Semana de 25 a 31 de julho de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Em várias análises temos falado sobre o
“fundo do poço” e teremos de continuar falando, pois a questão continua na
ordem do dia e na boca de todos os analistas econômicos. Essa discussão implica
no reconhecimento de que a economia se desenvolve em ciclos que se repetem com
fases sucessivas: crise (começo da queda), depressão (parte mais baixa da
queda, fundo do poço), recuperação (retomada do crescimento) e auge
(crescimento rápido e euforia). Todos admitem que a crise nos levou ao fundo do
poço (depressão). O que se discute é se continuamos lá, se estabilizamos a
queda ou se já começamos o movimento de recuperação. Alguns tentam fazer crer
que tudo é uma questão de expectativas. É por isso que o governo e seus agentes
esperneiam na tentativa de aparentar confiabilidade, coisa difícil quando
analisamos a ação do governo. Sucessivos ministros e outros auxiliares são
demitidos, sempre que suas ligações com a corrupção são descobertas. O discurso
de equilíbrio fiscal desmoraliza-se quando são aprovados aumentos de salários
para funcionários públicos e recriam-se ministérios extintos. Comenta-se que
será recriado o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para premiar o
grande pelego Paulinho da Força, cujo filho já foi agraciado com o INCRA de São
Paulo. O governo Temer continua usando os mesmos métodos criticados no governo
anterior, do qual ele fazia parte, para comprar com cargos sua base no
congresso. E as comissões de empresários, que se sucedem em visitas de apoio
irrestrito, chegam todas com o apoio em uma mão e a cobrança de favores na
outra. Foi assim com os representantes da Confederação Nacional da Indústria,
do Comércio, dos bancos, da construção civil, etc. Todos pediram crédito
barato, favores fiscais, encomendas do governo e as reformas, que sempre
objetivam retirar as garantias que protegem os trabalhadores, desonerar as
folhas de pagamento, reduzir os impostos, “flexibilizar” o mercado de trabalho,
etc.
Enquanto isso, a economia continua a
apresentar sinais de que continuamos no fundo do poço. As montadoras e setor de
autopeças trabalham com 52% de ociosidade. Na produção de caminhões a
ociosidade sobe para 75%. Desde janeiro a venda de carros de passeio caiu 25,4%
e a de caminhões 31,4%. A queda na atividade econômica tem reflexos na
arrecadação de impostos e a contribuição mais negativa é a da indústria. No
primeiro semestre a queda na indústria foi de 10,3%, pior que a no varejo, que
foi de 9,8%. Na indústria metalúrgica a queda foi de 31,8%, nas máquinas e
equipamentos, 24,1% e nos equipamentos de informática e eletrônicos, 22,5%. Na
arrecadação de impostos a queda, em junho, foi de 7,14% e no semestre, 7,33%.
Apesar deste nebuloso quadro o governo
acredita que a recuperação terá início no quarto trimestre e acelerará em 2017,
apontando como único perigo o ambiente externo, com a alta de juros dos EUA, a
desaceleração da China e as dificuldades da União Europeia (EU) após o Brexit.
Já o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), no
Boletim Macro, considera que a economia ainda não saiu do fundo do poço, que
este ano a queda do PIB será 3,5%, e não vê expansão do PIB em 2017. O Banco
Central (BC), no seu Boletim Focus aponta uma queda de 3,27% para ao PIB deste
ano e a Cepal estima em 3,5% esta queda, para o Brasil, e 0,8%, para o conjunto
da América Latina.
O desemprego continua em torno dos 11,3%,
no último trimestre, e a Fiesp, afirma que o Índice do Nível de Atividades
(INA) apresentou uma queda de 9,9%, no primeiro semestre, frente ao ano
passado.
Estes dados mostram que a economia ainda
não voltou aos trilhos e a credibilidade do governo não é reconhecida nem pelo
BC que, na reunião do Copom, manteve a taxa Selic em 14,25% por não confiar,
nem na seriedade, nem na “qualidade” do ajuste fiscal prometido.
Enquanto isso o secretário-geral da OCDE,
após a reunião do G-20, declarou os seus temores de que a situação da economia
mundial piorou e continuará mal em 2017, pois os quatro motores que a
impulsionam deixaram de funcionar: investimentos, comércio internacional,
financiamento, emergentes.
Está mal! Será que não se pode confiar na
realidade?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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