Semana de 06 a 12 de fevereiro de 2017
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Enquanto assistimos, estupefatos, as manobras do
governo e do Congresso Nacional, capitaneando a indicação de Alexandre de
Moraes como Ministro do Supremo Tribunal Federal e blindando, com status de
ministro, Moreira Franco, citadíssimo nas apurações da Operação Lava Jato,
continuamos à espera de uma reação da nossa economia. Entretanto, poucas são as
boas novas trazidas pela conjuntura econômica.
A queda da inflação e a redução dos juros deixaram
os empresários e consumidores confiantes no início do ano. O Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) apurou melhora no
Índice de Confiança Empresarial (ICE) que agrega os setores de serviços,
indústria, construção civil e comércio que subiu para 82,3 entre dezembro e
janeiro, alta de 3,8 pontos. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu
de 73,1 pontos para 79,3 pontos no mesmo período. Apesar disso, ambos os
índices continuam no campo negativo.
Mas, os poucos resultados divulgados para janeiro
não evidenciam o esperado encontro entre a melhora da confiança e a recuperação
da atividade econômica. Embora tenha ocorrido uma melhora do Nível de
Utilização da Capacidade Instalada apurado pela FGV, que aumentou de 72,9% para
74,6%, em janeiro, a alta da produção industrial de 2,3%, observada em
dezembro, não deve se repetir no começo do ano, segundo os analistas.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria
Têxtil e de Confecção, Fernando Pimentel, disse que os resultados de janeiro
para o setor são “contraditórios”. As vendas do Natal não foram boas e a
produção do setor têxtil e de confecção certamente crescerá muito pouco no
primeiro trimestre em relação a igual período de 2016.
O movimento no comércio paulista, segundo a
Associação Comercial de São Paulo, caiu 5% em janeiro confrontado a janeiro de
2016.
Já os pedidos de recuperação judicial caíram 43,4%
em janeiro em comparação com dezembro. Este, embora pareça um dado animador,
reforça a tese dos analistas de que as empresas estão apenas adiando o pedido
em virtude do corte recente da taxa de juros.
Mas, é no setor automobilístico onde reside toda a
preocupação. O licenciamento de veículos (automóveis, comerciais leves,
motocicletas, caminhões e ônibus) apurado pela Fenabrave, caiu 3,2% em janeiro,
comparado a dezembro.
A indústria automobilística produziu, em janeiro,
174 mil veículos, voltando aos níveis de agosto, setembro e outubro de 2016. E
as vendas de janeiro representaram uma queda de 5,2%, comparadas a janeiro de
2016. O número de trabalhadores afastados no setor passou de 7,4 mil em
dezembro, para 10,3 mil em janeiro. Do total de 104,2 mil trabalhadores, 1,6
mil estão em “layoff” e outros 8,6 mil estão no Programa Seguro Desemprego.
Houve também queda de 33,3% na venda de caminhões,
comparado a janeiro de 2016. Este foi o pior janeiro para o setor desde 1997.
Com a quebra no ritmo de vendas, a Ford comunicou
que dará um período de férias coletivas e de folgas na fábrica de São Bernardo
do Campo em São Paulo, por 26 dias após o Carnaval. A General Motors, que já
havia anunciado a parada neste período, na fábrica de São José dos Campos,
anunciou folga por um mês na fábrica de São Caetano do Sul também em São Paulo.
A decisão da Volkswagen é a mesma.
Os fornecedores da indústria, por sua vez, reclamam
que não há novas encomendas, um sinal de que nos próximos meses, a produção
deverá voltar aos níveis de outubro do ano passado.
Os números não mentem. A melhoria da confiança foi
registrada, mas confiança e realidade continuam separadas por uma distância
abissal.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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