Semana de 18 a 24 de julho de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
A frase “Não pense em crise, trabalhe” foi proferida
pelo presidente interino em seu discurso de posse e espalhada em outdoors pelos
quatro cantos do país. De acordo com esta visão simplista, a crise econômica é
fruto do pensamento pessimista que se espalhou devido aos “desmandos” do
governo de Dilma Rousseff. Então basta cantarolar feliz, esquecer os problemas,
sinalizar mudanças e arrumar as contas públicas, recuperando a “credibilidade”
que logo esta fase passa.
Mas a realidade objetiva teima em se impor e os
números da atividade econômica mostram que a recuperação da “confiança”
dificilmente afetará a economia real. A Confederação Nacional da Indústria
(CNI) lançou a Sondagem Industrial e detectou que todos os indicadores de
expectativas variaram positivamente em junho. Os índices de expectativa de
demanda, de exportação, de compras de matérias-primas e de emprego vêm
crescendo. Mas, ressalta a CNI, embora em ritmo mais leve, “no lado real, a
contração continua”. Como os estoques caíram em 1,1% e a utilização da
capacidade instalada permanece em 64%, desde março de 2016, a grande dúvida é
se os anseios das sondagens virarão produção efetiva. O índice de intenção de
investimento subiu apenas 0,2%, em junho, e o pequeno crescimento da indústria
de bens de capital parece não ser suficiente para alavancar a Formação Bruta de
Capital Fixo que fechará o ano com queda entre 7% e 10%, segundo as mais
recentes estimativas.
A venda de fogões, lavadoras de roupa e refrigeradores,
no primeiro semestre do ano, caiu 9,8%, em volume, em relação ao primeiro
semestre de 2015, segundo a Eletros. Na linha marrom, setor que inclui os
televisores, a queda foi de 18,7% e entre os portáteis, o tombo das vendas foi
de 19%. Em tempos de crise, as empresas continuam a tomar medidas visando
reduzir custos. A Brasil Kirin, que já havia vendido uma fábrica de cerveja no
Rio de Janeiro para a Ambev, está negociando a venda de duas outras unidades
para a Heineken, situadas no Ceará e em Goiás. E a General Mills, fabricante
americana de alimentos, fechará as fábricas de Marília e São Bernardo do Campo,
em São Paulo. Serão 420 trabalhadores desempregados.
O setor de construção civil registrou, no primeiro
semestre de 2016, uma queda de 11,1% na construção por metros quadrados,
segundo a Tendências Consultoria. Em agosto, uma comitiva do setor chegará, com
o prato na mão, ao Palácio do Planalto.
O cenário desolador que se impõe, transmite urgência
às tomadas de decisão do governo Temer. O presidente interino chegou
entusiasmado ao seu gabinete esta semana, comemorando o resultado da pesquisa
Datafolha noticiado no sábado (16). A pesquisa, divulgada pelo jornal Folha de
São Paulo, indicou que 50% dos entrevistados preferem que Michel Temer siga na
presidência até 2018. Logo, o mandatário queria lançar as medidas econômicas
para suavizar a divulgação do contingenciamento do Orçamento. O ministro da
Casa Civil, Eliseu Padilha, ao comentar a pesquisa do Datafolha destacou que o
“rumo, o esforço, a determinação e o foco do governo, especialmente na área
econômica e nas relações com o Congresso Nacional, estão propiciando que a
esperança criada com a posse de Temer se converta, progressivamente, em
confiança”.
Mas... Em 24 de julho, em um artigo de título “A Folha
errou e persistiu no erro”, a ombudsman da Folha de São Paulo, Paula Cesarino
Costa, assumiu que o jornal publicou dados incompletos sobre a pesquisa
Datafolha. Na pergunta “O que é melhor para o país?” 62% dos entrevistados
disseram preferir novas eleições, 19% Temer continuar, 12% o retorno de Dilma e
7% deram outras respostas. A Folha isolou os 62%, que preferiram novas
eleições, e pesquisou os 38% restantes. Daí, surgiu 50% dos entrevistados que
preferem Temer.
Na verdade, para 81% dos entrevistados quaisquer
outras saídas à crise política são melhores que o governo Temer.
E agora? Cadê a confiança?
Alegria de interino dura pouco.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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