Semana de 26 de julho a 02
de agosto de 2015
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. A semana foi coroada por mais um ato
insano do Copom (Comitê de Política Monetária). Pela sétima vez consecutiva, o
Comitê aumentou a taxa básica de juros que passou de 13,75% para 14,25%. De presente,
o consumidor brasileiro deve continuar pagando 48,4% ao ano pelo crédito
pessoal e aproximadamente 372% ao ano de juros para financiar o cartão de crédito.
Os juros anuais do cheque especial chegam a 241,3%. Estes números foram
divulgados pelo próprio Banco Central. Uma verdadeira extorsão. Os bancos agradecem.
As projeções dão conta de que os lucros bancários no segundo trimestre serão recordes.
Que o diga o Bradesco, primeiro a divulgar os resultados. Com lucro líquido de
R$ 4,47 bilhões no trimestre, 18,4% a mais que no segundo trimestre de 2014, o
banco comemora, via aumento dos spreads, a má fase da economia brasileira.
O esforço do governo segue no sentido de domar uma
inflação indomável. A teoria econômica dominante continua a afirmar que a
inflação é de demanda, mas a realidade insiste em não se encaixar no padrão
definido nos escritórios dos economistas. Levantamento feito pelo professor
Ernesto Lozardo da Fundação Getúlio Vargas e divulgado no jornal Valor Econômico,
mostra que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da
inflação brasileira, é composto por dois grandes grupos: preços livres e
administrados. Os primeiros representam 76% do IPCA e os últimos, os 24%
restantes. Segundo o autor, de janeiro a maio de 2015, o IPCA subiu 5,23% em
virtude da alta de 3,36% dos preços livres e de 11,21% dos administrados. Só a
energia elétrica residencial subiu, neste período, 37,6%.
Mesmo com todos os indícios, a equipe econômica insiste
em continuar receitando o mesmo purgante para uma doença que ela própria ajuda
a propagar. Desde o início do ano já aconteceram cinco reuniões do Copom e a
decisão foi a mesma: precisamos de mais juros pois a inflação é “resiliente”. A
taxa passou de 11,75%, em janeiro, para os 14,25% atuais.
A decisão foi recebida com indignação pela Abimaq (Associação
Brasileira de Máquinas e Equipamentos) que se apressou em afirmar que “... a
alta dos juros significa uma verdadeira catástrofe para o já combalido setor
produtivo...”. Pois bem. O faturamento líquido da indústria brasileira de
máquinas e equipamentos caiu 13,5% em junho comparado a junho de 2014 e 2,9%
comparado a maio do ano atual. A utilização da capacidade instalada do setor,
segundo a Abimaq, foi 65,3% em junho, 10,4% menor que o verificado em junho do
ano anterior e o número de trabalhadores empregados recuou 8,4%.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
acaba de divulgar que o nível da atividade da indústria paulista caiu 1,3%
comparado a maio. Dos 20 setores pesquisados, 14 apresentaram queda. Para o
segundo semestre, a instituição afirma que o cenário tende a piorar. As vendas
de veículos continuam definhando e fecharão julho com queda de 22%. Já a
Associação Brasileira do Papelão Ondulado, afirmou que as vendas de papelão
cairão 2,5%, em 2015, o que significa produção menor de caixas, acessórios e
chapas, essenciais para a produção de embalagens.
A contração da atividade, segundo o Boletim Focus do
Banco Central, será de 1,76% e não para de piorar. O Banco Fibra já rebaixou
sua projeção de queda de 1,7% para 3,1%. Alheia à realidade, a equipe econômica
continua a perseguir seus objetivos por mais incompatíveis que sejam. Enquanto ajuda
a minar a atividade produtiva, turbina sua dívida com juros altos e tenta levar
adiante o ajuste fiscal. Porém, a queda na arrecadação e o aumento nas despesas
geraram déficit primário nas contas do Governo Central de 0,06% do PIB, no
primeiro semestre do ano. O compromisso com a nova meta de 0,15% do PIB, para o
superávit primário, parece cada vez mais distante. Mas, o ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa, continua na torcida. Com fé, ele afirma que a
recuperação começará no último trimestre.
É fé demais!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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