Semana de 29 de fevereiro a 06 de março de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. Esta semana, sem dúvida, foi a mais
turbulenta do ano. Fatos políticos e econômicos agitaram, negativamente, o já
deteriorado cenário interno.
Enquanto o destino do presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, como réu da Operação Lava Jato, por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro, era finalmente selado, o Copom (Comitê de Política
Monetária) se reunia. Como o “mercado” já apostava, a decisão foi pela
manutenção em 14,25% da taxa de juros Selic, mas, não foi unânime. Ainda há
quem concorde com a elevação dos juros. O diretor de assuntos internacionais,
Tony Volpon, e o diretor de organização do sistema financeiro, Sidnei Corrêa
Marques, defenderam, veementemente, o aumento imediato de meio ponto percentual
na taxa de juros.
Ainda esta semana, os números da atividade econômica
de 2015 foram divulgados, ao mesmo tempo em que uma suposta delação premiada do
senador Delcídio do Amaral (PT-MS) abalava Brasília. Enquanto o governo e o PT
tentavam abrandar a turbulência política, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) explicava o desabar do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015.
Como já era esperado, o PIB encolheu 3,8%, sendo esta a sétima vez em que o
Brasil registrou PIB negativo. Entre os setores, apenas a agropecuária cresceu
com alta de 1,8%, quando comparada ao ano anterior. A produção da indústria
caiu 6,2% e os serviços recuaram 2,7%. A forte redução da demanda foi
registrada através do recuo de 1% do consumo do governo e de 4% no consumo das
famílias. A queda da produção interna e da importação de bens de capital
provocou uma diminuição na formação bruta de capital fixo de 14,1%.
Números recentes da produção industrial brasileira
dão conta de uma leve recuperação desta atividade. Em janeiro, a indústria
cresceu 0,4%, comparada a dezembro de 2015, segundo a Pesquisa Industrial
Mensal Produção Física do IBGE. 15 dos 24 ramos pesquisados apresentaram crescimento,
mas no acumulado anual, a indústria continua a registrar perdas e a recuperação
do setor não é consistente. É tanto que, o Índice de Confiança da Indústria
(ICI) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) caiu em fevereiro após ter
apresentado melhora em janeiro. O uso da capacidade instalada continua em queda
e atingiu 73,6%, em fevereiro. Em janeiro, este indicador era de 73,1%. Com
estoques em alta e maquinário parado, a indústria continua a registrar queda da
sua participação no PIB. Na década compreendida entre 2005 e 2015, a
participação da indústria de transformação no produto caiu para 11,4%, com um
recuo de 17,4% segundo a FGV.
No comércio, as vendas em 2015 despencaram 4,3%. No
setor de vestuário a queda foi de 8,7%. E não para por aí. A crise chegou ao
setor de serviços. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), também apurado pela
FGV, recuou 0,7%, em fevereiro, comparado a janeiro, e segundo a instituição,
há intenções de reduzir o ritmo das contratações nos próximos meses.
Como a grande maioria dos analistas defende que a
crise é de confiança, assim como Guido Mantega, o ministro da Fazenda Nelson
Barbosa demonstra otimismo, ao dizer que a atividade econômica se estabilizará
no terceiro trimestre e apresentará crescimento positivo a partir do quarto
trimestre. Segundo nota divulgada pelo Ministério, a queda do PIB, em 2015,
aconteceu devido à redução dos preços das commodities, à crise hídrica no
primeiro trimestre do ano, aos desinvestimentos da cadeia de petróleo, gás e
construção civil, à correção dos preços relativos e ao ajuste fiscal.
Mas, o fato que coroou a semana foi a condução
coercitiva do ex-presidente Lula para depor na Operação Lava Jato.
Contestações, rebuliços, protestos, discursos inflamados e, surpreendentemente,
bolsa de valores em alta e dólar em queda.
E assim, como num espetáculo burlesco, a semana terminou com uma única
certeza. A de que o pior está por vir.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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