Semana de 29 de junho a 05
de julho de 2015
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
A situação da presidente Dilma é delicada. Pesquisa
divulgada pela CNI-Ibope apurou que o percentual de pessoas que considera o
governo ótimo ou bom caiu de 12%, em março, para atuais 9%. A rejeição foi de 68%.
É a pior avaliação de um governo registrada nos últimos 29 anos. O resultado
gerou pressão de todos os lados. A oposição pede a renúncia da presidente e a base
do governo espera que o ajuste fiscal mostre resultados. Mas quando?
O ministro da Fazenda Joaquim Levy, tardiamente, admitiu
a desaceleração econômica. Cinicamente, assim como o ex-ministro Guido Mantega,
Levy dá declarações, faz previsões baseadas em crenças e depois finge que nada
disse. Sua primeira informação, assim que assumiu o cargo, foi a de que o
ajuste seria necessário e promoveria o crescimento. Mas logo se apressou em
minimizar a queda de 0,2% do PIB no primeiro trimestre, argumentando: “Pode ter
tido uma ‘escorregadinha’, mas a realidade se aflora”. E continua a defender a
crença de que a recuperação virá no segundo semestre. Se “... tomarmos as
providências necessárias com rapidez, nós temos bastante chance de ver um
segundo semestre, (...), favorável para a economia”.
Convido o leitor a olhar a realidade, os fatos.
Estamos em julho, primeiro mês do segundo semestre. E logo em maio, o tão
sonhado superávit primário do otimista ministro Levy degringolou. A conta de
juros, obviamente, não para de crescer e chegou a R$ 408,762 bilhões. A dívida
bruta do governo fechará 2015 em 62,7% do PIB, alta de 3,8% em relação a
dezembro de 2014. A meta do superávit de 1,1% transita agora entre 0,6% e 0,8%.
Temos ainda “inflação de demanda” (!?) combatida ferozmente com juros de 13,75%
e taxa de juros de longo prazo, que subiu de 6% para 6,5%. Segundo a Fecomercio-SP
a contração da demanda se estenderá por mais tempo em virtude da alta do desemprego,
da inflação e dos juros.
Pelo lado da oferta, as montadoras pedem socorro às
matrizes no exterior. As filiais brasileiras já receberam, segundo o Banco
Central, US$ 2,36 bilhões, desde o início do ano. E o mercado de veículos novos,
finalizou o primeiro semestre com queda de 20,6%. Sob a ameaça de 400 demissões,
os trabalhadores da Mitsubishi em Goiás sinalizam uma greve. A empresa dará
férias coletivas por dez dias. Em férias coletivas nas duas primeiras semanas
de julho, está também parte dos funcionários da Fiat, da Hyundai, da Nissan, da
Honda e da Scania. Já a Mercedes-Benz sugeriu reduzir em 10% o salário dos trabalhadores
no ABC paulista e cortar 20% da jornada de trabalho no intuito de manter, por
mais um ano, os empregos. No ABC, a Volkswagen suspenderá os contratos de 2.357
trabalhadores, ao desativar o terceiro turno do parque industrial. No Rio de
Janeiro, a fabricante de caminhões MAN vai colocar 600 operários em layoff ao
desativar o segundo turno de produção. A Volvo, em Curitiba, também afastará
entre 400 e 600 metalúrgicos.
A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE detectou
que, entre novembro de 2014 e maio deste ano, a massa salarial real, sem o décimo
terceiro salário, caiu 10%. A queda acontece após oito meses de desaceleração do
mercado de trabalho e sua magnitude é maior do que a registrada em 2009. Ainda
segundo o IBGE a taxa de desocupação no país, em maio, foi de 6,7%. O Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged) vem registrando quedas nas vagas de
trabalho com carteira assinada. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), até maio, foram perdidos 593,4 mil empregos formais. Sabiamente, o
professor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sabóia afirma que o ajuste é
“...a melhor receita para uma recessão...”. Assim como Levy, o Banco Centra
discorda. Segundo Alexandre Tombini, a “...recuperação do consumo deverá
ocorrer a um ritmo moderado e sustentável.” E o diretor de política monetária
Luiz Awazu Pereira declarou que o ajuste constrói “...uma sólida base para um
novo ciclo de crescimento sustentável”.
Se este é o caminho sólido para o crescimento,
melhor pegar um atalho!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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