Semana de 12 a 18 de outubro de 2015
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
Os escândalos das
supostas contas suíças do presidente da Câmara continuam ocupando as manchetes de
quase todos os meios de comunicação do país. A iminência de um vergonhoso possível
acordo entre o PT e ele, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o intuito de salvar o
mandato da presidente Dilma Rousseff, implicaria na completa perda de
confiabilidade nas instituições nacionais. Depois da decisão do STF de que o
arquivamento ou prosseguimento dos pedidos de impeachment seria decisão
monocrática do presidente da Câmara, a maré mudou para Cunha e para a oposição.
O impeachment ficou um pouco mais
distante, pelo menos num primeiro momento.
Em relação à economia, o índice de atividade econômica do
banco central, IBC-BR, recuou 0,76%, em agosto, ante julho, e 2,6% nos últimos
12 meses, colocando por terra o prognóstico do governo, no começo do ano, que
chegou a apontar o segundo semestre como o momento inicial da recuperação
econômica. A expectativa era de que a confiança dos agentes econômicos seria
retomada e que tudo viria de acordo com a receita de bolo: ajuste – retomada da
confiança – crescimento.
Neste ponto as críticas são feitas pelo professor da
Unicamp, Pedro Rossi, que ao abordar a receita acima exposta, tece o seguinte
comentário: “não se trata, contudo, de negar o papel das expectativas no
crescimento econômico, mas de questionar seus mecanismos de formação. Um
empresário não investe porque o governo fez ajuste fiscal, mas quando há
expectativa de demanda e lucratividade. Se o horizonte é de contração da
demanda e subida dos juros, não há motivos para investir.” E conclui da
seguinte forma: “historicamente, as evidências de sucesso de um ajuste
contracionista são muito controversas. O próprio FMI vem questionando a
hipótese da "contração fiscal expansionista" e recomenda estratégias
de ajuste graduais em detrimento de terapias de choque, como a brasileira”.
A elevada taxa de juros no país parece ter encontrado um
limite. Embora não haja consenso de que se tenha atingido ou não a chamada
“dominância fiscal” já é disseminado o entendimento de que uma nova alta da
taxa Selic traria um impacto negativo cujo efeito seria superior ao controle da
inflação corrente, uma vez que pioraria as contas públicas. A elevação dos
juros traria um aumento da relação dívida/PIB, o que geraria uma
desconfiança, nos investidores estrangeiros, sobre a capacidade de o país honrar
com suas dívidas, fazendo com que o real se desvalorizasse. O final seria um
efeito negativo sobre a inflação dos anos de 2016 e 2017. Diante desta
situação, a expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida no patamar
atual. De qualquer forma, a indústria nacional agradece.
Internacionalmente a China continua sendo o centro das
atenções. O país, que vinha sendo o motor do crescimento global, coloca em
xeque, principalmente, o crescimento de países emergentes, como o Brasil. Cada
novo dado negativo divulgado desencadeia revisões no crescimento do próprio
país e daqueles com quem possui fortes relações comerciais. O risco maior seria
uma queda para abaixo de 6%, o que ainda não aparece no radar das autoridades
do país.
Em Brasília, a vergonhosa relação entre a situação, a
oposição e Eduardo Cunha, revela a indecente briga de interesses que move a
política nacional. O governo não ousa pedir seu afastamento com medo de que ele
dê prosseguimento aos pedidos de impeachment
da presidente. A oposição não se atreve a fazer o mesmo porque colocaria todo o
esforço de sua campanha pela saída de Dilma Rousseff por água abaixo. E no meio
de tudo isso, Cunha usa de seu poder na situação para se manter no cargo.
O mais estranho é a posição tomada pelos diversos grupos
que se mobilizaram contra a corrupção e a favor do impeachment da presidente e que tinham como principal palavra de
ordem o suposto envolvimento do governo no escândalo da Petrobras. Nas próximas
manifestações Cunha será poupado, pelo mesmo motivo que está sendo poupado pela
oposição. Parece que a cruzada contra a corrupção não é tão firme assim, e o que
realmente importa é o lado onde se encontra o possível corrupto. Se ele
defender os nossos interesses, tudo bem, “ele rouba, mas faz”. É dos nossos.
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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