Semana de 13 a 19 de fevereiro de
2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O governo continua a berrar aos quatro
cantos que já ultrapassamos o fundo do poço e que a recuperação já começou. O
ministro Meirelles é o mais otimista e a nossa curta memória ajuda a esquecer
das previsões anteriores feitas por ele. A recuperação já teria começado no
terceiro trimestre do ano passado. Diante do fracasso ele mudou a data para o
quarto trimestre. Novo fracasso e agora ele afirma que já estamos em plena
recuperação.
Mesmo diante da divulgação dos péssimos
resultados do comércio varejista em 2016 o sinistro manteve o seu discurso.
Desta vez vamos fazer alguns registros aqui. Meirelles começou afirmando que os
resultados negativos já eram esperados, mas: “O que foi negativo em 2016 será
positivo em 2017. Famílias e empresas começam um processo de tomada de crédito
para investir, produzir, consumir”. Disse ainda: “estamos crescendo no primeiro
trimestre e mais solidamente positivo ao longo do ano”. E quais foram os dados que
o ministro subestimou?
Conforme a Pesquisa Mensal do Comércio
(PMC), em dezembro, o varejo restrito (sem veículos e materiais de construção)
recuou 2,1%, em relação a novembro. No ano a redução foi de 6,2%, o pior
resultado desde 2003 quando o IBGE começou a divulgar os dados. Outros
analistas têm interpretações diferentes do ministro. Paulo Robilotti,
economista da LCA Consultores, espera uma tímida recuperação apenas no segundo
semestre, opinião compartilhada por Luciano Rostagno, estrategista-chefe para a
América Latina do Banco Mizuho. Os analistas do Bradesco consideram que o
mercado de trabalho continuará enfraquecido até o terceiro trimestre.
Há outros dados que mostram a gravidade da
situação. O setor de serviços fechou 2016 com um recuo de 5%, segundo a
Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), o pior resultado desde 2012. A PMS avalia
que as dificuldades continuarão em 2017. Segundo a Agência Nacional de
Transportes Aquáticos (Antag), também em 2016, a movimentação de cargas nos
portos reduziu-se 1% em relação ao ano anterior. O Monitor do PIB da Fundação
Getúlio Vargas (FGV) mostrou uma queda de 3,6%, em 2016. Considerando que, em
2015, já havia caído 3,8%, juntando-se os dois anos o nível da produção voltou
ao de 2011.
No mercado imobiliário a crise cobra seu
preço. A incorporadora PDG Realty, depois de receber da Receita Federal uma
multa de R$3,629 bilhões, recorrerá a uma recuperação judicial. Só entre julho
e setembro seu prejuízo atingiu R$1,72 bilhão.
No setor de alumínio a Abal não vê melhoras
nem na economia nem no setor, durante o ano de 2017. Em 2016, até setembro, o
consumo de alumínio caiu 9,3%.
Nem no setor financeiro as perspectivas são
melhores. O Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco calculam que, em 2017, a
expansão do crédito ficará próxima de zero. Os lucros destes bancos somados ao
do Santander caíram 18,8%, em 2016.
No campo político o governo continua
acossado pela operação Lava-Jato que agora se volta contra os caciques do PMDB.
Edison Lobão e Jader Barbalho entraram na linha de tiro com a operação Leviatã.
Até Delfim Netto está sendo arrolado com as investigações sobre a hidroelétrica
de Belo Monte (PA) e Angra 3 (RJ). Com o cinismo que o caracteriza o presidente
Temer foi obrigado a fazer um pronunciamento a respeito da nomeação de Moreira
Franco para o cargo de ministro. Citado 34 vezes nas delações premiadas da
Lava-Jato, com o apelido de “Angorá”, o agora ministro estaria sendo blindado
por Temer. Na defensiva, o presidente prometeu demitir qualquer auxiliar que
passar à condição de réu nas investigações afirmando que não quer blindar
ninguém.
Este quadro reflete-se nas pesquisas de
opinião que são divulgadas. Continua a queda na avaliação do presidente e do
governo enquanto sobe a aprovação à possível candidatura de Lula.
As únicas realizações que o governo se
atreve a apresentar como suas são a queda da inflação e dos juros, a melhora
das expectativas e o fato de conseguir aprovar seus projetos no congresso mais
corrupto que o país jamais conheceu. Com exceção do conluio entre os corruptos,
as demais “realizações” nada têm a ver com a ação governamental.
Será que a recuperação já começou?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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