Semana de 23 a 29 de maio de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A reunião do G-7, grupo dos sete países
mais industrializados do mundo, realizada no Japão, na semana passada, não
trouxe grandes novidades além de reconhecer a lentidão da recuperação da
economia mundial e recomendar a manutenção das políticas monetárias frouxas, os
estímulos fiscais e as reformas estruturais para acelerar o crescimento. O
Japão, no entanto, apontou um cenário mais sombrio alertando para o perigo de
uma nova crise. Com efeito, a desaceleração da China continua a preocupar a
todos e afeta diretamente os países vizinhos como Taiwan, Coréia e o próprio
Japão. Os EUA tiveram uma visão mais otimista, mas os países da União Europeia
se encontram diante de uma situação mais difícil com a fuga de recursos dos
títulos de dívida que, só em março, atingiu 500 bilhões de euros. O pessimismo
dos investidores tem levado à venda de ações de empresas europeias e a fuga
para outros marcados.
No Brasil a situação é um pouco pior como
temos constatado em análises anteriores. Não há sinais de retomada do
crescimento e a aposta é se já chegamos ao fundo do poço ou não. O desemprego
continua a aumentar, a produção industrial a cair, juntamente com as vendas.
O governo desmoraliza-se a cada dia. Depois
de ter sido obrigado a recuar e recriar o Ministério da Cultura teve de demitir
seu ministro do planejamento Romero Jucá. Agora caiu mais um ministro, o
encarregado de zelar pela moralidade do governo e que foi impedido pelos
funcionários de entrar em seu próprio ministério. Foi apanhado pelas deleções
premiadas da Lava Jato que agora se aproximam perigosamente do PSDB de Minas e
do Senador Anastasia. O PSDB e o DEM, partidos da base aliada, tiraram o corpo
fora e o governo Temer foi obrigado a “aceitar” o pedido de exoneração feito
pelo ministro. Correm as apostas para saber quem será o próximo.
Diante desses acontecimentos, Temer gasta
suas energias tentando manter seu governo e sua base de apoio. Os empresários
aumentam sua desconfiança na capacidade do governo conseguir implementar as
mudanças que prometeu e manifestam sua oposição a qualquer elevação de impostos
já cogitada por Meirelles. Aliás, o ministro Serra já explicitou suas
discordâncias do programa de austeridade afirmando que em períodos de depressão
“não há ajuste fiscal possível”. Criticou também os juros altos,
responsabilizando-os por 90% do déficit nominal e o custo da política de
intervenção do Banco Central (BC) no câmbio.
Obcecado pelo equilíbrio fiscal e
reconhecendo que a queda da receita é inevitável, Meirelles fala em acabar com
o Fundo Soberano, o que cria problemas para as ações do Banco do Brasil (BB)
que ele contém, pois a venda do pacote, além de derrubar a cotação das ações, eleva
o risco da perda do controle acionário pelo Estado. A outra solução para
aumentar a receita é a liquidação das reservas internacionais que somam US$
374,5 bilhões, o que corresponde a R$ 1,3 trilhões, o que daria para cobrir
sete vezes o buraco do orçamento. Sem contar o custo de carregamento destas
reservas que, só no ano passado, aumentou a dívida em US$ 24 bilhões.
Outra fonte de receitas são as ações
detidas pelo BNDES através de seu braço BNDESPar, que montam R$ 56,2 bilhões.
Entre as empresas contidas no pacote estão a Petrobras e a Eletrobras o que
também envolve problemas de controle acionário. Mas há dezenas de outras como
Cemig, Energisa, Light, Renova, CSN, Gerdau, Suzano, Klabin, JBS, etc. Este
fundo, nos últimos 12 meses, deu ao BNDES um prejuízo de 36% diante da
desvalorização das ações, que hoje renderiam R$71 bilhões.
E o governo ainda não agendou as questões
mais quentes como a reforma da previdência e da legislação trabalhista.
Acossado pelas contradições de seu próprio
grupo e irritado com as manifestações que ele chama de agressões Temer em um
discurso reagiu afirmando que, como Secretário de Segurança em São Paulo, sabia
tratar com bandidos.
Com a base de apoio que dispõe e os
ministros que compõem o seu governo parece que o presidente precisará de toda a
sua experiência.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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