Semana de 08 a 14 de junho
de 2015
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Vivemos uma crise econômica sem precedentes. As
medidas anticíclicas utilizadas nos países desenvolvidos não surtem efeito. O
dinheiro que jorra dos cofres públicos insiste em não tomar o rumo desejado pelas
autoridades. E o mundo abarrotado de tanta liquidez testemunha o triunfo da crise.
O Brasil que o diga. Ao pagarmos o preço dos excessos provocados nos anos iniciais
da crise, só a aprofundamos.
A presidente Dilma Rousseff, nesta semana,
participou na Bélgica da cúpula que reúne 61 países europeus e
latino-americanos. Ao ser indagada sobre a “marola” de 2008, ideia defendida
pelo então presidente Lula, declarou: “Para nós, naquele momento, foi uma
marola, sim senhor. Óbvio. Depois a marola se acumula e vira uma onda.” Surfando
na marola que virou onda, o governo que contribuiu para a onda transformar-se
num tsunami agora assiste e participa na formação de novo maremoto, o que pode
ser confirmado pelos dados.
A produção de motocicletas caiu 16,2% de janeiro a
maio, frente ao mesmo período do ano anterior, pior índice dos últimos dez
anos. As vendas de bens duráveis, no primeiro trimestre, comparadas ao primeiro
trimestre de 2014, caíram 8,4%. Só na linha branca a queda foi de 4%. A
Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgou o Indicador Coincidente de Desemprego
(ICD) que aumentou pelo quinto mês consecutivo, crescendo 2,9%, entre abril e
maio. Segundo a instituição, há uma deterioração contínua do mercado de
trabalho. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a
Pesquisa Industrial Mensal Regional, que apurou queda entre março e abril, da
produção industrial, em 13 das 14 regiões pesquisadas. A queda, total foi de
7,6%, se comparada a abril de 2014. Em São Paulo, por exemplo, a produção
industrial está 17,6% abaixo da sua maior alta que foi registrada em março de
2011. No setor varejista as preocupações aumentam. O Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC Brasil) e a Câmara Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL),
divulgaram que mais dois milhões de brasileiros entraram para a lista de
inadimplentes, entre dezembro de 2014 e maio deste ano. A alta no período foi
de 4,63%.
Alheia à realidade, a presidente Dilma, continua: “Não
acho que a população tem de consumir menos. Pelo contrário, a população tem de
continuar consumindo.” Pelo jeito, as informações básicas dos manuais de
Economia foram esquecidas. A presidente acabou esquecendo que o propósito do
seu governo é que a população consuma menos. Por mais absurdo que nos pareça, o
diagnóstico do Banco Central para a inflação ainda é de demanda. Por esta razão,
os juros subiram na última reunião do Copom. Mas a presidente discorda: “A
causa da inflação ela não é estrutural, ela é conjuntural. (...) Um lado há
seca, o outro lado é o fato de que, além disso, sofremos as consequências do
ajuste cambial. Esse ajuste cambial não fomos nós que provocamos”.
O amargo remédio dos juros continuará a ser adotado.
A inflação em maio foi de 0,74%, acima do esperado 0,58%. A energia elétrica,
preço administrado, apresentou alta de 2,77% e foi a principal responsável pelo
aumento da inflação em maio. O índice em 12 meses fechou em 8,47%, bem acima da
meta estipulada pelo governo. Somado a isto, a ata do Copom foi divulgada e os
“profissionais interpretadores” de texto da ata logo puseram sua função em
prática. Observaram metodicamente que a palavra “vigilância” foi reforçada pelos
termos “determinação” e “perseverança”. Ou seja, estando o Banco Central
“vigilante” em relação à inflação, permanecerá “determinado” e “perseverante”
para impedir que a inflação se propague. Conclusão: a taxa Selic subirá mais
uma vez na reunião de julho, em 0,5%. Mais do que nunca, dizem os analistas do
“mercado”, o Banco Central deve permanecer firme e “ancorar” a expectativa de
inflação, assim os agentes econômicos “acreditarão” e o centro da meta será
atingido.
As questões econômicas foram resumidas à crença. O brasileiro
deve acreditar e consumir. O Copom ao resgatar a credibilidade, fará a inflação
cair.
E o instinto
animal, por milagre, brotará no empresariado, quando o ajuste fiscal se
concretizar.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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