Semana de 30 de maio a 05 de junho de
2016
Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
Nos últimos anos, a suposição de que o
restante da sociedade agiria de acordo com seus planos tem sido um problema
marcante para o Governo Federal brasileiro.
Tudo começa com a crise econômica mundial
que atinge o Brasil em 2008. Ali o governo do presidente Luís Inácio “Lula” da
Silva assume uma postura clara: adota políticas anticíclicas aumentando os
gastos e barateando e expandindo o crédito. Por mais que tal política econômica
implicasse elevação da dívida pública, muito provavelmente se esperava poder
“segurar as pontas” até que a economia mundial retomasse sua trajetória de
crescimento. Faltou, entretanto, acordar com os capitalistas do resto do mundo
a data na qual tal recuperação iria se processar.
Estamos agora em 2016, e essa recuperação
ainda é incerta. Por um lado, França e Suécia dão sinais positivos com o
crescimento respectivo de 1,5% e 4,2% do PIB no primeiro trimestre de 2016,
frente o mesmo período de 2015, de acordo com suas respectivas agências
oficiais de estatística. Os EUA seguem essa tendência com o crescimento de 1%
do consumo em abril, frente a março, sendo este o maior crescimento mensal
desde 2009 de acordo com o Departamento de Comércio, e com a elevação de 5,2%
dos preços dos imóveis nos 12 meses findados em março, de acordo com o índice
de preços nacional da S&P/Case Shiller. Por outro lado, contudo, o Global
Manufacturing Purchasing Manager’s Index, índice dos gerentes de compras das indústrias
do globo calculado pelo JP Morgan e pela Markit, ficou em 50 pontos em maio,
precisamente na linha divisória entre crescimento e contração. Além disso, a
OCDE projeta que o comércio global crescerá apenas 2,1% em 2016. Caso se
confirme, essa será a pior taxa desde 2008.
Assim, como a economia internacional não se
recuperou, a crise retornou mais violenta do que antes e a insatisfação com a
situação econômica do país se generalizou. As classes altas da sociedade
brasileira, contudo, entenderam que a culpa de tal situação era integralmente
do governo e, por isso, articularam forte oposição contra este. Dentre as
diversas “bandeiras” levantadas pela oposição, a da denúncia da corrupção foi a
que obteve a maior expressão nacional, daí a sua escolha como pretexto para a
substituição do governo de Dilma Rousseff pelo governo interino de Michel
Temer.
Novamente, contudo, a falta de coordenação
aparece para atormentar o governo. Ora, se a corrupção afastou o PT do poder,
certamente a população espera como resultado a constituição de um governo de
reputação ilibada. Acontece que o presidente interino não poderia combinar com
os membros de sua futura equipe e não poderia avisá-los antecipadamente que
parassem de se envolver nos trambiques característicos da política brasileira.
Assim, atualmente, vemos se desenhar um cenário, no mínimo, engraçado.
As investigações de identificação de atos
ilícitos cometidos por políticos não só continuaram a pleno vapor, como alguns
acordos importantes de delação premiada se concretizam no momento atual.
Contudo, ao invés de dar apoio ao processo, o governo interino já teve de
despedir-se de dois ministros, Romero Jucá (PMDB-RR) e Fabiano Silveira, por
terem sido flagrados em gravações nas quais articulavam meios de barrar a operação
“Lava-Jato”. Ao que parece, diante da impossibilidade de constituição de um
governo íntegro, se pretende acabar com a corrupção através do fim das
investigações.
Na parte econômica, a situação de crise no
Brasil se mantém. De acordo com a CNI, a indústria apresenta uma taxa de
utilização da capacidade instalada de 76,9%, a menor desde 2002. O IBGE, por
sua vez, aponta queda do consumo das famílias de 1,7% no primeiro trimestre
desse ano, frente ao trimestre anterior, uma queda do PIB de 0,3% em igual
período e uma taxa de desemprego de 11,2% em abril, a maior desde 2012.
Entra governo, sai governo e a situação
política e econômica parecem inalteradas.
Diante disso fica a pergunta: será que o
atual governo sabe ao menos com quem deve articular a retomada do crescimento?
[i] Doutor
em Desenvolvimento Econômico pelo PPGDE/UFPR e pesquisador do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira; (www.progeb.blogspot.com).
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