Semana de 19 a 25 de outubro de 2015
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O Conselho de Política
Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC) responsável pela política
monetária, em sua reunião da quarta feira da semana passada, resolveu não
elevar a taxa de juros de referência Selic, mantendo-a nos atuais 14,25% anuais
(a maior do mundo). Segundo os tradutores do coponês, o BC mudou sua política
adiando o plano de fazer convergir a inflação para a meta de 4,5% ao ano, já em
2016. O comunicado divulgando a notícia informou que a taxa será mantida “por
um período suficientemente prolongado” e que este é o caminho para “a
convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política
monetária”. Dizem os entendidos em “coponês” que isto significa cerca de dois
anos. Comenta-se que o BC está preocupado com a desaceleração da economia, o
aumento do desemprego, a queda na produção e nas vendas, ou seja, não há
excesso de demanda, mas sim excesso de produção o que torna a inflação
observada um mistério e insensível ao aumento dos juros. A elevação dos preços
observada é estranha e inexplicável. Para este problema a teoria econômica
oficial e o BC não têm solução. Não querem admitir que estamos novamente diante
da estagflação, inflação com estagnação.
Nestas circunstâncias, a
ação do Levy com sua austeridade fiscal, sacrificando os programas sociais e os
direitos dos trabalhadores, só contribui ainda mais para o quadro recessivo
além de ampliar o descrédito do governo.
Com efeito, os dados
continuam revelando o caminho para o fundo do poço. A Ford divulgou um
relatório mostrando que, nos últimos quatro anos a indústria de veículos perdeu
R$41,9 bilhões no faturamento, cortou US$3,6 bilhões de remessas para suas
matrizes e deixou de vender 1,1 milhão de veículos. Roberto Cortes, presidente
da MAN, afirmou que a indústria de veículos comerciais pesados opera com
ociosidade superior a 70%. Segundo a Confederação Nacional da |Indústria (CNI),
o uso da capacidade instalada na indústria em geral, em agosto, foi de 77,9%, o
mais baixo desde janeiro de 2003. Entre janeiro e agosto, o numero de horas
trabalhadas caiu 9,2%. A renda média do trabalhador, nos últimos 12 meses, caiu
3,5%. Também de janeiro a agosto o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi) calcula que o emprego industrial caiu 5,6% e a produção 6,9%.
Segundo a Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimac), o setor terá, em
2015, o terceiro ano de queda no faturamento. No ano passado foram cortados 13
mil empregos, ou seja, 3,3% do pessoal ocupado e, em 2015 já perderam o emprego
7% do total dos empregados.
A Sondagem Econômica
Industrial do Rio de Janeiro feita pela Federação das Indústrias do Estado do
Rio de Janeiro (Firjan) mostrou que o Índice de confiança do Empresário
Industrial (Icei-RJ) chegou a 34 pontos, em outubro (Índice de 0 a 100. Abaixo
de 50 indica pessimismo), o pior valor desde 2005.
Não há nenhum dado que aponte
a possibilidade de reversão da tendência de crise. E não podia ser diferente. O
Brasil entrou atrasado na crise mundial (a marolinha do Lula), depois de serem
esgotados todos os recursos da política econômica anticíclica do ex-ministro
Mantega. Agora pagamos o preço. O problema é que com a ocorrência da inflação,
em simultâneo com a desaceleração e levando de quebra a política de austeridade
fiscal do Levy, tudo se agrava.
Com o desemprego e a
redução da renda e do consumo não parece que a reversão do ciclo possa
originar-se no mercado interno. E para nossa infelicidade há uma nova ameaça de
crise pairando sobre o mundo.
Se acrescentarmos a
corrupção descoberta a cada nova investigação, o descrédito do PT e do governo,
a fúria histérica e golpista da oposição de direita e a canalhice dos políticos
encastelados no congresso nacional, comandados por um gangster, teremos o
quadro em que a presidente Dilma é obrigada a mover-se, apanhando de todos os
lados e incapaz de extirpar o germe da roubalheira que rói as entranhas do seu
governo.
Difícil o destino da
presidente!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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