Semana de 09 a 15 de
dezembro de 2013
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Na semana passada voltamos a falar do pibinho da Dilma. Porém,
a situação brasileira não é nada boa desde o fim de 2008, quando a crise
internacional (a marolinha) chegou ao Brasil ainda no governo Lula. O colapso
só foi realmente sentido no ano seguinte, quando a economia decresceu 0,3% em
relação ao ano anterior. Neste mesmo ano foi criado o Programa de Sustentação do
Investimento (PSI), que visava o combate à crise por meio da facilitação das
exportações, da compra de bens de capital e da inovação produtiva. Sua
operacionalização foi feita pelo BNDES, que financiou (e financia até hoje) as
empresas por meio de créditos subvencionados.
Em 2010, ano de eleição e de reação à crise econômica,
houve um soluço e o PIB do país cresceu 7,5%. No ano seguinte, num patamar mais
realista, o crescimento registrado caiu para 2,7%. Em 2012, como vimos na
análise passada, o crescimento revisado foi de 1%. A projeção é de crescimento
de 2,3% para 2013 e 2,01% para 2014.
Para alguns analistas, os motivos para a desaceleração da
atividade produtiva no ano que vem são as desconfianças do empresariado em
relação ao cenário econômico internacional. Na China, por exemplo, empresas
como Hewlett-Packard, Johnson & Johnson e IBM estão demitindo trabalhadores
e reduzindo suas operações, dada a desaceleração econômica do país e o elevado custo
com mão de obra.
Além disto, e para piorar a situação do Brasil, está a
promessa de redução da verba destinada ao PSI em sua renovação para o ano vem.
Em 2013, o valor total disponibilizado pelo BNDES para o programa chegará a R$
100 bilhões, dos quais está prevista uma retirada total por parte dos
empresários, até o fim do ano, de R$ 80 bi. Para 2014, por sua vez, a previsão
é de que ocorra um corte de R$ 25 bi neste orçamento, sendo ofertado “apenas”
R$ 75 bi aos empresários do setor industrial.
Para completar, a renovação do PSI ocorrerá mediante a
elevação dos juros cobrados pela instituição financiadora. Por exemplo, a taxa
cobrada no financiamento da compra de ônibus e caminhões irá subir de 4% para
6%. Já a taxa para as linhas de inovação e de aquisição de máquinas e
equipamentos para pequenas e médias empresas, sairá dos atuais 3,5% para 4,5%. Dentre
os fatores que estão por trás desta elevação, o custo mais elevado de
capitalização do BNDES é apontado como o mais importante. A mais importante das
fontes de recursos do banco é o Tesouro Nacional, que capta dinheiro por meio
da emissão de títulos, alguns atrelados à taxa básica de juros. Quando foi
criado o PSI, a taxa Selic estava em 7,25% ao ano. Atualmente, depois do ciclo
de alta causado pelo complexo de independência adolescente do Banco Central do
Brasil, a taxa está em 10%.
Isto quer dizer que a diferença entre o que o governo
paga ao mercado financeiro, por meio do Tesouro, e o que ele recebe dos
empresários industriais, por meio do BNDES, chega a 6,5%. Na realidade não é o
governo que paga, somos nós, que pagamos com os nossos impostos. Não é à toa
que cerca de 42% do orçamento estatal, ou seja, R$ 900 bilhões, são destinados,
única, exclusiva e religiosamente, ao pagamento dos juros e da dívida que nunca
é paga e continua crescendo.
Como se não bastasse, existe ainda um temor generalizado
e impregnado em todos os países emergentes: a retirada dos estímulos monetários
dados pelo Federal Reserve (Fed), Banco Central dos EUA. O programa de compra
(US$ 85 bi) de títulos podres está com os dias contados. Tanto que já está
sendo testado um novo modelo de remuneração do setor financeiro: o Fed. pagaria
0,25% de juros ao ano para que o dinheiro bombeado para os cofres dos bancos
fique parado agora nos cofres da instituição federal. O objetivo é “enxugar” os
US$ 2,5 trilhões injetados pelo referido programa, ao longo dos anos.
O problema é que as diversas instituições financeiras
internacionais devem repatriar boa parte dos seus capitais ou
correr para a segurança da economia americana. Como resultado, teremos uma
provável fuga de capitais, seguida pela desvalorização do real frente ao dólar.
Isto nos remete novamente ao saci-macroeconômico: com o dólar valorizado as
importações ficam mais caras, o que, segundo a teoria oficial, elevaria os
preços dos produtos internos. Como resultado, temos a inflação. O remédio para
este problema, todos sabem, é a elevação da Selic. Mas, com a elevação da taxa
básica de juros há o aumento do custo do financiamento, que por sua vez retrai
a atividade econômica, aumenta a dívida e o pagamento de juros.
Este é o cenário para 2014.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário