Semana de 12 a 18 de setembro de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, esta semana foi agitada. Começou com um
placar de 450 a 10. A Câmara dos Deputados finalmente cassou, na segunda 12/09,
o mandato de Eduardo Cunha. O agora ex-deputado ameaça jogar tudo no ventilador
com um acordo de delação premiada que ele nega veementemente estar negociando.
Como se não bastasse, promete ainda, escrever um livro contando os bastidores
do impeachment.
E na quarta, 14/09, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e mais sete pessoas foram denunciadas pelos procuradores da Operação
Lava Jato pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A imprensa foi
convocada e o procurador Deltan Dallagnol detalhou a denúncia com uma
apresentação em PowerPoint digna de um estudante do primeiro período de
graduação. Com carência de provas concretas, a equipe concluiu que Lula é o
“... comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato.” Na
quinta, 15/09, Lula se pronunciou destacando as falhas da denúncia e desafiou:
“Provem uma corrupção minha que irei a pé para ser preso”.
Enquanto se espera o desenrolar destes fatos, só
temos boas notícias do lado subjetivo, irreal da economia. O Valor Econômico
realizou uma enquete junto a 199 empresários e estes se declaram “confiantes”
em relação à recuperação da economia brasileira. Diferentemente da maioria dos
economistas, os empresários conseguem fazer um elo entre a ficção e a
realidade. Sem ilusão, afirmam que o avanço da confiança, deve vir acompanhado
de altas no nível de emprego, das vendas e dos investimentos.
Não é à toa que eles chegam a esta conclusão. A
realidade econômica continua a decepcionar. As vendas no varejo restrito
(exceto as vendas de veículos e material de construção) caíram 0,3%, em julho,
comparadas a agosto. O varejo ampliado teve queda de 0,5%. Entre janeiro e
julho, o setor já perdeu 6,7%. Com exceção dos que fazem esta coluna, a maioria
dos analistas encara com surpresa o resultado, pois, afinal, as expectativas do
comércio haviam melhorado e por isso, as vendas “deveriam” aumentar. Mas elas não
aumentarão. O indicador da Serasa de atividade do comércio registrou recuo em
agosto devido à queda das vendas do Dias dos Pais. Espera-se então, um péssimo
terceiro trimestre.
O setor automobilístico registrará uma queda de 45%
das vendas nos últimos quatro anos além de altíssima capacidade ociosa em 2016
(em torno de 50%).
Mesmo assim, a maioria dos economistas insiste em
afirmar que o fundo do poço foi superado. O Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) alerta para a ocorrência de um “falso
positivo”. Ou seja, o sobe-e-desce da economia não oferece segurança sobre o
processo de recuperação. E as altas taxas de desemprego, aliadas ao baixo nível
de investimento e às incertezas quanto à contribuição do comércio internacional,
poderão abortar o que nem começou.
Mas não devemos nos preocupar. Afinal, temos a
“equipe econômica dos sonhos” (ou dos pesadelos?) que nos tirará do atoleiro. E
um primeiro passo foi dado. O governo lançou em 13/09, sob a máxima de vender o
que puder, um novo pacote de concessões. Serão 34 projetos de concessão e
privatização nas áreas de aeroportos, portos, ferrovias, rodovias, áreas de
exploração de petróleo e distribuidoras de energia. O governo sairá em “road
show” para oferecê-los em Londres, na Índia, Japão, China, Espanha, Estados
Unidos. R$ 30 bilhões estarão disponíveis para financiamento: o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai entrar com R$ 18 bilhões e o
FI-FGTS, canal de infraestrutura do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) entrará com R$ 12 bilhões. Tudo vai dar certo, conclui o governo,
afinal, as empresas só terão que injetar 20% em recursos próprios e pegar o
resto emprestado do BNDES a 7,5% ao ano.
Confiante, o presidente Temer declarou que o objetivo
do programa é gerar emprego por meio dos investimentos feitos pela iniciativa
privada, ou seja, a privataria é em beneficio dos trabalhadores.
Aguardemos. Confiança e realidade teimam em não
caminharem juntas.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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