Semana de 25 a 31 de janeiro de 2016
Raphael Correia Lima Alves
de Sena[i]
Após passar mais de ano
sem que houvesse encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
(CDES), o Conselhão, ele voltou à ativa em um momento delicadíssimo para o
governo. O retorno das atividades no Planalto marca a tentativa da presidente
Dilma Rousseff em encontrar meios e alternativas para atravessar as turbulentas
crises econômica e política. Neste primeiro momento, a economia assumiu o
protagonismo e a reunião que envolveu, de representantes da CUT e MST, até
presidentes dos maiores bancos privados do Brasil, resultou numa espécie de
pacote de estímulos.
Foi anunciado um pacote
de R$ 83 bilhões em novas linhas de crédito que envolve o uso do FGTS e multa
rescisória, em caso de demissão sem justa causa, como garantia dos empréstimos
consignados concedidos aos trabalhadores, bem como diversas linhas de crédito
para micro e pequenas empresas, setor exportador, setor de infraestrutura,
entre outros. No entanto, de acordo com diversos analistas, o problema não se
encontra na oferta de crédito, mas sim na demanda. Desta forma, o impacto desse
novo pacote na economia seria bastante limitado, diante da insuficiência da
demanda para utilizar os valores disponibilizados.
Enquanto o governo tenta
encontrar uma saída para a crise econômica, os resultados de 2015 não param de
quebrar recordes negativos. O déficit fiscal de R$ 114,985 bilhões foi o maior
desde 1997 e representou um saldo negativo de 1,94% do PIB. A queda na receita
do governo e o ‘rombo’ da previdência, são apontados como os principais
culpados pelo resultado. É interessante a observação dos dados apresentados no
website da Previdência Social (www.previdencia.gov.br), onde são encontrados os
‘resultados do regime geral de previdência social’. Nessa seção são
apresentados os dados referentes à Previdência Urbana, Previdência Rural e a
Previdência como um todo. Assim, se percebe claramente o vilão do rombo e seu
principal motivo – a Previdência Rural (assistencialismo carimbado como
Previdência).
No exterior a dobradinha
China-petróleo vem causando dor de cabeça aos mercados de todo o mundo. A Opep
e a Rússia tentam ajustar um acordo para que a cotação do barril de petróleo
não atinja valores ainda mais baixos. A China continua mostrando fortes sinais
de desaceleração e derruba a cotação das principais commodities, inclusive o
próprio óleo. Na zona do euro, o Banco Central Europeu continua com suas
medidas de estímulos monetários que, até agora, não deram o resultado esperado.
O cenário japonês segue o mesmo enredo. Nos EUA, diante dos resultados
destoantes apresentados pela economia interna e do agravamento, com mais força,
da desaceleração mundial, o Fed (banco central americano) não se compromete com
o prosseguimento do movimento de aperto monetário.
No cenário político, as
atenções estão voltadas para as eleições dos líderes partidários. O destaque é
para o PMDB, onde um embate envolvendo Leonardo Picciani (aliado do governo) e
Hugo Mota, representante da ala capitaneada por Eduardo Cunha (presidente da
Câmara), terá o desfecho nesse mês de fevereiro. O vice-presidente da
República, Michel Temer (PMDB-SP) parece que colocou as barbas de molho e deu
uma amainada na sua campanha para se tornar presidente do país. O ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva passou a ser investigado pelo crime de lavagem de
dinheiro pelo Ministério Público estadual de São Paulo, no caso que envolve um
tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo. Cada vez mais o cerco está se
fechando em torno do ex-presidente e seus familiares.
Por fim, vale citar um
trecho da coluna escrita no jornal Valor Econômico pelo ex-ministro da Fazenda,
Agricultura e Planejamento, Delfim Netto, que ao comentar a polêmica em torno
da decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 14,25% discute o
protagonismo exacerbado do capital financeiro:
“No Brasil, a prova disso
é a taxa de retorno do sistema financeiro. Ela sugere ao idiota industrial,
cujo capital está sendo destruído, que tente vender a sua empresa para um idiota
ainda maior. E, se tiver sucesso, colocar o que sobrou num ‘fundo especulativo’
protegido pela inflação ou dolarizado. O sucesso, hoje, é virar ‘rentista’ e
viver dos juros da dívida do governo...”
[i]
Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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