Semana de 28 de fevereiro a
06 de março de 2015
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Enquanto o mundo continua no marasmo, o cenário
brasileiro não poderia estar mais agitado. O escândalo do Petrobras ganhou um
novo ato quando o ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki divulgou
a tão aguardada lista que autoriza a abertura de inquérito contra 47 políticos
provavelmente envolvidos na Operação Lava Jato. São 22 deputados federais, 12
senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora de seis partidos diferentes (PMDB,
PT, PP, SD, PSDB e PTB). A alta cúpula política está representada na lista
pelos nomes de Renan Calheiros (PMDB-AL), atual presidente do Senado e Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), atual presidente da Câmara. Nós, paraibanos, estamos (mal)
representados por Aguinaldo (Velloso Borges) Ribeiro, deputado federal filiado
ao Partido Progressista.
Enquanto a classe política nos envergonha, não há
boas novas na economia.
Após cair por dois meses seguidos, a produção
industrial cresceu 2% em janeiro quando comparada a dezembro, segundo o IBGE. O
setor de bens de capital cresceu 9,1% e o de bens intermediários, 0,7%. Embora esta
pareça ser uma notícia boa, a alta não foi suficiente para recuperar a queda de
3,2% verificada em dezembro.
Maus cenários continuam a ser desenhados para a
indústria. Levantamento feito pelo Valor Econômico, junto a 21 grandes empresas
não financeiras listadas na Bolsa de Valores, apurou que 10 planejam diminuir
os investimentos em até dois dígitos, 4 pretendem manter o nível atual e só 7
planejam aumentar os investimentos.
No setor automobilístico, a crise só se agrava. As montadoras
de caminhões registraram um início de ano bastante fraco. Nos meses de janeiro
e fevereiro apenas 12,8 mil caminhões foram licenciados no país. É o pior
primeiro bimestre registrado num período de seis anos.
E as demissões na indústria automobilística,
incluindo montadoras de veículos e tratores agrícolas, segundo a Anfavea,
aumentaram significativamente. O registro de pessoas empregadas nesta indústria,
ao término de fevereiro, foi de 142,3 mil. Este é o menor número desde maio de
2011, quando o total empregado era de 142,2 mil trabalhadores. O aumento dos
estoques, o lançamento de programas de demissões voluntárias, a manutenção dos layoffs e de férias coletivas em
diversas unidades, tendem a agravar o quadro relativo ao emprego neste setor.
Segue-se a estes fatos, uma boa notícia apenas para
o mercado financeiro. O Copom aumentou, em sua última reunião, a taxa Selic, de
12,25%, para 12,75%. Este é o maior nível da taxa em 6 anos. O “mercado”
ansiosamente espera por um novo aumento na próxima reunião da instituição,
embora o comunicado não tenha apresentado viés de alta. Enquanto empresários e
consumidores recebem este novo “presente”, a inflação não dá sinais de
arrefecimento e a economia brasileira não dá sinais de recuperação.
Mesmo assim, a austeridade está sendo usada como
remédio para os nossos problemas. O ajuste fiscal promovido por Levy, que não
encontra unanimidade dentro do próprio governo sofreu um golpe esta semana. O
presidente do Senado Renan Calheiros, devolveu a Medida Provisória 669, que tem
o objetivo de onerar a folha de pagamento das empresas. Cinicamente, o senador
afirmou que “aumentar impostos por meio de medida provisória, poucos meses após
ter concedido uma vantagem fiscal que se dizia definitiva, sem a mínima
discussão com o Congresso, é um péssimo sinal para quem deseja vender a imagem
de normalidade institucional e econômica do Brasil”. Embora todos saibam que a
atitude do senador foi uma retaliação ao governo por ter seu nome citado na
lista da Operação Lava Jato, Renan declarou que, se pudesse, teria rejeitado as
MPs 664 e 665, que foram publicadas no recesso parlamentar e que restringiram direitos
trabalhistas. A saída do governo foi publicar um projeto de lei que retoma os
cortes na desoneração.
Enquanto isso, empresários de 40 setores da indústria
se mobilizam junto com os trabalhadores para protestar contra as medidas de ajuste
fiscal. O ato deve acontecer em abril, para não ser confundido com outras
mobilizações contra o governo já agendadas.
Alternativas novas continuam a ser pensadas pela equipe
econômica para aumentar a arrecadação federal. O Ministério da Fazenda estuda tributar
doações e heranças recebidas por pessoas físicas e ainda a taxação de lucros e
dividendos.
De qualquer forma, o governo e o “mercado” tentam
nos convencer de que os maus ventos que sopram por estas bandas, são provocados
pela falta de credibilidade que somente a ação governamental pode resgatar.
Parece que os nossos problemas são causados pelas expectativas ruins. Ou seja,
se estas expectativas se reverterem, tudo estará resolvido. Sugiro então, que
todos nós comecemos a crer a fim de gerar boas expectativas. Com a crença, as
medidas tomadas talvez se tornem de grande ajuda para o setor produtivo e à
sociedade em geral. Quem sabe com isso consigamos desencadear
um novo ciclo de prosperidade?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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