Semana de 27 de junho a 03 de julho
de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O plebiscito realizado dia 23 de junho no
Reino Unido (RU) foi o assunto mais comentado da semana. A aprovação por uma
pequena maioria do Brexit, sigla que identificou o processo de saída dos
britânicos da União Europeia (UE), abalou os fundamentos da Europa unida e
agora se teme a desagregação do bloco. A vitória do Brexit mostrou o grande
descontentamento das populações com os partidos políticos que se revezam no
poder, com as desigualdades e os problemas sociais que não encontram solução. O
arrastamento da crise econômica, que não termina, a espera de uma recuperação,
que se arrasta, os problemas do desemprego, da imigração e dos refugiados, são
os temperos que possibilitaram a virada que enganou até os experientes George
Soros e o Deutsche Bank, o mais poderoso banco europeu.
Agora se discutem as consequências e a
forma como o desligamento será realizado. França e Alemanha pressionam o Reino
Unido para que oficialize o pedido de desligamento para que as ações possam ser
iniciadas. O destroçado governo inglês, após a renúncia do primeiro ministro,
não consegue tomar nenhuma iniciativa a espera das decisões do parlamento. As
bolsas despencam, as ações dos bancos e das empresas caem, o sistema financeiro
entra em pânico. Segundo George Soros o Brexit pode precipitar a crise.
Se o ciclo mundial entrar em nova fase de
crise já temos um culpado: os britânicos.
Em várias análises anteriores já vínhamos
apontando sinais da aproximação de uma nova crise mundial, que daria início a
um novo ciclo. A característica deste novo ciclo é que ele se precipitou,
seguindo a mesma periodicidade do anterior, o de 2008. O Fundo Monetário
Internacional (FMI) já havia observado que todo o socorro feito aos bancos
pelos Bancos Centrais (BCs) e o afrouxamento monetário (quantitative essing)
que despejou trilhões de dólares no mercado não foi suficiente para dar início
a uma forte recuperação. O FMI já havia observado a fragilidade do Deutsche
Bank AG, e alertado para a possibilidade de um estouro. Outros bancos como o
HSBC Holding e o Credit Suisse Group também foram citados na lista dos
vulneráveis. O FMI alertou ainda que as consequências seriam graves para as
economias da Alemanha, França, Reino Unido e EUA. Com a decisão dos britânicos
a situação deve agravar-se e já começou o salve-se quem puder. É o que
assistiremos nas próximas semanas.
Esta situação terá duras repercussões no
Brasil e será mais um entrave nos planos do governo Temer. A economia nacional
continua péssima apesar de todo o esforço do governo em dourar a pílula e
mobilizar um batalhão de empresários para, como claque organizada, realizar
manifestações de aplausos e apoio e oferecer um público onde ele possa fazer
seus canhestros discursos sem risco de ser vaiado. Uma das características do
agravamento de uma crise é o crescimento do número de falências de empresas de
grande porte. Isto é o que precisamente está ocorrendo agora. Para não falar na
Petrobras e Sete Brasil, traiçoeiramente assaltadas pelas gangues partidárias,
temos os casos de pedidos de recuperação judicial da telefônica Oi, das
siderúrgicas Usiminas e CSN, da mineradora Samarco, de 15 grupos do setor sucro
alcooleiro, da aérea Gol, etc. Por mais que o IPEA e o IBGE, agora devidamente
aparelhados pelo PMDB, busquem divulgar dados manipulados nada conseguirá
enganar os agentes econômicos.
A situação continua a agravar-se. Não
chegamos ao fundo do poço, o crédito continua caro e escasso, as taxas de juros
e o desemprego elevados e as vendas e a produção continuam em queda. E, com
Meirelles, vem mais arrocho por aí.
O governo Temer não consegue sequer
unificar sua base parlamentar de apoio, a mesma base fisiológica, corrompida,
formada pelo “centrão” e pelo PMDB que considera ter chegado sua vez de
atirar-se à mesa para o banquete.
E é preciso ainda satisfazer os interesses
do PSDB e DEM que espreitam a oportunidade para cobrar dividendos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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