Semana de 14 a 20 de novembro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Há duas semanas escrevemos sobre a queda da
taxa Selic. Agora quem caiu foi o mundo das ilusões construído pelo governo na
tentativa de enganar os agentes econômicos. O fato está consumado. Diante da
queda é preciso encontrar uma desculpa, um culpado, um bode expiatório. Claro
que sempre está à mão “a herança maldita” lembrada com insistência pelo
presidente Temer, esquecendo que ele próprio e seu partido foram
corresponsáveis por ela.
Mas, há outras alternativas.
Internacionalmente temos a eleição do presidente Trump nos EUA. O investimento
externo está em compasso de espera, o dólar pode continuar a valorizar-se, os
juros podem parar de cair, o comércio mundial pode desacelerar. Internamente
temos mais alguns elementos salvadores. A lava-jato resolveu investir contra o
PMDB na figura de seu grande líder Cabral. (Não aquele que se desviou do
caminho das Índias e descobriu o Brasil, mas um outro que desviou R$ 224
milhões dos cofres do RJ encaminhando-os para o seu bolso). O próprio
ministério contribui para a desestabilização. O poderoso ministro Geddel Vieira
Lima, na defesa de interesses pessoais, intrometeu-se em áreas fora da sua
competência provocando a demissão do ministro da Cultura. O pior é que o
demitido não ficou calado e saiu atirando, criando mais um foco de
desestabilização para a mal falada equipe governante.
Se tudo isto não bastasse, os dados
econômicos continuam tornando cada vez mais claro que a tal “recuperação” não
começou. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE aponta um recuo de 0,5% no
terceiro trimestre, em relação ao segundo. Na visão do Instituto, alguma
recuperação só é esperada para o segundo semestre de 2017. No setor imobiliário
a crise continua. O prejuízo consolidado das incorporadoras, no terceiro
trimestre, cresceu 10 vezes, em relação ao segundo, atingindo R$ 2,099 bilhões.
A receita líquida teve uma queda de 40%. Como consequência, o consumo de
cimento também caiu desanimando os produtores que, não esperam recuperação nem
no próximo ano, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). A
ociosidade das fábricas instaladas no país atinge os 50%. Desanimado o
presidente do SNIC declarou: “Continuamos sem enxergar o fundo do poço”, pois,
diferentemente de certos economistas, ele sabe que “É preciso que a população
volte a ter emprego e renda para ter confiança na aquisição de imóveis”.
O reconhecimento oficial das dificuldades da
recuperação foi reforçado com a divulgação, pelo Banco Central (BC), dos dados
que mostram que a retomada da atividade será mais lenta que o previsto. O
Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,78% no terceiro
trimestre, encerrado em setembro, em relação ao segundo, que já havia caído
0,4%. Este indicador é considerado como uma estimativa confiável do PIB,
anunciando, portanto, o que vem por aí.
A difícil situação é agravada ainda pelo
câmbio e os juros elevados. Segundo Carlos Antônio Rocca, diretor do Centro de
Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Cemec), em 12 meses,
até julho deste ano, 54,9% das empresas gerou um caixa inferior às despesas
financeiras.
Preocupado com a situação e com a alta do
dólar o BC entrou no mercado para controlar a “volatilidade” do câmbio,
esquecendo que uma das pernas do tripé macroeconômico que ele diz defender, é o
cambio flutuante. Aliás, o tal tripé só existe em palavras. Já há algum tempo
que continuamos com o “saci macroeconômico”, pois a perna que resta é o
controle da inflação uma vez que a outra, a do superávit primário, já foi
substituída pelo déficit.
Enquanto isso, os comentaristas econômicos
e a “equipe dos pesadelos” do governo são forçados a reconhecer que “a
confiança não foi suficiente para tirar o país da recessão”. A estimativa
oficial para o crescimento do PIB, em 2017, foi reduzida de 1,7% para 1%, ou
menos.
Fazemos nossas as palavras de lamentação da
jornalista do Valor Econômico Claudia Safattle “É uma ré e tanto”.
Para o governo e os economistas oficiais, o
mundo caiu. Para nós, apenas confirmam-se as previsões.
Afinal!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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