Semana de 04 a 10 de janeiro de 2015
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
A China assustou o
mercado global nos primeiros dias de janeiro. A divulgação de um índice da
atividade manufatureira do país, mostrando uma queda pelo décimo mês
consecutivo, provocou um declínio brusco das bolsas chinesas. A derrubada das
ações, juntamente com a desvalorização do Yuan, abalaram os centros financeiros
internacionais. As cotações do minério de ferro e do petróleo foram, mais uma
vez, pressionadas para baixo, atingindo um dos menores preços dos últimos anos.
No Brasil, o dólar ultrapassou a barreira dos quatro reais e a Bovespa seguiu o
baque ocorrido do outro lado do mundo. A percepção de que o crescimento chinês está
desacelerando mais do que era previsto, está provocando uma tensão generalizada.
Se não bastasse o pífio
desempenho da economia brasileira, o setor externo, impulsionado,
principalmente, pela China, não se apresenta como uma fonte de esperança para a
recuperação brasileira. Mesmo com o resultado positivo da balança comercial no
ano passado, a baixa das cotações das commodities vem dificultando o saldo das
exportações nacionais. O que poderia ser visto como uma alternativa à crise
econômica encontra-se cada vez mais distante.
Internamente, os
resultados do sombrio ano de 2015 começam a aparecer. A produção industrial
apresentou no acumulado de 12 meses queda de 7,7%, em novembro. O destaque
negativo é da indústria de bens de capital, com contração de 24,1%. A redução
da participação dos bens de capital nacionais já era apontada por estudos do
Progeb desde o início da década passada e vem acentuando-se cada vez mais. No
setor automobilístico houve uma diminuição da produção de 26,6%, em relação ao
ano de 2014, maior tombo em 28 anos. Foram fechadas 1.047 concessionárias e
cerca de 32 mil postos de trabalhos foram eliminados. Já a inflação, medida
pelo IPCA, encerrou o ano passado com alta de 10,67%, maior taxa desde 2002. Os
preços administrados tiveram avanço de 18,08%, com a eletricidade e gasolina
subindo 51% e 20,1%, respectivamente.
Algumas medidas para “reativar” a economia
começam a ser ensaiadas pelo governo e pelo setor privado. Novamente, o alvo
passa a ser o setor habitacional e o automobilístico. No que concerne à
construção civil, o governo estuda a possibilidade de utilizar os valores pagos
aos bancos estatais e ao FGTS, com o intuito de quitar as “pedaladas”, para
criar novas linhas de crédito. Como o impacto fiscal já ocorreu no ano de 2014,
essa situação não iria, inicialmente, ter efeito sobre a as contas públicas no
corrente ano. Já o setor automobilístico analisa a criação de um plano de
renovação de frota. A ideia é retirar de circulação os carros de passeio com
mais de 15 anos e os caminhões com mais de 30 anos. Esses automóveis seriam
transformados em sucatas e seus proprietários receberiam uma carta de crédito
para a obtenção de um novo veículo. Essa situação ainda é discutida entre a
Fenabrave, entidade que representa o setor, e o Ministério do Desenvolvimento.
No que se refere ao
ajuste das contas públicas, o Planalto continua a mirar a Previdência Social. Considerando
que as suas contas são sistematicamente deficitárias a ideia é elevar a idade
mínima de aposentadoria. Vale ressaltar que a Previdência brasileira possui uma
característica muito especial. Com a criação da Previdência rural, pós-Constituição
de 1988, o sistema de aposentadoria brasileiro passa a suportar o custo de uma
medida de assistencialismo. Nessa situação, na qual parte dos beneficiários não
realizaram nenhum tipo de contribuição, apresenta-se, de fato, como um tipo de
Assistência Social, comparado ao Bolsa Família. Assim, a Previdência urbana,
sistematicamente superavitária, possui a difícil tarefa de arcar com uma
irresponsabilidade legislativa de manter um auxílio governamental. Nesse caso,
se houvesse uma separação, a Previdência, pelo menos inicialmente, não se
encontraria com necessidade de correção.
Enquanto isso, os
delatores da operação Lava-Jato continuam a complicar cada vez mais o governo e
a oposição. Os últimos nomes a aparecerem foram o de Jaques Wagner (PT),
ministro-chefe da Casa Civil e Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB. Ainda foi apontada
a distribuição de propina no governo FHC.
Fevereiro promete!
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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