Semana de 20 a 26 de março de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
São poucas as notícias sobre a economia
onde as coisas continuam a não andar bem. O governo, que estimava um
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,6%, para este ano, número que
consta na Lei Orçamentária Anual (LOA), enviada ao Congresso, agora baixou sua
previsão para 0,5%, quase igual à apurada pelo Boletim Focus do Banco Central
(BC).
O ministro da Fazenda, além disso,
descobriu um novo rombo no orçamento de mais R$58,2 bilhões, além dos R$139
bilhões já previstos para o déficit primário. O ministro Meirelles agora volta
a ameaçar com a elevação dos impostos, pois um contingenciamento de mais este
valor poderia paralisar o estado e prejudicar os leves sinais de recuperação
que começam a ser observados.
Mas, enquanto as despesas são cortadas de
um lado, o ministro Jungmann, como um bom agente comercial, recorre ao BNDES
para ampliar os financiamentos à indústria bélica, eufemisticamente renomeada
de indústria de defesa. Quer que o banco, que restringe os financiamentos para
a atividade econômica, abra os cofres para os fabricantes de armas exportarem
seus produtos.
A surpreendente novidade da semana foi a
operação “Carne Fraca”. Mais uma vez a Polícia Federal virou manchete e com
grande repercussão econômica. A descoberta de esquemas de fraude na produção e
comercialização de produtos de carne, pelos grandes frigoríficos, teve impacto
interno e nas exportações. Críticas têm sido levantadas em relação ao
espetáculo midiático que envolveu a divulgação do fato, mas ninguém pode negar
que as irregularidades existem e que, na origem delas, está a corrupção e as
indicações políticas para ocupantes de cargos federais nos estados. Agora o
governo é obrigado a correr para reverter os prejuízos causados pelos bloqueios
internacionais aos produtos de carne brasileiros. Estima-se o prejuízo em
bilhões de dólares.
Além desta dificuldade, o governo Temer tem
de conseguir segurar sua bancada de apoio no Congresso para aprovar as
“reformas”.
Enquanto todos se preocupavam com a reforma
da previdência, sorrateira e rapidamente o governo conseguiu aprovar a
terceirização irrestrita. Como sempre em defesa dos trabalhadores e do emprego.
Agora todas as atividades públicas ou privadas podem ser terceirizadas. Já há
quem tenha proposto a terceirização da presidência da República.
As centrais sindicais dos trabalhadores já
se manifestaram contrárias à nova lei. A vitória do governo, no entanto, foi
apertada: 231 a 188 votos. Além disso, 16,5% dos deputados faltaram, dos quais
90% eram da base do governo. Mas, podem-se identificar os inimigos dos
trabalhadores. Só as bancadas do PT, PC do B, Psol e Rede votaram em bloco
contra o projeto. 70,2% da bancada do PP foi favorável, 68,1% do PSDB, 66,5% do
PRB e 64,9% do PSD tiveram a mesma posição. Os trabalhadores terão a
oportunidade de lhes dar o troco nas próximas eleições.
Na política, o grande temor continua a ser
provocado pela “lista de Janot” que já inclui um terço dos ministros de Temer,
além de vários governadores, deputados e senadores. A tensão aumenta com a
aproximação da decisão do ministro Fachin do STF. Ainda no campo da política os
famosos grupos das redes sociais NasRuas, MBL e Vem pra Rua sofreram o maior
revés com o fracasso das manifestações que convocaram de apoio à Lava Jato.
Desmoralizados, tendem a voltar à condição de grupelhos manipulados pelas
empresas, que não enganam mais ninguém.
Para encerrar vale mencionar as declarações
do CEO do Citigroup Michael Corbat ao jornal Valor Econômico, após uma
entrevista com o presidente Temer. Corbat referiu uma conversa mantida com o
ministro Meirelles, em outubro, quando haviam concordado com a importância de aprovar
um teto para os gastos, atacar a inflação, baixar os juros e implementar as
reformas da previdência e trabalhista. Corbat parabenizou o presidente pelo seu
empenho no cumprimento do plano de estabilização e expressou a satisfação dos
“investidores” com os rumos do país afirmando que eles “estão muito animados
para se comprometerem novamente”.
Este é o país do governo Temer.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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