Semana de 20 a 26 de fevereiro de 2017
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Antes de o Brasil parar para as festas
carnavalescas, a movimentação política no país foi intensa. Foi realizada a
sabatina de Alexandre Moraes no Congresso Nacional para a vaga no Supremo Tribunal
Federal; o presidente Temer, contrariando sua própria fala, nomeou um deputado
de seu partido (Osmar Serraglio) para a vaga no Ministério da Justiça; Eliseu
Padilha, ministro-chefe da Casa Civil pediu licença do cargo para tratar da
saúde após seu nome ser citado na Operação Lava Jato pelo advogado José Yunes
como beneficiário de repasse de dinheiro da Odebrecht; José Serra, que queria o
Ministério da Fazenda, se despede do Ministério das Relações Exteriores
alegando problemas de saúde.
Com uma equipe que só lhe dá dor de cabeça, Temer
começa a lidar com insatisfações dos seus “aliados” empresários. Ao desmontar a
política de conteúdo nacional criada por Dilma, reduzindo todos os percentuais
para a produção de óleo e gás, o governo já encontra resistências da indústria
fornecedora de bens e serviços de engenharia. Segundo a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo), o conteúdo local deveria ficar entre 60 e
75% mas o maior patamar fixado foi de 50%. De acordo com Pedro Celestino do
Clube de Engenharia, isto representa “... um retrocesso de 60 anos, que vai
culminar na destruição das empresas instaladas no Brasil...”.
E com o dólar beirando os R$ 3,00 as empresas
exportadoras reclamam da perda da competitividade dos preços de exportação o
que prejudica a indústria de transformação, inviabilizando os embarques.
Já na quarta-feira de fogo, o Copom, embalado pelo
prenúncio do carnaval, baixou a taxa de juros Selic de 13% para 12,25%. A
decisão foi bastante comemorada e as justificativas foram: o baixo crescimento
da economia, o cenário inflacionário e os riscos na economia internacional.
Segundo o Copom, a queda dos juros daqui pra frente dependerá das estimativas
que o Banco Central fará sobre a taxa estrutural ou neutra de juros. Esta taxa
seria aquela que gera o máximo de crescimento, mas com inflação dentro da meta.
Os analistas, para demonstrar sua sapiência, dizem que esta é a taxa ideal, mas
que é um conceito abstrato, algo que não pode ser medido concretamente e
apresentam discordâncias sobre seu valor atual. Na esteira do irreal, a queda
da taxa de juros também foi atribuída às reformas que nem sequer estão em
vigor.
Voltando à realidade, o Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) melhorou a projeção de
crescimento do PIB para o primeiro trimestre, de 0,2%, para 0,3%. Mas, esta
expansão será garantida pelo PIB agropecuário de 5,6%. Segundo o Ibre a
atividade industrial será fraca em janeiro. O Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) discorda e apura o crescimento de 2,1% da produção industrial,
que contribui com 1,4% para a formação do PIB, no final do trimestre. A
recuperação se dará da seguinte forma: 0,3% no primeiro trimestre, 0,4% no
segundo, 0,5% no terceiro e, por fim, 0,6% no quarto trimestre. Se confirmadas,
estas taxas contrastarão com as últimas verificadas cujo melhor resultado foi
-0,3%.
Um bom resultado, segundo a FGV, foi do Índice de
Confiança do Comércio que passou de 78,9 pontos, em janeiro, para 82,5 pontos,
em fevereiro. Mas a prévia do Indicador de Confiança da Indústria caiu de 89
pontos para 87,2 devolvendo parte da tão comemorada alta de 4,3 pontos, de
dezembro para janeiro. É sempre bom lembrar que se o índice está abaixo de 100,
significa pessimismo dos setores.
Mas, fatores como o elevado desemprego, a alta
capacidade ociosa e a inadimplência de empresas e famílias não permitem a
confirmação da recuperação econômica. Esta prudência não é observada pelo
ministro da Fazenda Henrique Meirelles que há algum tempo vem afirmando
categoricamente que a recessão “... foi longa, dura, gerou esse número enorme
de desempregados, mas o Brasil já começou a crescer. É uma recuperação sólida e
é impulsionada por medidas fundamentais.” Ao prometer “períodos prolongados” de
crescimento e “rota de crescimento sustentável de longo prazo”, o ministro foi
longe demais ao afirmar que a nossa economia não sofrerá mais de crises
cíclicas: “Vamos sair do padrão que o Brasil viveu, de tempos em tempos uma
crise...”
Resta lembrar ao digníssimo ministro que este não é
um padrão exclusivo da economia brasileira, mas um padrão da atividade
econômica mundial. Não reconhecer este fato significa desconhecer a própria
história e demonstrar ignorância em economia.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário