Semana de 22 a 28 de junho de 2015
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Finalmente o ministro
Levy admitiu publicamente a desaceleração da economia. “A economia, não vou
fazer mistério, tem desacelerado”. Mas afirmou logo a seguir: que “isto não é
devido ainda ao ajuste.” A declaração ocorreu na terça feira, dia 23, por
ocasião do lançamento de um livro sobre gastos públicos e eficiência.
Algumas conclusões
podemos tirar destas afirmações. A primeira é que o “ministro da tesoura” sabe
que a economia está desacelerando. A segunda é que ele sabe que o aperto fiscal
provocará desaceleração e a terceira é que esta nova desaceleração,
consequência do ajuste, vai ocorrer. Conclusão final: o ministro,
deliberadamente, está empurrando a economia para a mais grave recessão dos
últimos anos.
Mas ele não age só. É
coadjuvado pelo Tombini, presidente do Banco Central (BC), que ataca por outro
lado, o monetário, elevando a Selic, taxa de juros de referência do governo,
que já atingiu o recorde de 13,75%. O terceiro personagem que comporá a troika
é o ministro Nelson Barbosa. Os três juntos compõem o órgão pomposamente
chamado de Conselho Monetário Nacional (CMN). Na semana passada, este Conselho
deu sua colaboração decidindo elevar a taxa de juros de longo prazo (TJLP),
taxa de referência usada pelos bancos oficiais para financiar investimentos
considerados estratégicos. A TJLP passou de 6% para 6,5% com a promessa de que
subirá ainda mais. Para aumentar “a credibilidade” da política contra a
inflação, o CMN manteve a meta em 4,5% mas reduziu a banda de flutuação de 2%
para 1,5% para o ano de 2017. A partir do referido ano a tolerância será entre
um mínimo de 3% e um máximo de 6%.
Qual tem sido a consequência
da recessão para a receita do Estado? É claro que deveria ocorrer uma queda o
que de fato está ocorrendo. O curioso é que o ministro Levy não sabia. Entre
janeiro e maio a queda real da arrecadação foi de 2,95% e o governo economizou
apenas R$ 6,626 bilhões, o que representa 12% da meta de R$ 55,3 bilhões
estabelecida, pelo governo, para o ano. E agora, como cumprir a meta de
superávit primário, tão prometida e considerada fundamental para a tal da
credibilidade?
Enquanto isso, todas as
estatísticas divulgadas continuam a apontar para o agravamento da situação, até
mesmo no comércio, atingindo grandes grupos como Marisa, Riachuelo, Renner,
C&A, Casas Bahia, Ponto Frio, etc. Isto para não falar que os investimentos
em máquinas, em 2013, já haviam sido os menores em sete anos e agora, em junho,
o Índice de Confiança da Indústria recuou 4,7%. Feito o balanço dos dados, a
Fundação Getúlio Vargas (FGV) não vê recuperação no segundo semestre e revisou
a previsão de crescimento do PIB, em 2015, para uma queda de 1,8%.
Vendo o barco fazer água
por todos os lados o ex-presidente Lula desabafou, em uma conferência
reservada, conclamando a uma “revolução” no PT e à construção de uma nova
“utopia”, depois de denunciar que o PT está velho e abaixo do “volume morto”. Como
consequência do discurso do ex-presidente, a direção do PT lançou uma resolução
política, no dia 25, conclamando a mudanças na política econômica do governo e
atacando agora a figura do Tombini, presidente do BC.
Se já não fosse
suficiente a difícil situação da economia, que tende a se agravar, e a
permanente hostilidade do “aliado” PMDB, através principalmente das ações dos
presidentes das duas casas do congresso, a presidente Dilma agora tem de
enfrentar as críticas do seu próprio partido e do velho cacique Lula.
Isso sem falar nas novas
linhas de investigação da operação Lava Jato que rondam ameaçadoramente os corredores
do planalto.
Enquanto aqui nos
afundamos na austeridade no mundo levantam-se mais vozes contra ela. Em uma
entrevista ao jornal Valor Econômico, o prêmio Nobel de Economia, Joseph
Stiglitz, perguntado sobre o Brasil, afirmou: “Em primeiro lugar acho que, em
termos gerais, a austeridade não funciona.” O Prof. Mark Reiff da escola de
direito da Universidade de Manchester, também perguntado sobre o Brasil,
declarou: “A austeridade é um erro. Não existe nenhuma garantia de que os
ajustes vão funcionar”.
Mas os talibãs da
economia são surdos. Continuarão em frente para o abismo.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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