Semana de 23 de fevereiro a 01 de março de 2015
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Diz o povo que não há
nada tão ruim que não possa piorar. Esta afirmação retrata muito bem a situação
da nossa economia hoje. De acordo com a teoria que serve de fundamento às
nossas análises, deveríamos estar na fase de depressão do ciclo econômico, ou
seja, no fundo do poço. Temos de corrigir nossa avaliação para pior. A economia
continuará a cair ainda com mais violência pelo menos durante todo o ano de
2015. Portanto, ainda não chegamos ao fundo do poço.
As notícias confirmam
nosso prognóstico. As montadoras continuam com os cortes na produção. O déficit
na balança comercial da indústria de transformação, em janeiro, foi de US$ 63,5
bilhões. A queda da arrecadação de impostos, também em janeiro, foi de 5,4%,
primeiro mês da administração Levy, em relação ao mesmo mês do ano anterior. A
greve dos caminhoneiros, bloqueando as estradas, está provocando a paralisação
de várias atividades. O escândalo da Petrobrás está provocando uma reação em
cadeia e comprometendo várias empresas, como a Sete Brasil, responsável pela
contratação de navios e plataformas com os estaleiros como o Estaleiro Atlântico
Sul (Pernambuco), a Enseada Indústria Naval, o Consórcio Estaleiro Paraguaçu,
etc., que vão paralisando suas atividades. As grandes empreiteiras também se
encontram em situação difícil, como o Grupo Galvão que ameaça paralisar as
obras da BR – 153 (Tocantins-Goiás) por falta de financiamento. A Engevisa
ameaça entrar em ruptura se não encontrar uma saída para o pagamento de uma
multa de R$ 538 milhões que está sendo cobrada pelo Ministério Público Federal.
Diante da passividade dos
bancos públicos, os bancos privados sobem os juros, recompondo os seus
“spreads”. Segundo o Banco Central (BC), os “spreads” no crédito livre chegaram
a 17,5%, em janeiro, maior valor desde 2012. Por sua vez os juros no crédito
rotativo dos cartões de crédito já atingem 334% ao ano e no cheque especial,
208,7% ao ano.
O Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) admite que, se houver
racionamento de energia, o PIB poderá cair de 1% a 2% neste ano.
Enquanto isso, o homem da
tesoura, o ministro Levy, descarrega sua fúria sobre os assalariados mudando as
regras do seguro desemprego, o que afetará 4,8 milhões de trabalhadores,
segundo o Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Econômicos
(Dieese). Alterou também o valor das pensões por morte penalizando as viúvas e
os órfãos, certamente os grandes vilões da catástrofe nacional. Sobrou também
para os empresários. Além da elevação dos juros dos empréstimos subsidiados do
BNDES e do BB, elevou as alíquotas das contribuições previdenciárias das
empresas, de 1% para 2,5% e de 2% para 4,5%. E ainda ironizou: “Essa
brincadeira (desoneração da folha) nos custa R$ 25 bilhões por ano”.
Os protestos das centrais
sindicais já provocou uma reunião com três ministros do governo Dilma
(Previdência, Planejamento e Trabalho) que terminou sem qualquer acordo e o
impasse poderá levar a novos confrontos.
Parece que chegou ao fim a
política de agradar a gregos e troianos, a burgueses e proletário, feita pelos
governos do PT. Nos bons tempos de elevados preços das commodities e
exportações recordes, petróleo abundante, superávit na balança comercial e
afluxo de capitais financeiros, foi possível favorecer os empresários com juros
subsidiados, financiamento abundante ao consumo, desonerações e renúncias
fiscais, favorecer aos trabalhadores com os programas sociais e garantir os
elevados juros ao capital financeiro, tudo isto a custa dos cofres do Estado. Parece
que o ex-ministro Mantega tinha a esperança de que o ciclo mundial passasse à
fase de recuperação, o que lhe permitiria fazer uma mudança de rumo, depois da
vitória nas eleições. Calculou mal. E a presidente Dilma, forçada a conduzir o
país ao fundo do poço, é que ficou com a bomba nas mãos, enfeitada com os ramos
da roubalheira que os seus companheiros lhe presentearam, com ou sem o seu
consentimento.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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