Semana de 19 a 26 de junho de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
As opiniões sobre a evolução da economia nacional
rumam para o consenso de que a atividade econômica estabilizou-se a um nível
mínimo, o chamado “fundo do poço”. Instituições e economistas concordam em
afirmar que a pior fase do ciclo econômico já passou, mas novos dados da
indústria automobilística sugerem o contrário.
Em julho, a montadora chinesa Chery suspenderá a
produção da fábrica no interior paulista. A empresa, que estava usando menos de
10% da capacidade instalada, acertou com os 180 trabalhadores da produção um
afastamento via lay-off que se inicia em 4 de julho com retorno previsto para 5
de dezembro. As empresas automobilísticas esperavam uma reação até o fim do
ano, mas, pelo visto, o ajuste da produção à queda das vendas demorará por mais
algum tempo. A Renault deu férias coletivas de dez dias no setor de produção do
furgão Master. A General Motors desativou a produção da fábrica de São Caetano
do Sul em São Paulo até esta semana. A Iveco, desde 25 de maio, mantém
afastados os operários da linha de caminhões pesados e, desde o dia 6 de junho,
os operários que produzem furgões e o veículo militar blindado Guarani. A
Volvo, recentemente, lançou um programa de demissões voluntárias para sanar o
excesso de 400 trabalhadores.
Portanto, a situação econômica continua delicada e
preocupante, pois de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, o setor automotivo representa no Brasil, cerca
de 23% do PIB industrial e, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), cerca de 5% do PIB nacional. Ou seja, o
segmento tem grande peso na produção da riqueza nacional, e seu efeito de
arrastamento se estende a várias indústrias como a de aços e derivados,
máquinas e equipamentos, materiais eletrônicos, produtos de metal e artigos de
borracha e plástico. Este é um sinal de que o cenário interno pode sim, piorar.
O impacto maior dá-se sobre o desemprego que não
para de crescer. Segundo o Ministério do Trabalho, o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged), registrou a perda de 72.615 vagas formais
de emprego, em maio. Foi o décimo quarto mês seguido de fechamento de vagas com
carteira assinada. Nos primeiros cinco meses do ano, o total de postos fechados
foi de 448.101 e nos últimos 12 meses encerrados em maio o fechamento de vagas
foi de 1.781.906. Dos setores pesquisados só a agricultura e a administração
pública abriram novas vagas em maio.
O governo interino ao mesmo tempo em que tenta
driblar as intempéries provocadas por seus escolhidos para o comando das
pastas, tenta manter vivo o oba-oba inicial. Desta vez, Michel Temer recebeu
empresários do setor de bens de capital mecânicos, representados pela
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ). A
indústria que provavelmente encerrará o quarto ano consecutivo de queda nos ganhos
tem suas próprias demandas. Na esperança de ampliar as vendas externas, quer um
câmbio competitivo. Para saldar suas dívidas quer um refinanciamento e
recomenda que se mantenha ativo o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). Por fim, deseja estímulos para investir por meio da
queda da taxa de juros. Todas as reivindicações vão contra as políticas do
governo.
O Banco Central pressionado pelo discurso de que há
a necessidade de retomar a sua “credibilidade” certamente não cortará os juros.
Como opina parcialmente Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse:
“... o corte de juros no curto prazo prejudicaria o cumprimento da prioridade
da instituição, qual seja, a de aumentar a crença de todos de que a inflação no
Brasil diminuirá de forma gradual e contínua...”
O governo então se depara com uma imensidão de
demandas. Políticas, sociais e econômicas e financeiras. Todas conflitantes
entre si. Como não se pode agradar gregos e troianos, quem é que vai pagar o
pato?
Não é necessário grande esforço para descobrir.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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