Semana de 05 a 11 de setembro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A semana foi perturbada por acontecimentos
políticos e esportivos. A paraolimpíada ocupou todos os noticiários e canais de
televisão. Todos se preocupam a contar medalhas, principalmente as de ouro. O
resto do tempo foi destinado aos acontecimentos políticos, novas operações da
Polícia Federal e o julgamento do Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados.
Finalmente o país pode respirar com a exclusão de um gênio do mal por alguns
anos. Especula-se agora se ele fará ou não uma delação premiada o que faz
tremer algumas dezenas de políticos inclusive o próprio presidente Temer. O
resultado da votação 450x10 foi inesperado. Atribui-se ao “efeito manada” a
debandada da “tropa de choque” do Cunha. Diante do naufrágio, as ratazanas
abandonaram o navio. É aguardado agora o reagrupamento das forças políticas, a
desagregação do “Centrão” e o aumento das contradições PSDB x PMDB diante das
reformas que serão propostas.
Enquanto isso, a situação econômica se
deteriora. O governo esforça-se em provar que o pior já passou usando os
chamados indicadores antecedentes com destaque para os subjetivos, ou seja, os
que medem a confiança dos empresários e consumidores e que apresentam ligeira
melhora. Os dados objetivos apontam no máximo para uma desaceleração da queda.
Na indústria há frágeis sinais de melhora, mas os setores ligados ao mercado
interno mantêm resultados negativos. O indicador Serasa Experian de Atividade
do Comercio retraiu 1,2%, em julho sobre junho. O mercado de trabalho continua
piorando, as taxas de juros em elevação e o crédito em queda. O número de
pedidos de recuperação judicial bateu recorde em agosto com um crescimento
acumulado no ano de 61,2%. Foram 1.235 empresas o maior número desde 2006, no
mesmo período de tempo. Temos de
acrescentar ainda uma acentuada redução no volume de negócios no setor de
serviços, também em agosto.
Com este quadro é difícil falar-se em
recuperação.
No plano internacional o acontecimento mais
importante foi a reunião do Banco Central Europeu (BCE) na quinta feira (8/9).
A preocupação foi a desaceleração observada em agosto, em relação a julho, nas
cinco maiores economias da região. Os 25 membros do conselho do BCE reconheceram
a contribuição positiva das medidas adotadas em março: redução da taxa de
referência de 0,05% para zero, da taxa de empréstimo de 0,3% para 0,25% e da de
depósitos de -0,3% para -0,4%, bem como do aumento do limite de aquisição de
ativos de 60 bilhões para €80 bilhões por mês, incluindo compra de bônus
corporativos. Apesar disso observou-se a desaceleração o que levou o presidente
desta instituição, Mario Draghi, a apelar para reformas, uma maior ajuda da
política fiscal e aumento dos gastos com infraestrutura e educação.
Enquanto a União Europeia (UE), o FMI e o
Banco mundial (BM) recomendam política de relaxamento monetário e fiscal para
tentar reverter a crise, o governo Temer, na contramão, inspirado e comandado
pela “equipe dos sonhos”, sob a batuta do ministro Meirelles, propõe e pretende
adotar a política econômica oposta: o arrocho monetário das taxas de juros mais
elevadas do mundo e uma rígida austeridade fiscal com as medidas que vêm por
aí. Prepara-se a chamada PEC com o teto dos gastos, a contenção das despesas, a
reforma da previdência, a reforma da legislação trabalhista, a contenção dos
salários, etc.
Esta aparente loucura, no entanto, tem por
trás uma ideologia econômica importada dos EUA e que foi abandonada atualmente
por ser inútil. A “equipe dos sonhos” acredita que o problema é o equilíbrio
fiscal. Uma vez equilibradas as contas públicas, instalado um governo que
restaura a credibilidade e a confiança, os juros cairão, os empresários
começarão a investir e os consumidores a consumir. É um milagre que dará início
ao desenvolvimento sustentado com distribuição de riqueza. Só não conseguem
dizer quem criou esta regra e onde, ou em que época, tal fenômeno ocorreu. A
realidade nos demonstra precisamente o contrário. Este é o caminho do caos e do
aprofundamento da crise.
As manifestações de protesto que atualmente
se espalham pelo país certamente aumentarão.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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