Semana de 27 de fevereiro a 05 de
março de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Depois do Carnaval pouco há para comentar.
Tudo parou, menos a loucura dos foliões que procuraram esquecer a dureza da
vida e as frustrações pessoais agravadas pela crise que continua no país. A
grande novidade carnavalesca foi o “FORA TEMER” na folia. As manifestações
ecoaram no meio das batucadas e blocos de tal modo que, nem a Rede Globo
conseguiu esconder.
Embora lentamente, os acontecimentos
continuaram seguindo nas mesmas direções. Na política o temor da Lava-Jato e
das delações premiadas continuou a espalhar-se como fogo de monturo. As
indicações dos novos ministros, Aloysio Nunes para as relações exteriores e
Omar Serraglio para a justiça, em nada contribuíram para melhorar a imagem do
governo. O Aloysio já é investigado pelo STF desde 2015, acusado de lavagem de
dinheiro e falsidade ideológica. O Osmar Serraglio, cupincha de Eduardo Cunha,
tentou de todas as formas impedir a cassação do mandato do parceiro de partido.
O afastamento do ministro Padilha para tratamento de saúde foi providencial.
Envolvido nas delações por receber propina levou no bolo o velho advogado Yunes
conselheiro do presidente. Os dois amigos do presidente trocam acusações. Yunes
(amigo de 50 anos) acusa Padilha (amigo de 30 anos) de tê-lo usado como “mula”
para transferir dinheiro ilícito. Por enquanto, para ganhar tempo, Padilha
renovou sua licença médica à espera da evolução dos acontecimentos.
O presidente Temer, retornando das férias
do Carnaval, bem passadas em uma base militar na Bahia, em um jantar privado no
Planalto, teceu alguns comentários que transpiraram nos jornais. Otimista de
ofício, depois de considerar-se defensor dos programas sociais, definiu o seu
governo como o “governo das reformas” e declarou-se surpreendido com o sucesso
já alcançado afirmando: “a economia deu certo num prazo recorde”. Inflamado
pelo otimismo o presidente prevê para 2017 o crescimento do PIB de 2,8%. Em
seguida passou a vangloriar-se das vitórias já obtidas no congresso, com a
aprovação de 52 propostas enviadas por ele. Aguarda agora a conclusão das
reformas da previdência e da legislação trabalhista. Até a transposição das
águas do Rio São Francisco ele considerou vitória de seu governo.
Lamentavelmente a economia parece não
escutar a voz do presidente. O instituto Brasileiro de Economia (IBGE) divulgou
finalmente o dado oficial sobre o crescimento do PIB para o ano de 2016. A
queda foi de 3,6%, atingindo todos os setores. Na produção industrial a queda
foi de 3,8%, na indústria de transformação, 5,2% e nos investimentos 10,2%.
Considerando-se que em 2015, o PIB já havia caído 3,8%, em dois anos
consecutivos a retração foi de 7,2%. É o pior resultado obtido pela economia
desde 1948. Em alguns setores a situação é trágica e tende a continuar. É o
caso do setor naval que dos seus 82,5 mil trabalhadores já perdeu quase 50 mil
e corre o risco de extinção.
Neste quadro recessivo geral duas notícias
trouxeram algum alento. A elevação dos preços das commodities (ferro, soja,
milho, açúcar, café, algodão) levou a balança comercial a apresentar um saldo
positivo de US$4,5 bilhões, considerado recorde para o mês de fevereiro. A
divulgação da ata do Conselho de Política Monetária (Copom) que justificou a
redução da taxa Selic em 0,75%. Com esta redução a taxa passou para 12,25% ao
ano, ainda a maior do mundo. O Copom justificou a redução devido à
desaceleração da economia e a queda da inflação. Prometeu ainda continuar com
reduções sucessivas por algum tempo podendo até elevar o ritmo da queda. Claro
que condicionou tudo à aprovação das reformas fiscais, da previdência e
trabalhista. Esta ladainha já virou padrão em todas as declarações oficiais e
das entidades patronais.
No cenário internacional o quadro
permaneceu estável com as economias da China, EUA e União Europeia esboçando
uma tímida recuperação e com as tensões políticas aumentando diante das ameaças
do troglodita Trump e do avanço dos partidos de direita na Europa.
Só continua difícil descobrir onde a
economia do presidente Temer “deu certo”.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Nenhum comentário:
Postar um comentário