Semana de 01 a 07 de janeiro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Como todos sabem, o país para durante o
Carnaval. As notícias econômicas são poucas e as que são divulgadas representam
mais do mesmo, ou seja, continuamos caminhando na direção do fundo do poço.
Só o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), maldosamente, talvez querendo esfriar a euforia dos
foliões, divulgou algumas estatísticas do ano passado, apuradas pela Pesquisa
Industrial Mensal – Produção Física (PIM – PF), que apenas confirmaram o que já
se sabia. Em 2015 a produção industrial recuou 8,3%, o pior resultado desde
2003. Segundo o órgão, isto é consequência da baixa confiança de empresários e
consumidores, do desemprego, da queda na renda, do crédito caro e restrito e da
inflação. O dado mais preocupante foi a desaceleração no setor produtor de bens
de capital, que representa os investimentos. A queda foi de 25,5%. Como em 2014
o setor já havia encolhido 9,3%, a situação torna-se gravíssima, pois mostra
que, em dois anos, a produção reduziu-se mais de um terço. Isto significa que
há uma forte redução nos investimentos o que compromete qualquer recuperação
para 2016. No ano de 2015, todos os setores pesquisados pelo IBGE diminuíram a
produção com exceção das indústrias extrativas. Só no quarto trimestre de 2015,
a produção industrial recuou 3,9%, em relação ao trimestre anterior.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI)
considera que 2015 foi o pior ano para a indústria nos últimos 20 anos. O
número de horas trabalhadas caiu 10,3% em relação ao ano anterior e a
utilização da capacidade instalada foi de 77,5%. Na mesma comparação caíram
também o indicador de emprego (6,1%), a massa salarial real (6,2%), e o
faturamento (8,8%).
Isto não é uma opinião, são dados. É uma
fotografia da realidade que, independe de qualquer desejo ou interpretação.
Este quadro tende a se agravar em 2016.
Janeiro já foi um mês perdido. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea) as linhas de montagem seguem em marcha reduzida
e este foi o pior janeiro em 13 anos, o que já resultou em 379 demissões, além
dos 6,3 mil trabalhadores que se encontram afastados em “layoff” e 35,6 mil que
estão com as jornadas reduzidas. Isso significa que mais de 32% dos empregados
no setor estão com alguma restrição de atividades.
Mas, não é só no campo econômico que a
situação se deteriora. Para curtir a ressaca da insanidade carnavalesca temos
também o agravamento da situação política com a retomada das atividades do
Congresso e do Judiciário. A Lava-jato deve continuar e as investigações
caminham agora na direção do ex-presidente Lula, o que provocará manifestações
e protestos.
Enquanto a situação deve aquecer aqui
dentro o panorama internacional também se agrava. Aquilo que vínhamos alertando
nesta coluna, agora se apresenta mais claramente. A desaceleração da indústria
nos EUA já provoca previsões de possibilidade de recessão. Vários economistas
estimam em 20% a probabilidade para que isto ocorra. Há rumores que o Federal
Reserve (Fed), banco central americano, pretende suspender o programa de elevação
de juros, que vinha implementando, diante da situação mundial e da valorização
do dólar frente às outras moedas: euro (21%), iene (15%), real (72%), rand sul
africano (49%), rublo (117%), etc., o que dificulta as exportações da
indústria. Enquanto isso a União Europeia rebaixou para 1,7%, as previsões do
seu crescimento, diante da desaceleração dos três grandes: Alemanha, França e
Itália. Copiando a decisão que havia sido adotada pelo Japão, o Banco Central
Europeu (BCE), além de manter o seu relaxamento monetário (Q.E.), recomendou a
redução das taxas de juros para o campo negativo o que já acontece na Suíça,
Suécia e Dinamarca. Foi diante deste quadro que o nosso BC decidiu não aumentar
a taxa de juros Selic, mantendo-a em 14,25%. Como disse o Arminio Fraga, “nós
estamos em outro planeta”, mas continuamos a usar a mesma cartilha, que no
planeta acima do Equador não está conseguindo nenhum resultado.
Cresce a ameaça de nova crise mundial.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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