Semana de 30 de janeiro a 05 de fevereiro
de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Os acontecimentos políticos atropelaram a
economia. Continuamos a assistir o assalto do PMDB ao poder, em aliança com o
PSDB. Já não há nenhuma vergonha. No congresso foi estabelecida a paz com
Rodrigo Maia (DEM) na presidência da Câmara e Eunício Oliveira (PMDB) na
presidência do Senado, coadjuvado pelo corrupto cassado Cunha Lima (PSDB), na
vice. Um novo ministro para o STF também já foi indicado: Alexandre de Moraes
(PSDB), antigo ministro da justiça. São todos íntimos colaboradores do
presidente Temer, que continuou na ofensiva. Contrariando o que prometeu, criou
mais dois ministérios: o da Secretaria Geral, entregue ao Moreira Franco,
ameaçado pela Lava-jato, e agora blindado com o foro privilegiado, atitude
condenada no caso da nomeação de Lula, no governo Dilma. O outro ministério
criado foi o dos Direitos Humanos, doado ao PSDB, com a jurista Luislinda
Valois. A indicação do Moreira Franco para ministro já está provocando várias
ações de impugnação na Justiça. A situação política fica, nessas circunstâncias,
muito longe de qualquer estabilidade. Se a Lava-jato não for enterrada corremos
o risco de ficar, de uma hora para outra, sem o presidente da República e sem
os presidentes das duas casas legislativas.
O cenário político roubou as atenções e as
notícias econômicas ficaram em segundo plano. Passaram despercebidos certos
aspectos do déficit fiscal primário de 2016. Foi o maior rombo da história:
R$154,255 bilhões. E o Henrique Meirelles teve o descaramento de contar
vantagem, pois ficou abaixo dos R$170,5 bilhões que eles haviam previsto. Claro
que a culpa foi colocada na “herança maldita” e no “rombo da previdência”.
Esconderam que houve um aumento real dos gastos que cresceram 11,2%, comparados
com 2015. O austero governo Temer aumentou as despesas em relação ao PIB e a
taxa atingiu o valor mais elevado da história.
Apesar de toda a gastança a situação da
economia não se apresentou promissora.
Nos bastidores continua a pressão para
fazer crer que a recuperação já começou. O desespero aumenta na grande imprensa
capitaneada pela Globo, mas se reflete até em órgãos de alguma credibilidade. A
teoria das “expectativas” continua em voga e os mais realistas lamentam
timidamente que elas não conseguem influenciar a realidade. Alguns indicadores
melhoraram, apesar de continuarem no campo negativo. É o caso do Índice de
Confiança Empresarial (ICE) e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), ambos
calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas
(Ibre-FGV). No entanto os dados da economia não são animadores. O licenciamento
de veículos (dados da Fenabrave) recuou 3,2%, em janeiro, sobre dezembro,
segundo cálculos da MCM Consultores. As vendas de veículos, em janeiro, foram
as mais baixas dos últimos 11 anos. Em relação a 2016 houve uma queda de 5,18%.
O setor produtor de veículos de carga trabalhou com 75% de ociosidade e o de
carros com 50%. Segundo a consultoria Markitt, no setor industrial, o Índice de
Gerentes de Compras (PMI) atingiu o menor nível em sete meses.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP)
apurou que o movimento das lojas na cidade, em janeiro, comparado a 2016, caiu
3,8%, nas compras a prazo, e 6,2% nas compras à vista. Para a entidade, o
primeiro trimestre será de retração. Para Aloísio Campelo, superintendente de
estatísticas públicas do Ibre-FGV não é possível afirmar que a economia já saiu
da recessão.
Preocupado, o presidente da Ford para a
América do Sul, Rogelio Golfarb, declarou: “É preciso olhar os números friamente
e tirar um pouco das ilusões provocadas pela bolha do fim do ano”.
Concluindo, as notícias da semana nos
permitem afirmar que nem de longe a situação política estabilizou-se e a
economia continua no fundo do poço. O ano promete ser muito rico em acontecimentos.
Quem viver verá.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Nenhum comentário:
Postar um comentário