soou
estranha, pois até agora o peso do ajuste através das Medidas Provisórias 664 e
665 é maior sobre uma classe apenas, a trabalhadora. E a Medida Provisória 669,
que prevê o aumento das alíquotas relativas à desoneração da folha de
pagamentos das empresas, foi amplamente rechaçada pela classe empresarial, que
tratou de por a boca no trombone, apenas quatro dias após o pronunciamento da
presidente. E o que seria impensável acontece: cinco centrais sindicais e mais
de cem líderes empresariais uniram-se contra as três medidas provisórias.
Reunidos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) as
conversas seguiram o tom de que trabalhador não existe sem empresa e nem
empresa sem trabalhador. A ideia é criar um comitê de ação permanente que
reivindique a queda de impostos e proponha medidas para reanimar a economia.
Fica a pergunta: E o setor financeiro, não vai
dividir os custos do ajuste?
A única iniciativa para envolver outros setores, que
não o produtivo e o trabalhador, está na possibilidade de tributação das
grandes fortunas. Mas nada de concreto há até agora.
A continuar o seu discurso, a presidente, ainda
lançou a seguinte mentira: “Como temos fundamentos sólidos e as dificuldades
são conjunturais, esperamos uma primeira reação já no final do segundo semestre
deste ano.” Até parece que ela está falando de outro Brasil. Todas as projeções
indicam aprofundamento da crise com crescimento negativo para o ano. O Boletim
Focus do Banco Central, por exemplo, já projeta uma queda de 0,66% para o PIB
deste ano. As perspectivas para o setor produtivo são sombrias. A Sondagem de
Investimentos do 1º trimestre de 2015, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas,
detectou que o empresário continua a não ver motivos para investir. Dentre as
669 empresas pesquisadas, 31% disseram que vão reduzir o investimento em
capital fixo e 42% que manterão os atuais níveis.
Há, ainda, outro agravante. A inflação continua a
aumentar. Segundo o Focus, o IPCA fechará o ano com alta de 7,8%. Um novo
tempero para o aumento da inflação é o aumento da taxa de câmbio. Segundo
analistas, o câmbio deve continuar a subir até o teto de R$ 2,90 por dólar. E
todos já sabemos o que isto significa. O único e “infalível” remédio contra a
inflação será novamente engatilhado. A taxa de juros provavelmente irá
aumentar.
Mas o brasileiro não deve se preocupar. Segundo a
presidente, o tempo de vacas magras, logo acabará. O momento atual é de “...travessia
para um tempo melhor, que vai chegar rápido e de forma ainda mais duradoura.”Quando?
E por quanto tempo?
O governo, com o discurso de 08 de março atirou no
próprio pé. Nada do que foi dito soou crível, por não ter correspondência com a
realidade. Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, foi escolhido para
esclarecer em entrevista coletiva no dia seguinte, o pronunciamento de Dilma.O movimento
organizado pró-impeachment, para o dia 15 de março ganhou força e o governo
convocou os movimentos de esquerda para demonstrar que ainda tem o apoio dos
trabalhadores.
Cedendo às pressõese tentando justificar as medidas
adotadas, o governo Dilma se complica e desmoraliza cada vez mais. Qual será a
saída? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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