Semana de 11 a 17 de janeiro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O objetivo desta coluna, como o próprio
nome indica, é analisar os movimentos da economia no curto prazo, o que
chamamos de conjuntura econômica. Todos os estudiosos sabem que a economia não
se move em linha reta, mas aos zigue-zagues, e que estas oscilações não são
caóticas, mas descrevem movimentos que se repetem, chamados de ciclos
econômicos. É preciso muito subjetivismo, cegueira ideológica, ignorância,
interesses políticos ou má fé para desconhecer estes fenômenos que há mais de
cem anos são observados, medidos e estudados por centenas de pesquisadores em
todo o mundo.
Já mostramos nesta coluna que cada ciclo é
formado por quatro fases que se sucedem: crise, depressão, reanimação e auge. É
este movimento que é conhecido como ciclo de Juglar, um dos primeiros
economistas que o estudou de forma sistemática.
O mérito do analista está em identificar em
qual ponto do movimento se encontra uma economia determinada, em dado tempo. É
este o esforço que empreendemos aqui e é o nosso objetivo. Não pretendemos
estabelecer normas nem dar conselhos para a formulação de políticas econômicas.
Não somos nenhuma consultoria econômica e apenas fornecemos elementos para a
compreensão da realidade atual e indicações para uma possível evolução futura.
Somos forçados a trabalhar com as estatísticas que são disponibilizadas pelos
órgãos especializados, embora reconhecendo a sua fragilidade, tendenciosidade e
a falta de rigor científico na sua elaboração. O problema não é de falta de
dados, mas de seleção dos existentes e de maior confiabilidade deles.
Para quem analisa a conjuntura os dados
mais importantes são os referentes aos movimentos do Produto Interno Bruto
(PIB) que medem a soma de tudo o que é produzido no país. A observação é
facilitada se em vez dos dados brutos usarmos as taxas de variação que mostram
a percentagem do crescimento em relação ao ano, mês, trimestre, anteriores.
Estas taxas podem ser positivas (quando há crescimento) ou negativas (quando ha
decrescimento).
Além destes, há vários outros indicadores
que devem ser levados em consideração como produção industrial, produção de
bens de capital, emprego e desemprego, vendas e estoques, falências e
concordatas, níveis de salários e rendimentos, etc.
Com tais dados podemos caracterizar uma
economia em crise ou expansão sem com isto querer apontar culpados ou
inocentes. Para falar a verdade, eles não existem, pois os movimentos da economia
são inerentes a ela, são o resultado de leis econômicas do capitalismo que
ninguém criou nem conseguirá revogar enquanto o sistema existir. O mais que se
consegue com a política econômica é suavizar ou agravar, retardar ou antecipar
o fenômeno e aí sim, podem haver culpados por ignorância, erro ou oportunismo político.
Com os dados atualmente disponíveis, dizer
que a crise não existe é, no mínimo, querer tapar o sol com uma peneira. A
título de exemplo listamos alguns divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A produção industrial, que em 2014, já havia
diminuído 3,2%, entre outubro e novembro diminuiu 2,4% e no acumulado do ano,
8,1%. Esta queda atingiu 25 dos 26 ramos estudados e 71 dos 79 grupos. O setor
usa apenas 74,6% da capacidade instalada. O setor de bens de capital teve uma
retração de 25,1%, no acumulado de janeiro a novembro. O mesmo ocorreu com os
setores de bens de consumo duráveis (18,3%), eletrodomésticos (22%), bens de
consumo semi e não duráveis (6,9%), bens intermediários (4,9%), etc. Há uma
desaceleração em toda a cadeia produtiva, com aumento do desemprego e queda na
renda.
Será que isto não basta para caracterizar
uma situação de crise?
Enquanto isso, a inflação continua fora de
controle caracterizando um quadro típico de estagflação. Mesmo assim, a próxima
reunião do Copom anuncia um novo aumento das taxa de referência Selic. A
ideologia econômica do Banco Central parece que o torna cego como uma toupeira.
E com o cérebro igual ao dela.
É lamentável!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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