Semana de 08 a 14 de fevereiro de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Conforme anunciamos semana passada, cresce a ameaça
de uma nova crise mundial. A incapacidade dos bancos centrais de alavancar a economia
mundial tem levantado questionamentos acerca da eficácia das políticas
monetárias. O quantitative easing
(flexibilização quantitativa) dos países desenvolvidos, entupiu, literalmente, o
mundo de dinheiro. Os bancos americanos, por exemplo, têm US$ 2,27 trilhões em
reservas que são remuneradas a taxa de 0,5%. Mas, Janet Yellen, presidente do
Federal Reserve (Fed), banco central americano, desejando que o dinheiro tome
um destino diferente dos próprios cofres do Fed, admitiu a possibilidade de que
o juro americano entre em território negativo ainda este ano. O Banco Central
Europeu (BCE) já está praticando taxas negativas de 0,3%, assim como o Banco
Central do Japão (BoJ), que desde janeiro, adotou uma taxa básica de -0,1%.
Mesmo assim, o dinheiro não flui e a busca do
mercado financeiro é por segurança, mesmo que se tenha que pagar por isso. No
mundo emergente, as empresas estão cada vez mais endividadas. O Fundo Monetário
Internacional estimou uma fortuna de US$ 3,3 trilhões, tomados como empréstimo
no período recente de alta liquidez.
Este é o retrato da situação econômica atual. Além
da desaceleração da China e dos demais emergentes que também sofrem com o fim
dos ganhos com as commodities, testemunhamos
atualmente, a derrocada do preço do petróleo, o fracasso da Abenomics, política econômica do primeiro-ministro
do Japão, Shinzo Abe, a perda de ritmo da economia americana que pode enfrentar
uma nova recessão e o baixo crescimento do mundo europeu.
Como se não bastasse, um fato novo surge no caos. A
volatilidade, característica da essência do sistema financeiro, está deixando os
gestores econômicos do mundo de joelhos. As bolsas do mundo inteiro despencaram
esta semana. Enquanto alguns defendiam que o motivo estava associado à queda
dos preços do petróleo, um olhar mais apurado do índice Standard & Poor's
500 mostra que desde janeiro, a causa maior do tombo deste indicador foi a desvalorização
dos papéis de empresas financeiras.
No dia 11 de fevereiro, as ações em Wall Street chegaram
ao nível mais baixo desde 2013. Os “investidores” buscaram segurança nos títulos
do Tesouro dos Estados fazendo cair significativamente sua remuneração. A
instabilidade levou à queda das bolsas em todo o mundo.
Nos Estados Unidos o índice Dow Jones recuou 1,6% e
o Ibovespa, índice brasileiro, caiu 2,62%. O índice europeu FTSEurofirst 300 caiu
3,68% liderado pelo setor bancário. Este setor, já perdeu, desde o início do
ano, 28,6% de valor nas negociações. Na Europa, as maiores baixas são das ações
do Société Générale que recuaram 12,57%, logo depois de o banco divulgar um
aumento menor que o previsto do lucro líquido trimestral. Outros que perderam
foram o grego Eurobank Ergasias S.A. e o italiano Unione di Banche Italiane SpA.
Os gigantes Goldman Sachs e J.P. Morgan apresentaram queda de 4,5%, cada. E a
grande vergonha está com o Deutsche Bank, que desde novembro de 2015 perdeu
44,5% do seu valor de mercado, em meio a comentários sobre insolvência. Só em
2016, os principais bancos americanos perderam mais de 30% de seu valor na
bolsa.
Em meio às incertezas, os “investidores” buscaram um
porto seguro. Os contratos futuros do ouro subiram 4,5%.
O grande temor é que este nervosismo se torne uma
“profecia autorrealizável”. Incrédulo em relação à política dos bancos centrais
incapaz de provocar a retomada do crescimento da economia real, o sistema
financeiro provoca a queda do nível de crédito e dos preços dos ativos. Tais efeitos
retornarão e contribuirão ainda mais para a desaceleração da economia, empurrando-a
em direção a uma nova crise.
É o conhecido efeito bola de neve.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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