Semana de 07 a 13 de março de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A euforia na semana encerrada no dia 5
passado espalhou-se pelos “mercados”. O dólar desvalorizou-se 5,96%, atingindo
R$3,759, a bolsa subiu tendo o Índice Bovespa acumulado uma valorização de 18%,
as taxas de juros longas caíram. A euforia continuou na semana seguinte, tendo
o dólar caído para R$3,74 e o tesouro conseguido colocar no mercado US$ 1,5
bilhão em bônus com vencimento em 10 anos, com taxa de 6,125%, considerada boa.
Mas, o que causou tamanha euforia? Não foi
a situação econômica que melhorou. Tudo foi desencadeado por fatos políticos,
como a prisão do marqueteiro João Santana, a delação premiada do Delcídio
Amaral, a condução coercitiva do ex-presidente Lula que fizeram o mercado
“precificar” o aumento da possibilidade do impeachment da presidente Dilma. Se
o impeachment for aprovado no congresso, já está “precificado”, mas se o for
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda serão feitos ajustes, dizem os
analistas.
Mas, se os especuladores apressam-se para
ganhar dinheiro, e se antecipam aos acontecimentos, os partidos de direita e os
empresários promovem os acontecimentos. A Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp), publicamente, e a Federação das Industrias do Rio de Janeiro
(Firjan), timidamente, apoiaram as manifestações do “fora Dilma” e, juntamente
com os movimentos ditos independentes “Vem pra rua” e “Movimento Brasil Livre”,
conseguiram realizar as grandes manifestações do dia 13, desta vez com o apoio de partidos políticos e
embalados por hinos e cores patrióticas. As principais palavras de ordem foram
fora Dilma, fora PT, fora corrupção. Esqueceram, porém, todos os outros
corruptos que ocupam as cadeiras do Congresso Nacional a começar pelos presidentes
das duas casas. A situação política se agrava e certamente a euforia do
“mercado” vai aumentar.
Não se sabe o que ocorrerá se a Dilma for
deposta e setores da classe média urbana, furiosa e radicalizada pelo
agravamento da situação econômica que atinge sua capacidade de consumo, tem
apelado até para a intervenção militar o que se expressou no “Bolsonaro
presidente” apelo visto nas manifestações. Vem tempestade por aí.
Tudo isso agrava ainda mais a situação
econômica, que continua a se deteriorar, o que é normal e previsível na fase de
crise do ciclo econômico. Como afirma o jornal Valor Econômico, em editorial na
edição da segunda-feira: “O Brasil passa por uma correção cíclica clássica, que
vai lidar com excessos dos anos passados ...” A política econômica dos governos
PT adiou o estouro, chamado na época de marolinha, mas não pode impedir o
movimento, que agora se completa. Pagamos o preço com atraso. O que é pior é
que, agora, o PT resolveu fazer, de forma envergonhada, a política econômica do
Aécio Neves e seu “ministro” Arminio Fraga, o que agrava a recessão por ser uma
política de austeridade, atualmente banida em todos os principais países do
mundo. Já há estimativas de que a queda do Produto Interno Bruto (PIB), em
2016, chegará aos 4%. Para o Ministro do Desenvolvimento Armando Monteiro já
chegamos ao fundo do poço e até o final do ano começará a recuperação. Os
analistas consideram isto verdadeiro para a indústria, mas o comércio
continuará em queda.
A nível internacional a situação, como já
havíamos observado, continua a se deteriorar. Duas organizações internacionais
emitiram alertas. Em Washington, o Fundo Monetário Internacional (FMI) declarou
que a economia mundial atravessa “inquestionavelmente, um momento delicado”. Há
o crescente “risco de descarrilamento da economia”. Por outro lado a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou para
uma “perda de ritmo de crescimento do Reino Unido, EUA, Canadá, Alemanha e
Japão”. Ao mesmo tempo o Federal Reserve (Fed), BC americano, alertou para uma
possibilidade crescente de recessão na economia americana e o Banco Central
Europeu (BCE) desencadeou novo relaxamento monetário reduzindo suas taxas de
juros para -0,4% e aumentando suas compras de títulos de €60 para €80 bilhões.
Como já avisamos nova crise mundial vem a caminho e se for deflagrada a
situação do Brasil ficará muito pior.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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