Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Enquanto a crise
econômica segue seu curso normal, agravando-se cada vez mais, os acontecimentos
políticos desencadeiam-se a uma velocidade espantosa, roubando a cena. Não se
consegue prever o que poderá ocorrer no momento seguinte, após a prisão do
senador Delcídio, da abertura do processo de impeachment da presidente, por um
dos deputados mais corruptos do país, que continua, apesar disso, na
presidência da Câmara, sendo, portanto a terceira pessoa na linha da sucessão.
E continua ele mesmo, a comandar o processo que implica na sua própria
cassação. É um paradoxo digno de um país desmoralizado. E nós apenas podemos
assistir impotentes as manobras mais escusas utilizadas por este bandido para
impedir sua queda e derrubar a presidente.
A histeria antipetista, alimentada
pela total ignorância sobre os processos econômicos, atinge o nível da
irracionalidade e coloca no mesmo saco partidos que se dizem democráticos, como
os tucanos e o PPS e animais como os bolsonaros da vida e todos os tipos de torturadores
e militares saudosos da ditadura. E não me venham com esta conversa fiada de
luta contra a corrupção, pois “se gritar pega ladrão... ”.
O circo está montado e o
congresso dirigido por dois processados pela justiça virou um balcão de compra
e venda de votos. A política domina a economia e neste ambiente, o país está paralisado.
A situação econômica deve deteriorar-se ainda mais. Não é por outra razão que o
PSDB tenta a manobra suja de manter o impasse até fevereiro apelando para o
recesso do legislativo.
A situação internacional
não traz grandes novidades. Apenas a ameaça de que o Banco Central americano
(Fed) provavelmente começará a elevação dos juros nos EUA. Por outro lado o
Banco Central Europeu (BCE) decepcionou o “mercado” quando não aumentou sua
Quantitative Easing (QE) limitando-se apenas a manter a compra mensal de 60
milhões de euros de títulos até setembro de 2016 e cortar a taxa de depósitos
em 10 pontos base.
A elevação dos juros pelo
Fed, no entanto, terá consequências para a economia brasileira contribuindo
para o agravamento da situação que continua a deteriorar-se. O setor
automotivo, depois de perder 25% das vendas em 2015, em comparação com 2014,
prevê novos tombos na produção. Caem os empregos e as horas trabalhadas na
indústria e no comércio, aumenta a ociosidade da capacidade instalada, em
novembro, para 74,6%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio
Vargas (Ibre – FGV) afirma que, em 12 meses, até setembro, os investimentos,
medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caíram 7,3% e os
investimentos em máquinas e equipamentos tiveram uma redução de 23%. A situação
é ainda mais desanimadora quando se observa que o crédito bancário se reduziu
0,1%, em outubro, confirmando a tendência de desaceleração observada
anteriormente e particularmente dos bancos públicos que, de uma taxa anual de
expansão de 40%, em 2008, caiu para 12,5% agora, em novembro.
A divulgação da ata da
última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central lançou
ainda mais água na fervura ao ameaçar com mais elevação da taxa Selic, na
reunião de janeiro. E para não restar dúvidas o diretor de Assuntos
Internacionais Tony Volpon, que votou por uma alta da taxa na reunião passada,
vociferou em uma declaração que o banco tem de dar uma resposta “contundente e
tempestiva” como melhor forma de retomar o “processo de reancoragem das
expectativas”.
No meio de toda esta
confusão 19 entidades empresariais entre as quais a CNI, Abimaq, Abit, Sindipeças,
Sinicon, etc., reuniram-se com as seis centrais sindicais nacionais (CUT, CSB,
CTB, NCST, UGT e Força Sindical) e aprovaram um documento com sete diretrizes
para promover o desenvolvimento e com críticas a financeirização da economia e
à política do ministro Levy. Só a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) não
assinou.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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