Semana de 21 a 27 de novembro de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
A pressão sobre o governo Temer continua. Os
escândalos políticos proliferam numa imensa rapidez. Caiu o sexto ministro de
um governo que tem apenas 6 meses. O desgaste começou quando Geddel Vieira
Lima, da secretaria do Governo foi acusado de tráfico de influência pelo
ministro da Cultura, Marcelo Calero, que acabou se demitindo por causa do
ocorrido. Calero afirma que Geddel o pressionou para liberar uma obra em
Salvador, contrariando uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Enquanto o escândalo ganhava corpo, o presidente
optou, assim como fez com Romero Jucá, em proteger o acusado, que já tem vasta
ficha corrida. A demissão, tardia, só veio sete dias após a divulgação do
escândalo.
Em desespero, ao dar posse ao novo ministro da
Cultura, Roberto Freire, Michel Temer disse que o governo, com a chegada do
novo membro “... vai ganhar céu azul, vai ganhar velocidade de cruzeiro e vai
salvar o Brasil”. Mas, à sombra do escândalo La Vue, o governo teve que driblar
outro. Em pleno domingo e ao lado dos presidentes da Câmara dos Deputados,
Rodrigo Maia, e do Senado, Renan Calheiros, anunciou um pacto com o Congresso
contra a anistia ao caixa 2. O Congresso, durante a semana, costurava, com a conivência
do governo, a inclusão da anistia ao Caixa 2 entre as 10 medidas de combate à
corrupção propostas pelo Ministério Público.
As dificuldades que o governo enfrenta, expõe sua
fragilidade. O presidente assumiu com baixíssima popularidade e já foi obrigado
a desdizer várias declarações feitas à imprensa. Temer, assim como Dilma, faz
as mais sujas negociatas para governar, ao lidar com Ministérios e Congresso
altamente corrompidos. E o pior está por vir. O governo brasileiro está
acovardado diante da iminente delação da Odebrecht. O fato é que os últimos
acontecimentos jogam por terra a ideia simplista de que a mudança de governo
produziria automaticamente o paraíso.
E, na economia, apesar de ter nomeado a “equipe dos
sonhos”, acontecem as mais retumbantes decepções. Finalmente, esta semana, o
Ministério da Fazenda assumiu que em 2016, a queda do PIB será de 3,5% e não de
3%, como havia anunciado. Há três meses, a equipe havia aumentado a previsão de
alta do PIB de 1,2% para 1,6%. Hoje, esta alta foi reduzida para 1%. Crédito
mais caro, confiança baixa (e não estava alta?) por causa da questão fiscal e
até a eleição de Donald Trump foram os argumentos usados pela Fazenda para
justificar as revisões.
Novos dados expõem a piora da economia. A Serasa
Experian registrou recorde de CNPJs negativados em setembro. 4,6 milhões de
empresas encerraram o terceiro trimestre inscritas na Serasa. 93,5% são de
micro e pequenas empresas. Os pedidos de recuperação judicial não param de
crescer. Entre as grandes companhias, cresceram 11%, entre as médias subiram
30% e, entre micro e pequenas, aumentaram 91,5%.
Os balanços das empresas não confirmam a retomada da
economia. De julho a setembro, a receita líquida de 278 empresas de capital
aberto caiu 3% comparado ao mesmo período de 2015. E a indústria voltou a
demitir, em outubro. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged) o setor formal cortou 74.748 vagas. Os setores que mais demitiram
foram: construção civil (-33.517 postos), serviços (-30.316 postos) e
agricultura (-12.508 postos). O ritmo de eliminação de postos de trabalho
acelerou em todo o país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) Contínua, referente ao segundo trimestre. A ocupação no Nordeste recuou
6,4%, entre julho e setembro.
O cenário é desalentador e o presidente, esquecendo
o que disse antes, declarou: “Precisamos estancar a ideia de que bastou mudar o
governo que tudo se transformou em um céu azul e claro. As coisas demandam
tempo”.
Enquanto os ministros do governo Temer caem, um a
um, a economia real dá as mais severas lições à nova equipe econômica, pondo
por terra toda a base teórica que a alimenta.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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