Semana de 13 a 19 de março de 2017
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, ainda vivemos a ressaca dos péssimos
números do PIB do ano passado. Portanto, não há grandes novidades em termos de
resultados da conjuntura econômica. Na verdade, a equipe econômica está à
espera dos dados do primeiro trimestre na torcida fervorosa para estes sejam
positivos.
A pasta do Planejamento estimou que o saque de
contas inativas e as mudanças no acesso ao Programa Minha Casa, Minha Vida,
contribuirão com 0,67 pontos percentuais para o crescimento econômico de 2017.
Só o saque das contas inativas, segundo o governo, colaborará com 0,48%, mas a
Serasa Experian calcula que, se todo o dinheiro for gasto em consumo, a
contribuição para o PIB ficará entre 0,2 e 0,3 ponto percentual, este ano. Em
relação ao crescimento anual, o governo é muito mais otimista do que a maioria das
instituições que realizam projeções. A estimativa oficial é de expansão do PIB
de 1,6%. Mas, segundo o FMI, em 2017, cresceremos apenas 0,2%. A previsão
anterior do órgão era de 0,5%.
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, continua a espalhar a crença de que as reformas provocarão
automaticamente a retomada do crescimento, e tenta a todo custo, convencer-nos
de que a Reforma da Previdência deve ser aprovada da forma como foi proposta. O
ministro anda criticando as instituições que provaram a inexistência de um
déficit na Previdência. Mas não pôde evitar que em 15 de março, acontecessem
vários protestos contra a Reforma. A União Geral dos Trabalhadores (UGT), a
Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras
do Brasil (CTB), a Força Sindical, a Nova Central Sindical de Trabalhadores
(NCST) e a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), protestaram contra as
reformas do governo Temer em 23 capitais e grandes cidades.
No exterior, o ministro da Fazenda disse que as
chances de aprovação das reformas aumentam e mesmo potenciais candidatos à
presidência da República nas próximas eleições, já se declararam “reformistas”.
Aproveitou para citar João Dória (PSDB) (que não está definido como candidato)
e Jair Bolsonaro (PSC), que já declarou ser contra a Reforma da Previdência.
O governo continua se esforçando para gerar
“credibilidade” e aumentar sua popularidade. Mas seus esforços têm sido em vão.
Ainda mais diante da divulgação da “lista de Janot”. O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, publicou as recomendações derivadas da delação da
Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato. Foram 83 pedidos de abertura de
inquérito contra políticos com foro privilegiado e 211 declínios de competência
(sugestão de transferência dos fatos para outras instâncias responsáveis por
instaurar as investigações). Cinco ministros do governo do presidente Michel
Temer foram citados nas delações: Moreira Franco (Secretaria Geral), Eliseu
Padilha (Casa Civil), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Gilberto Kassab
(Comunicações) e Bruno Araújo (Cidades). E para nos envergonhar ainda mais, a
lista inclui ainda os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Outros como os senadores Romero Jucá (PMDB-RR),
Renan Calheiros (PMDB-AL), Edison Lobão (PMDB-MA), Aécio Neves (PSDB-MG) e José
Serra (PSDB-SP), também constam.
Uma estatística recente que animou o governo e
serviu para tentar amenizar os efeitos da “lista de Janot”, foi a criação de
35.612 empregos com carteira assinada no Brasil, em fevereiro. O dado do Caged
só deveria ser publicado a partir do dia 20 de cada mês na internet pelo
Ministério do Trabalho, mas, propositadamente, foi antecipado e divulgado pelo
próprio presidente da República. Fevereiro interrompeu uma sequência de 22
meses de dados negativos em relação à criação de empregos formais, dizia ele.
Mas, o que o presidente omitiu, é que, excluindo a sazonalidade, o resultado
volta ao campo negativo com fechamento de 25 mil vagas formais.
E o tormento de Temer não acabou. Para fechar a
semana, eis que surge a Operação Carne Fraca da Polícia Federal. A Polícia não
detectou fraudes no açougue Carne de Vaca do seu Biu, nem na carne do seu Zé lá
na Feira de Oitizeiro. Gravações telefônicas apontaram que vários grandes
frigoríficos do país vendiam carne vencida, tanto no mercado interno, quanto no
externo, com a conivência de fiscais agropecuários. Cerca de 30 frigoríficos
estão sob investigação, entre os quais as maiores empresas do setor no Brasil:
a BRF Brasil (Sadia e Perdigão) e a JBS (da Friboi, Seara, Swift, etc.).
O governo está tentando apagar o incêndio. Minimizou
os problemas levantados e ofereceu um churrasco a 40 embaixadores de países
importadores de carne brasileira em uma churrascaria de Brasília conhecida por
trabalhar com carne importada.
A carne é boa, mas é fraca!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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