Semana de 20 a 26 de julho
de 2015
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
A política econômica
adotada no segundo governo Dilma está cada vez mais alinhada à direita. Quem parece
ser o maior responsável por isso é o atual Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A
culpa, porém, não é só dele e, segundo pesquisa do instituto MDA, o povo já
sabe disso: 84,6% dos entrevistados afirmam que “a presidente não está sabendo
lidar com a crise econômica”.
Também, não era de se
esperar o contrário. Graças, principalmente, aos preços administrados represados
no ano passado, como da energia e combustíveis, e de questões climáticas e
sazonais, que afetaram alguns produtos agropecuários, a inflação está próxima
de atingir os dois dígitos este ano. Isto se reflete no poder aquisitivo da
população: o reajuste real do salário das categorias que têm data base no
primeiro semestre foi de apenas 0,8%, enquanto no ano passado havia sido de
1,54%. Já o governo prevê uma redução real de 6,39% na massa salarial dos
brasileiros em 2015. Além da inflação elevada, a atividade fraca é outro fator
que reduz o poder de barganha dos trabalhadores e leva a esta previsão.
Falando em atividade
fraca, nos últimos doze meses fechados em junho de 2015, o saldo líquido de
empregos registrados pelo Caged foi de queda de 601,9 mil postos, sendo 345,4
mil apenas no presente ano. Em junho, a indústria apresentou uma demissão
líquida de 64,2 mil, os serviços de 39,1 mil e a construção civil de 24,1 mil.
Apenas a agropecuária teve um saldo positivo, de 44 mil admitidos a mais do que
os demitidos.
Este é um dos motivos
apresentados pelo governo para a criação do Programa de Proteção ao Emprego,
que prevê a redução de até 30% da jornada de trabalho nas empresas em
dificuldade financeira. Como contrapartida, porém, o trabalhador terá uma
redução de até 15% em seu salário nominal (a redução para a empresa será de até
30%, sendo que até 15% da remuneração será coberta pelo FAT), o que deve
agravar ainda mais a já combalida demanda por bens e serviços finais.
Pra não me alongar no
relato da triste realidade brasileira, cito apenas estes outros fatos: 1) o uso
da capacidade instalada, medida pela CNI, chegou ao menor patamar desde que a
instituição iniciou o registro em janeiro de 2011, com 65% de uso; 2) a
ociosidade na indústria de veículos comerciais pesados, segundo a fabricante do
setor MAN, está em 70%; 3) a venda de eletrodomésticos caiu 11%, na comparação
do primeiro semestre de 2015 com o mesmo período de 2014; e 4) diante da queda
na lucratividade (de 7% para 1,5%) e na venda de aço (menos 18,6% comparando os
primeiros semestres de 2015 e 2014), o setor distribuidor de aço reduziu em 11%
seu quadro de trabalhadores.
Dito isto, podemos
retornar ao que iniciou a presente análise: a condução da política econômica. O
que o governo está fazendo para tirar o país do buraco? Luiz Fernando de Paula,
professor da UERJ, chamou a política atual de “contração fiscal expansionista”.
A adoção desta agenda, ou seja, a elevação do contingenciamento dos gastos do
governo de R$ 69,9 bilhões para R$79,4 bi, feita no dia 22 do mês corrente, e a
obtenção de um superávit primário de R$ 8,7 bi (dinheiro não gasto, mas
destinado ao pagamento dos juros), ambos previstos para o orçamento de 2015,
levaria automaticamente a um crescimento econômico futuro. O governo não percebe
que tais medidas de política fiscal, irão comprometer imediatamente toda a economia,
pois a redução na demanda do governo atinge todos os demais setores, seja
direta ou indiretamente.
Pelo lado da política
monetária, o que se vê é mais contração. Esta não tem nenhum interesse em ser
expansionista, pois, segundo a fé dos diretores do Banco Central, a
“resiliente” inflação brasileira deve ser combatida com o de sempre, a elevação
dos juros. Este cegueira ideológica não permite ver que a contrapartida para a
economia é o encarecimento dos custos dos financiamentos privado e público.
Isto se reflete na dívida pública e no pagamento dos juros, os mesmos problemas
que o governo pretende resolver por meio da política fiscal contracionista. O
contraditório, como mostra Paulo Feldman, da FEA/USP, é que, se a taxa de juros
fosse de 9%, a redução do custo da dívida, em 2015, seria de R$ 100 bi, valor
superior ao contingenciamento e superávit somados.
E olhe que nem falamos
dos efeitos deletérios de longo prazo que a retirada de recursos pode trazer à
educação, saúde, infraestrutura, etc.
Parece que se pretende sair
do buraco cavando um maior ainda. Quem sabe querem chegar à China!
[i] Doutorando
do PPGE/UFBA, Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do
Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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