Semana de 04 a 10 de julho de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, em meio a uma crise política que parece
longe de acabar, a economia brasileira continua a amargar maus resultados. A
produção industrial ficou estável entre abril e maio, de acordo com a Pesquisa
Industrial Mensal Regional do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), interrompendo a sequência positiva de 1,4%, em março, e 0,2%, em
abril. Em oito dos 14 locais pesquisados houve queda da atividade. O resultado
foi recebido com surpresa (exceto por nós que fazemos esta coluna) já que se
esperava uma inflexão, uma saída do fundo do poço. Dados da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) mostram que o faturamento real do setor caiu 3,8% e
as horas trabalhadas na produção recuaram 3,6%, em maio, comparado a abril. A
utilização da capacidade instalada foi de 77% e o emprego industrial caiu 0,8%,
em maio. Diante do quadro sombrio, a instituição alterou sua projeção de uma
queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,1% para 3,5%, em 2016, com queda da
produção industrial de 5,4%. O recuo da atividade pode ainda ser verificado
pelo sucessivo aumento do desemprego. Segundo a PNAD Contínua, em maio, o
desemprego atingiu 11,2%. E não restou alternativa ao ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, a não ser reconhecer que a taxa pode chegar a 14%, até
dezembro. Finalizando o retrato nebuloso, veja-se o expressivo aumento dos
pedidos de falência e de recuperação judicial no país. De acordo com a Boa
Vista SCPC, no primeiro semestre deste ano, os pedidos de falência aumentaram
26,5%, comparado ao mesmo período de 2015 e, segundo a Serasa Experian, os
pedidos de recuperação judicial elevaram-se em 87,6%.
Esses resultados falam por si só e são derivados da
conjuntura de crise. Com uma equipe econômica altamente conservadora deveremos
esperar o pior. O presidente do Banco Central ao assumir seu posto, se adiantou
em afirmar que “o velho e bom tripé macroeconômico: responsabilidade fiscal,
controle da inflação e câmbio flutuante” está de volta. Mas, Ilan Goldfajn, em
entrevista recente ao Jornal Valor Econômico, jogou o tripé no lixo: “Não sou
advogado de um câmbio flutuante puro em economias emergentes”. Segundo a nova
equipe a intervenção no mercado de câmbio continuará e será pontual. E como a
responsabilidade fiscal em virtude do desarranjo geral não será alcançada tão
cedo, duas das pernas do tripé foram amputadas. Restou-nos o velho e bom “saci”
macroeconômico: o controle da inflação por meio dos juros altos. Esta será a
“questão de primeira ordem”.
O presidente do Banco Central declarou também saber
dos efeitos que o ajuste fiscal provocará e da dimensão da crise econômica.
Segundo ele, “[...] o desemprego subiu muito, o ajuste fiscal vai ocorrer ao
longo do tempo, vai exigir reformas, vai exigir medidas.” Portanto, devemos
estar preparados.
O leitor assíduo desta coluna já sabe quem vai pagar
o pato. Mas, a emblemática declaração do presidente da CNI (Confederação
Nacional da Indústria) reforça perfeitamente a questão. Robson Andrade em
encontro com o presidente interino Michel Temer com cerca de 100 empresários do
Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), disse que o
déficit fiscal será sanado com “mudanças duras” na Previdência Social e nas
leis trabalhistas. Citando o exemplo da França (onde as propostas de mudanças
das leis trabalhistas estão sendo ferozmente combatidas nas ruas), falou: “No
Brasil, temos 44 horas de trabalho semanal. As centrais sindicais tentam passar
esse número para 40. A França, que tem 36 passou, para a possibilidade de até
80 horas de trabalho semanal (sic) e até 12 horas diárias de trabalho.”.
E finalizou solenemente: “O mundo é assim. A gente
tem que estar aberto para fazer essas mudanças. E nós ficamos aqui realmente
ansiosos para que essas mudanças sejam apresentadas no menor tempo possível”.
Após o alarido geral causado pela declaração, a CNI
em nota disse que não era bem assim, mas o que está dito, está dito: você
trabalhador é o grande culpado porque está trabalhando pouco.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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