Semana de 11 a 17 de julho de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Nos últimos tempos tem aumentado o berreiro
sobre a recuperação da economia. Os economistas do governo, as autoridades, os
jornais, a TV Globo, os comentaristas, todos fazem questão de criar um ambiente
otimista sobre o fim da crise. E isto é decisivo para o governo já que todos
acreditam que os movimentos da economia são regidos por “expectativas” dos
agentes. Quando a expectativa é negativa a economia afunda. Se for positiva,
otimista, por milagre o crescimento é retomado. Tudo é uma questão de
credibilidade. Assim, uma vez derrubado o PT, superada a corrupção, criada uma
equipe econômica “confiável”, com um bom e sério governo, teria sido restaurada
a credibilidade e a economia deveria entrar em recuperação. Infelizmente,
apesar do berreiro, os únicos indicadores que são apresentados são indicadores
subjetivos e duvidosos que reportam o humor dos empresários, consumidores e
“investidores”. Os indicadores objetivos apontam, em outra direção. Vou apenas
citar alguns exemplos.
Em maio, em relação à abril, o varejo caiu
1%, a venda de materiais de construção, 3,7% e os serviços 0,1%. A indústria se
manteve estável e o desemprego ficou nos 11,2%. No entanto o número de pessoas
que recebem menos que um salário mínimo aumentou de 19,4% para 23,5% e a
previsão é que, até o final do ano, o número dos empregados com carteira
assinada caia, de 57,2%, para 55%. A Volskwaguem de São Bernardo do Campo está
promovendo a demissão de 3,6 mil operários, 30% do total do pessoal ocupado,
além de cortar gratificações, pagamentos de horas extras, adicionais por
serviço noturno e insalubridade. Admite-se que a queda na indústria
automobilística já atinge os 20%.
Para agravar a situação o processo de
valorização da moeda nacional ante o dólar continua apesar das intervenções do
Banco Central (BC) que, contrariando as promessas de restauração do tripé
macroeconômico (meta de inflação, superávit primário, câmbio flutuante), remove
a perna do tripé do câmbio flutuante, voltando à política de “flutuação suja”
usada pelo ex-ministro Mantega e tão criticada na época. A valorização do real
dificulta as exportações tidas como um dos estímulos à recuperação.
Se a economia patina, o governo se enterra
em contradições.
O resultado das privatizações já realizadas
não está sendo o esperado. A receita vinda da entrega dos aeroportos não vem
sendo recolhida, pois as concessionárias não pagam. Seis delas já devem ao
governo R$2,6 bilhões, sem contar os juros (Viracopos R$173,7 milhões;
Guarulhos R$1,1 bilhões; Galeão R$933,4 milhões; Confins BH R$74,4 milhões,
etc.) Nas rodovias a situação é semelhante e os investimentos prometidos não
estão sendo realizados. E o governo não cobra como também não vem cobrando os
impostos devidos por grandes empresas que os utilizam como forma de
capitalização, já que o crédito no sistema bancário continua escasso e sendo
reduzido.
Com esses dados não nos parece que haja
sinais de recuperação à vista. Tudo indica que nos aproximamos do fundo do
poço, ou seja, a situação ainda está piorando, mas a um ritmo mais lento.
No campo político o governo sofreu uma
derrota na eleição para a presidência da Câmara com a vitória do candidato do
DEM que contou até com os votos de parte do bloco aliado ao PT. Era preciso
remover o defunto Eduardo Cunha do ambiente. O resultado criou uma grande
alteração nas alianças dos partidos representando um rude golpe no “centrão”, o
que obrigará Temer a rever a sua base de apoio. Mais complicação para o
governo: gerir agora uma aliança PMDB – PSDB – DEM.
As esperanças de uma recuperação, no
entanto, estão condicionadas por acontecimentos internos e externos.
Internamente será difícil estimular a economia mantendo-se uma política de
austeridade fiscal defendida fanaticamente pelas forças que estão no poder.
Externamente, dependemos da recuperação da economia mundial, o que se torna
cada vez mais difícil diante da ameaça de uma nova crise em gestação, agravada
pelo Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, e das dificuldades da
economia chinesa que continua a se arrastar.
Por enquanto ficamos no fundo do poço.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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